A 41ª Conferência Internacional da ISQua – International Society for Quality in Health Care – teve sua abertura oficial, ontem, dia 13 de outubro, no World Trade Center, em São Paulo, com apoio de sua anfitriã ONA (Organização Nacional de Acreditação). O evento, considerado um dos mais importantes do setor de saúde, começou de forma alegre e descontraída, com a apresentação da Escola de Samba Mocidade Alegre, que trouxe enredos cheios de energia e celebração. Após o momento de animação, o CEO da ISQua, Dr. Carsten Engel, abriu sua fala reconhecendo as diversas crises humanitárias e os conflitos armados que o mundo enfrenta e que impactam diretamente pessoas e sistemas de saúde. “A ISQua expressa total apoio e deseja paz. Esperamos que seja criada uma janela de oportunidade para aliviar o sofrimento”, afirmou.

Assuntos sobre inteligência artificial nos painéis de discussão na ISQua – Carsten destacou que, ao longo de todos os dias do evento, os temas relacionados à tecnologia terão papel de destaque, mas enfatizou que o fator humano deve permanecer no centro das discussões. “A tecnologia, por si só, não é suficiente. O verdadeiro progresso exige toque humano, empatia, responsabilidade ética e o comprometimento em compreender as necessidades de cada paciente e comunidade”, afirmou. O executivo acrescentou ainda: “Juntos, podemos superar os desafios que os sistemas de saúde enfrentam hoje e construir um futuro em que o cuidado de alta qualidade, resiliente, sustentável e ecológico seja uma realidade para todos”.

Na sequência, o presidente do Conselho da ONA, dr. Fábio Leite Gastal, também manifestou solidariedade às crises humanitárias e destacou que o Brasil é um país de imensa diversidade étnica, social e religiosa, onde a convivência pacífica e o respeito mútuo são valores essenciais. O executivo lembrou ainda que 2025 foi designado pelas Nações Unidas como o Ano Internacional das Cooperativas, reforçando princípios como colaboração, cooperação e associativismo.

“ONA se consolidou como referência nacional e internacional, transformando a forma como qualidade, segurança e práticas assistenciais são abordadas no sistema de saúde brasileiro. Olhando para trás, vemos um caminho marcado pelo pioneirismo, credibilidade e, acima de tudo, por um impacto direto na vida de milhões de pessoas. Os números falam por si: atualmente, há mais de 1.700 organizações acreditadas no Brasil”, afirmou.

Dr. Gastal ressaltou ainda o crescimento expressivo da instituição: “Nos últimos anos, a ONA cresceu mais de 50% ao ano e, no último ano, ultrapassamos 20%. O Brasil se consolidou como líder global em acreditação em saúde, porque a acreditação vai além de um selo ou certificado — representa aprendizado contínuo, organização, cultura e desenvolvimento de competências. Já são mais de 55 mil profissionais treinados em nossos programas educacionais, multiplicando conhecimento, habilidades e práticas que se refletem nos serviços de saúde em todo o país. Neste evento, celebramos a maturidade de uma organização que se tornou parte essencial da história da saúde no Brasil. E ainda há muito por fazer. A acreditação não é um destino final, mas uma jornada contínua de transformação”.

Acreditação em São Paulo – Dra. Laís Casella, coordenadora de Qualidade da Secretaria da Saúde de São Paulo, reforçou o compromisso do estado com a melhoria contínua na área da saúde. “Que cada discussão, cada evidência e cada boa prática compartilhada aqui nos ajudem a construir sistemas de saúde mais resilientes, mais humanos e mais seguros”, destacou.

Atualmente, São Paulo lidera o maior projeto de acreditação em qualidade e segurança do paciente na Atenção Primária já realizado em uma rede pública de saúde. A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS-SP) vem implementando um amplo processo de acreditação como parte do Projeto Avança Saúde SP — o maior programa de saúde pública desenvolvido na capital, voltado à ampliação do acesso e à melhoria da qualidade dos serviços oferecidos pelo SUS.

