Gestão e Qualidade | 14 de outubro de 2024

Liderança Inspiradora na Saúde: o caminho da empatia e da resiliência

Em artigo, o Superintendente Administrativo do Hospital Moinhos de Vento, Evandro Moraes, destaca que estratégia é fundamental, mas a confiança e o caráter do líder são o que mantém as equipes unidas e motivadas a seguir em frente.
Liderança Inspiradora na Saúde o caminho da empatia e da resiliência

A liderança no setor de saúde sempre foi um desafio monumental, dada a complexidade e a sensibilidade do campo. No entanto, em tempos de crises, como a pandemia de COVID-19 ou dos eventos climáticos devastadores das enchentes no Rio Grande do Sul, os líderes precisaram transcender suas funções tradicionais a que estiveram por uma vida toda programados. A liderança inspiradora, com base na empatia, na escuta ativa e na habilidade de delegar, tornou-se um diferencial crítico para o sucesso organizacional e o engajamento de equipes visando alta performance.


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A Empatia e o exemplo como bases da liderança inspiradora

Um líder inspirador na área da saúde não é apenas aquele que dita os comandos ou define estratégias, mas sim aquele que caminha ao lado de sua equipe, compartilhando a visão de futuro e criando um ambiente de colaboração e apoio mútuo. Winston Churchill, um ícone de liderança em tempos de crise e grande artífice da resistência inglesa durante a Segunda Grande Guerra, afirmou: “o sucesso é ir de fracasso em fracasso, sem perder o entusiasmo.” Esta citação exemplifica o papel de líderes que, em momentos de incerteza, mantêm viva a chama da esperança, da persistência e da resiliência. Na saúde, essa liderança é ainda mais crucial, pois é preciso cuidar de quem cuida – os profissionais de saúde que são cada vez mais demandados pelo tempo, exaustão e burnout.


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Durante a pandemia de COVID-19, muitos líderes precisaram adotar um estilo de liderança que equilibrava firmeza no comando e compaixão. O líder que escuta suas equipes e entende suas dores é capaz de engajá-las mais profundamente. Ele cria um ambiente onde os desafios são compartilhados, mas as soluções são coletivas. Mahatma Gandhi, que pregava a liderança pelo exemplo, certa vez disse: “Seja a mudança que você quer ver no mundo.” Líderes que inspiram na saúde sabem que devem ser o exemplo de resiliência, humanidade e esperança, mesmo nas circunstâncias mais difíceis e adversas a que estejam expostos.

A Liderança Servidora: a força de delegar e escutar

No setor de saúde em especial, o conceito de liderança servidora é particularmente valioso. O líder servidor é aquele que, antes de liderar, busca compreender as necessidades dos seus liderados. Ele coloca as pessoas em primeiro lugar e usa seu poder para capacitar os outros, em vez de centralizá-lo. Jack Welch, um dos mais notáveis líderes corporativos do século XX, à frente da GE, destacou a importância de ouvir e delegar quando afirmou: “Antes você era o chefe. Agora, seu trabalho é claro: ser o líder. Antes você liderava com sua posição de poder. Agora, você lidera com a confiança.” Welch acreditava que o verdadeiro líder é aquele que capacita sua equipe a dar o seu melhor, inspirando confiança por meio da transparência e do apoio. A lógica empática da eterna preparação do seu segundo, do seu sucessor, do seu legado. Quantas oportunidades de crescimento na vida não são perdidas por falta desta visão?


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Nas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio deste ano, a liderança servidora foi fundamental. Gestores de hospitais, clínicas e instituições de saúde tiveram que delegar responsabilidades em meio ao caos, confiar em suas equipes e ouvir atentamente as necessidades imediatas dos profissionais e pacientes. Esses líderes foram fundamentais na organização rápida e eficaz dos recursos, bem como na manutenção do espírito de solidariedade e empatia durante a crise.


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Liderança e a ampulheta do tempo

Tom Brady, para muitos o maior jogador de futebol americano da história, em seu discurso para alunos formandos na Universidade de Michigan, destacou a importância da qualidade do tempo e de não apressar ou pular etapas na vida, especialmente no que se refere à liderança. Ele mencionou que, muitas vezes, as pessoas se preocupam tanto em alcançar rapidamente o sucesso que perdem de vista o valor das experiências que moldam verdadeiros líderes. Isso se aplica diretamente à liderança na saúde, onde o desenvolvimento de habilidades como empatia, escuta ativa e tomada de decisão sob pressão exige tempo e amadurecimento.

Ser um líder antes da hora pode significar uma falta de preparação emocional e estratégica para lidar com crises e desafios complexos. Brady nos lembra que cada etapa é essencial para construir a base sólida de um líder, que não se trata apenas de alcançar uma posição de autoridade, mas de desenvolver o caráter e a resiliência necessários para guiar os outros de forma inspiradora. Esse processo de amadurecimento e aprendizado contínuo é o que diferencia líderes que comandam daqueles que inspiram e reflete a necessidade de valorizar cada passo ao longo do caminho.

A relação entre caráter e estratégia na liderança

O General Herbert Norman Schwarzkopf, conhecido por sua liderança militar inspiradora, comandante em chefe das tropas americanas na “Operação Tempestade no Deserto” durante a Guerra do Golfo, afirmou: “liderança é uma poderosa combinação de estratégia e caráter. Mas se você tiver de ficar sem um, fique sem a estratégia.” Essa frase, vinda de um gênio militar nessa disciplina, revela uma profunda verdade sobre a liderança em tempos de crise. No setor de saúde, onde vidas estão em jogo, o caráter do líder – sua integridade, empatia e resiliência – deve obrigatoriamente pesar mais do que qualquer plano estratégico elaborado. A estratégia é fundamental, mas a confiança e o caráter do líder são o que mantém as equipes unidas e motivadas a seguir em frente.

Durante a pandemia e nas enchentes, os líderes de saúde enfrentaram situações em que os planos previamente estabelecidos se mostraram inadequados. Nestes momentos, o que se destacou foi o caráter dos líderes: sua habilidade de fazer o que era certo, mesmo quando era difícil; de manter a moral elevada, mesmo em meio à exaustão; e de mostrar que estavam lado a lado com suas equipes.

Conclusão

A liderança inspiradora no setor de saúde é mais do que uma competência estratégica; é um ato de empatia e serviço. O líder que escuta, que delega e que lidera pelo exemplo é aquele que engaja sua equipe, promovendo um ambiente de colaboração e resiliência. Como nos ensina Schwarzkopf, em tempos de crise, o caráter de um líder pode ser mais valioso do que a melhor das estratégias. Portanto, se tivermos que escolher, que seja a integridade, a empatia e o exemplo que prevaleçam, pois são eles que, no final das contas, moldam verdadeiros líderes, constroem equipes inspiradas, comprometidas e de alto desempenho. Sejamos sempre farol de inspiração para aqueles que estão ao nosso lado.


Evandro Moraes é Superintendente Administrativo do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS).


 



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