Empregabilidade e Aperfeiçoamento, Gestão e Qualidade | 3 de novembro de 2017

Mais checklist e menos egocentrismo

Renomado cirurgião Atul Gawande expõe caso de “caos cirúrgico” salvo pela atenção dada à lista de verificação
Mais checklist e menos egocentrismo

Profissionais da área da saúde lidam diariamente com muitas responsabilidades. Fazer um checklist (também chamado de lista de verificação) é reconhecidamente uma solução para lidar com adversidades que surgem de forma inesperada. Como, por exemplo, no caso relatado pelo cirurgião Atul Gawande (foto) e autor do livro The Checklist Manifesto (em português sob o título Checklist – Como Fazer As Coisas Benfeitas, da editora sextante).

As listas de verificação estão disseminadas nas escolas de medicina e de enfermagem, mas com o tempo e ao longo da vida profissional, é de certa forma comum – mas não aceitável – que médicos e demais profissionais relaxem em pontos que “nunca deram problema”. Por isso, o orgulho e a vaidade deveriam ser proibidos de adentrar na mente de qualquer profissional da saúde. E o checklist, pode ser uma boa lembrança de que “do nada, tudo poder dar errado.”

Uma operação que se tornou uma “catástrofe”

Em entrevista para a National Public Radio, de Washington (EUA), o cirurgião conta que estava removendo um tumor da glândula adrenal de um paciente – ao qual ele se refere como Sr. Hagerman -, quando um erro gerou a necessidade de uma série de intervenções para evitar o pior.

Gawande, reconhecido mundialmente, já havia executado esse procedimento dezenas de vezes, porém este caso foi particularmente complicado. O tumor do Sr. Hagerman estava atrás de seu fígado, aninhado firmemente contra um importante vaso sanguíneo conhecido como veia cava. Guwande estava quase terminando a operação quando, de repente, ele cortou o vaso sanguíneo.

” Eu acabei criando um buraco na veia cava, o que fez com que o paciente rapidamente perdesse seu volume de sangue inteiro em seu abdômen”, lembra.

cirurgião ´pegou´ o coração do homem na mão e começou a comprimi-lo para manter o sangue fluindo para o cérebro dele. ” Ele [paciente] perdeu basicamente dez vezes o volume de sangue de seu corpo, mas pudemos lhe dar sangue suficiente para manter a circulação. Apesar das paradas cardíacas, que ocorreram duas vezes, finalmente, conseguimos reparar o ´buraco´ na veia cava. Tiramos o tumor e conseguimos fazer com que ele se recuperasse “, disse Gawande.

Entretanto, habilidade e o poder intelectual não foram os motivos pelo qual o Sr. Hagerman sobreviveu. Gawande diz que o que realmente salvou a vida do paciente foi um plano pré-definido que a equipe cirúrgica havia feito antes de começar a cirurgia. Este plano não era extenso ou até mesmo complicado. Na verdade, era apenas um checklist.

“Quando estávamos lendo a lista de verificação, mencionamos ao anestesista que esse tumor estava contra a veia cava. Por causa disso, o anestesista se preparou para obter mais sangue na sala, caso fosse necessário”, explica.

O caso reforça o cuidado que se deve ter com a segurança do paciente, o conhecimento das peculiaridades de cada enfermo, mas principalmente, da necessidade de nunca acreditar que sua habilidade nata irá resolver tudo.

A matéria da NPR alerta sobre os “preconceitos sutis que levam pessoas muito inteligentes e habilidosas a se tornarem os seus piores inimigos”. E sobre o acidente de avião dos anos 30 que inspirou a obsessão de Gawande com as listas de verificação.

Acesse e ouça a longa entrevista (em inglês) fornecida para a rádio NPR.

Leia também:

Ferramentas de segurança do paciente exigem uma implementação apropriada

VEJA TAMBÉM