No ano passado, 276 unidades de saúde foram acreditadas, e a terceira fase do projeto teve início em setembro deste ano, com a expectativa de certificar todas as 479 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da cidade. “Esses resultados demonstram nosso comprometimento em fortalecer os padrões de qualidade e segurança das unidades básicas de saúde em nome da Secretaria Municipal da Saúde”, afirmou.

Participação do Brasil no evento da ISQua

O Brasil alcançou recordes históricos de submissões de trabalhos na história da ISQua. Foram mais de 2 mil cases enviados para avaliação da equipe organizadora do evento, sendo mais de 900 provenientes do Brasil.

“Cada resumo conta uma história, uma mensagem de esperança, um cuidado mais seguro, melhor e mais humano. É um prazer anunciar que registramos um número sem precedentes de inscrições locais — mais de 500 trabalhos brasileiros — e mais de mil participantes em toda a conferência. Esses números refletem mais do que engajamento: demonstram o orgulho de fazer parte deste momento, de aprender em conjunto, compartilhar experiências e moldar o futuro da saúde. Este é o momento de celebrar, aprender e inspirar, porque juntos estamos transformando oportunidades em mudanças”, comemorou Gilvane Lolato, gerente-geral de Operações da ONA.

Com a palavra, o Ministério da Saúde – Os participantes se mostraram bastante interessados na apresentação do dr. Fernando Augusto Marinho dos Santos Figueira, diretor do Departamento de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência do Ministério da Saúde. “O mundo continua enfrentando profundas desigualdades e o envelhecimento populacional. Novas pandemias testam constantemente a resiliência dos nossos sistemas de saúde. Ao mesmo tempo, vivemos um período de progresso extraordinário, em que tecnologia e humanidade caminham lado a lado, oferecendo oportunidades de cuidar, conectar e incluir — e é neste contexto global que trazemos a voz do Brasil”, afirmou.

Durante sua fala, o diretor apresentou diversos programas implementados no país, entre eles o Programa Saúde da Família, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), o Brasil Sorridente, e o Programa de Farmácias Populares, que amplia o acesso a medicamentos essenciais abaixo ou nenhum custo. Também destacou a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena, o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o Programa Mais Médicos e a Política Nacional de Educação Popular em Saúde, ambos com o objetivo de ampliar o acesso à assistência em regiões carentes e fortalecer a formação de profissionais, principalmente na Atenção Primária.

Outras iniciativas citadas foram a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança e a Campanha de Vacinação contra a Covid-19, que mobilizou uma das maiores redes de imunização do mundo.

Dr. Fernando também destacou os avanços recentes na cobertura vacinal — com melhora em 13 das 16 imunizações do Programa Nacional de Imunizações (PNI) — e os investimentos em transformação digital, com o lançamento do Meu SUS Digital, uma solução tecnológica que facilita o acesso às informações em saúde e promove continuidade do cuidado, transparência e segurança de dados.

O aplicativo permite ao cidadão consultar seu histórico clínico, registros de vacinação, resultados de exames, medicações, posição na fila de transplantes e outros serviços. Todas as informações são integradas à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), que envia e recebe informações de forma segura.

“No Brasil, a tecnologia se tornou uma ferramenta de inclusão e equidade, por meio das redes nacionais de dados de saúde. Estamos construindo um sistema que permite que todos os cidadãos, onde quer que estejam, tenham acesso às suas informações clínicas com segurança, ética e em tempo real”, concluiu.

Inteligência Artificial nos processos de acreditação

A ONA está implantando o uso de Inteligência Artificial (IA) em seu processo de acreditação, com o objetivo de aumentar a eficiência, a precisão e a padronização das avaliações. A tecnologia atua como um suporte inteligente aos avaliadores, auxiliando no preenchimento automático e na validação dos relatórios, além de sugerir análises comparativas e interpretações de evidências durante as visitas de avaliação. “Essa inovação fortalece a consistência técnica do processo, otimiza o tempo de análise e permite que os avaliadores se concentrem em aspectos qualitativos e estratégicos, promovendo uma acreditação mais ágil, segura e orientada por dados”, esclarece Gilvane.