Estatísticas e Análises | 13 de janeiro de 2016

Insuficiência Cardíaca: problema crescente em todo o mundo

Especialistas internacionais compartilham orientações para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes
Insuficiência Cardíaca problema crescente em todo o mundo

Ao abordar o crescimento da insuficiência cardíaca, um artigo do portal norte-americano US News traz recomendações que ajudam na qualidade de vida e na prevenção. “O termo é insuficiência cardíaca – mas também pode ser adequadamente descrito como uma ação: o coração está falhando. Uma condição normalmente crônica, progressiva e irreversível, a insuficiência cardíaca surge quando o músculo do coração enfraquecido não é capaz de bombear todo o sangue suficiente, com oxigênio e nutrientes, às células do corpo”.

O 1º Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca (Breathe, do inglês Brazilian Registry of Acute Heart Failure), publicado em junho de 2015 na revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mostra que 50 mil pessoas morrem todo ano no Brasil por complicações cardíacas. A estimativa é que 100 mil novos casos sejam diagnosticados a cada ano no país. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 23 milhões de pessoas sofrem com a doença em todo o mundo. Nos Estados do Sul, Sudeste e Nordeste, um terço dos casos ocorre em decorrência de enfarte. No Norte, 37% dos pacientes sofrem de hipertensão e na região Centro-Oeste a principal causa é a Doença de Chagas, com 42,4%.

Normalmente, quem sofre de insuficiência cardíaca têm outros problemas cardiovasculares graves, como pressão arterial alta, doença arterial coronária ou teve um ataque cardíaco que levou à tal condição cardíaca. “Os pacientes tendem a ser de idade avançada, muitas vezes em seus 80 anos, com múltiplos problemas crônicos de saúde. Assim, além de questões generalizadas que afetam a saúde do coração, como obesidade e diabetes, melhorias no atendimento que permitem que aqueles com problemas cardiovasculares vivam mais tempo, bem como o envelhecimento da população mundial, têm contribuído para um aumento do número de pessoas que tem insuficiência cardíaca”, destaca o texto.

Enquanto os avanços nos tratamentos focam a condição crônica, os especialistas dizem que fatores que vão desde a idade avançada do paciente e a deterioração da saúde, até o acesso inconsistente aos serviços de saúde, são menosprezados na busca por melhorias nas taxas de sobrevivência em todo o mundo. “Os melhores médicos relacionados a insuficiência cardíaca dizem que os pacientes muitas vezes não recebem o padrão sugerido de cuidados, o que pode reduzir significativamente a taxa de sobrevivência e prejudicar a qualidade de vida para aqueles que vivem com insuficiência cardíaca. Tais preocupações têm galvanizado cardiologistas e outros profissionais de saúde em todo o mundo a reunir diretrizes em busca de melhores resultados”.

Para Gregg Fonarow, porta-voz da American Heart Association (AHA) e professor de medicina cardiovascular da Universidade da Califórnia (EUA), “uma das coisas que considero tão marcante e notável, é que nós temos um número de terapias que realmente podem melhorar significativamente os resultados nos doentes com insuficiência cardíaca”.

Uma ampla gama de medicamentos, como os inibidores da ECA, ou também chamados inibidores da enzima conversora da angiotensina, ajudam a relaxar os vasos sanguíneos, o que permite que o sangue flua com maior facilidade o que diminui a pressão arterial, minimizando e prevenindo ataques cardíacos, AVC, e retarda a piora da insuficiência cardíaca. São terapias essenciais para o coração manter o ritmo com as suas responsabilidades de bombeamento de sangue. “Mas apesar das evidências, apesar das orientações, apesar dos esforços de educação, há ainda um grande número de pacientes que não recebe essas recomendações, nem terapias baseadas em evidências”, completa Dr. Fonarow.

No mundo inteiro, as taxas de sobrevivência para pacientes com insuficiência cardíaca são piores do que para muitos dos principais tipos de câncer, como de mama e de próstata. “Globalmente, entre 17% a 45% desses doentes internados vão morrer dentro de um ano, de acordo com dados publicados entre 2010 e 2015”, diz Stefan Störk, diretor científico do Comprehensive Heart Failure Center, na Alemanha. Com a melhoria do tratamento, a taxa de morte relacionada com insuficiência cardíaca nos EUA estava em declínio desde 2000, mas começou a aumentar novamente. Uma taxa ajustada por idade aponta cerca de 81 mortes por 100 mil em 2012, e 84 mortes por 100 mil em 2014, de acordo com o Centers for Disease Control and Prevention.

Enquanto o número de pessoas mais jovens com insuficiência cardíaca está diminuindo, os especialistas notam um aumento em adultos idosos que desenvolvem e morrem por essa condição. A taxa de mortalidade relacionada à insuficiência cardíaca ainda é bem inferior à taxa de cerca de 105 mortes por 100 mil pessoas em 2000. Mesmo assim Fonarow diz que, com base nos últimos dados disponíveis, cerca de 68 mil mortes poderiam ser evitadas a cada ano, se todos os pacientes fossem tratados de acordo com o padrão norte-americano de atendimento.

Estudos demonstram como a medicina baseada em evidências é subutilizada no tratamento da insuficiência cardíaca. A AHA está envolvida nos esforços internacionais para melhorar o tratamento e os resultados envolvendo insuficiência cardíaca. Em outubro, os melhores médicos na Europa, incluindo líderes da Associação de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Europeia de Cardiologia e 36 entidades nacionais especializadas em insuficiência cardíaca, anunciaram formalmente uma parceria prometendo uma “ação conjunta para melhorar os resultados dos pacientes e reduzir a carga da insuficiência cardíaca na sociedade”.

O cardiologista Gerasimos Filippatos, presidente Associação de Insuficiência Cardíaca, apelou a todos os países para enfrentarem o problema como uma prioridade de saúde. Até o momento, 49 grupos de trabalho em insuficiência cardíaca (incluindo o Brasil) assinaram um documento para participar de um programa de sensibilização sobre a insuficiência cardíaca global.

Os especialistas observam que, apesar dos avanços feitos contra a insuficiência cardíaca, há muito mais ainda a ser feito. “Para a maioria dos pacientes, há novos medicamentos e há novos dispositivos que poderíamos usar para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida”, resume Filippatos. Isso inclui um medicamento chamado Entresto (sacubitril/valsartana), da Novartis, aprovado pela agência reguladora FDA, para o tratamento da insuficiência cardíaca nos EUA. “Este novo medicamento, que pode substituir o inibidor de ECA, reduz a mortalidade em mais de 20% e poderia acrescentar um ano ou mais de vida para pacientes”, diz Fonarow. A agência reguladora europeia (Comissão para Produtos Medicinais de Uso Humano) aprovou em novembro a comercialização no território europeu. A Anvisa ainda não liberou o medicamento no Brasil, e a previsão é que isto ocorra até a metade de 2017.

É importante, contudo, consultar um médico sobre possíveis danos e efeitos colaterais associados à medicação, que variam de baixa pressão arterial, tonturas, insuficiência renal, entre outros. A maioria dos pacientes que participaram de estudos clínicos que avaliaram a medicação também utilizaram outros tratamentos contra insuficiência cardíaca aprovados, de acordo com a FDA, incluindo beta-bloqueadores e diuréticos. Aqueles que tomaram um inibidor da ECA foram aconselhados a parar o seu tratamento e também não usar Entresto por pelo menos 36 horas, antes de iniciar o novo tratamento. Isso para evitar quaisquer problemas causados pela ingestão de ambos. Mulheres grávidas também são aconselhadas a não tomar Entresto. A droga deverá custar cerca de US$ 4,5 mil por ano.

Mas, também o diagnóstico precoce salva pacientes e pode levar à melhoria da qualidade de vida com o tratamento. “Os doentes com  insuficiência cardíaca recente muitas vezes respondem bastante bem às diretrizes de terapias médicas, e depois de seis a nove meses, há uma melhora substancial na função do músculo cardíaco”, diz o Dr. Randall Starling, chefe do setor de insuficiência cardíaca na Cleveland Clinic. Embora a insuficiência cardíaca seja, por característica, uma condição crônica, Dr. Starling também observa que “alguns distúrbios do ritmo cardíaco podem causar uma fraqueza do músculo cardíaco que pode ser melhorada ou até mesmo completamente revertida com o tratamento. Alguns pacientes com artérias bloqueadas desenvolvem um músculo cardíaco fraco que melhora com mais fluxo de sangue depois de uma aplicação de stent”, exemplifica o médico.

O artigo do US News apresenta uma lista de dicas que alguns especialistas em insuficiência cardíaca de todo o mundo sugerem, para que as pessoas com essa condição possam melhorar sua longevidade e qualidade de vida:

Procure ajuda médica o mais rápido possível se você tem preocupações 

De acordo com a AHA, um sinal ou sintoma não pode ser motivo para alarme. Mas especialmente se você tiver mais de um dos seguintes – que juntos poderiam indicar que você pode ter insuficiência cardíaca –, informe o seu médico: falta de ar, tosse ou chiado no peito persistente, acúmulo do excesso de líquido nos tecidos – como inchaço nos pés e tornozelos – cansaço constante, falta de apetite ou náusea, dificuldade para pensar ou perda de memória e aumento da frequência cardíaca.

Encontre sua equipe especializada em insuficiência cardíaca

“Em um sistema fragmentado de cuidados de saúde com vários prestadores, é muito fácil certas terapias passarem despercebidas”, diz o Dr. Fonarow. Além da determinação de uso de uma medicação ou modificações de estilo de vida, incluindo dieta e exercício, o tratamento para uma pessoa com insuficiência cardíaca é um assunto que requer envolvimento. E é preciso uma gama de profissionais especializados para entregar um ótimo atendimento, dos cardiologistas e enfermeiros até nutricionistas. Isso faz a escolha da equipe do hospital um ponto criticamente importante. “Compare, avalie como hospitais oferecem cuidados recomendados para condições específicas. A AHA reconhece hospitais que seguem os mais recentes padrões de atendimento”. Muitas instituições têm equipes dedicadas à insuficiência cardíaca, composta por médicos e profissionais de enfermagem com formação e interesse especial em pacientes com insuficiência cardíaca”, diz Starling.

Prevenção e tratamento adequado 

Para prevenir a insuficiência cardíaca, em primeiro lugar, os pacientes são encorajados a adotar comportamentos saudáveis ​​para o coração: Comer um baixo teor de sódio (a dieta mediterrânea, por exemplo); não fumar; exercícios físicos regularmente; tratar outras possíveis doenças cardíacas o mais rápido possível, incluindo pressão arterial elevada. Manter a pressão arterial superior a ou abaixo de 120 – não apenas abaixo de 140 – pode reduzir significativamente o risco de desenvolver insuficiência cardíaca. “Além disso, existem alguns novos medicamentos para a diabetes que podem substancialmente reduzir o risco”, diz Filippatos, ressaltando a importância de também manter um peso saudável. E se você já tiver sido diagnosticado com insuficiência cardíaca, não é tarde demais para fazer essas mudanças de estilo de vida saudáveis ​​para o coração. “Os doentes com insuficiência cardíaca devem seguir os hábitos saudáveis”, reforça.

Não fuja do programa

Os especialistas enfatizam a importância de os pacientes seguirem as recomendações médicas sempre. Isso vale para tudo, de tomar a medicação prescrita até uma dieta recomendada. “A insuficiência cardíaca é uma condição que acompanha o paciente e geralmente requer tratamento ao longo da vida e supervisão”, diz o cardiologista Andrew Clark, ex-presidente  da British Society for Heart Failure. “Para muitos pacientes, levar uma vida longa e produtiva em um estado semelhante à remissão do câncer, é um resultado comum. O que importa é consultar a equipe de especialistas correta, com a expertise adequada. Mesmo com o diagnóstico de insuficiência cardíaca, não é tarde demais para parar de fumar, viver de forma saudável e praticar exercícios – tudo isso vai melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida”.

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