Gestão e Qualidade | 14 de abril de 2022

Indicadores de hospitais começam a retomar o comportamento de antes da pandemia, mas ainda sofrem seus impactos

André Médici e Ary Ribeiro analisaram a pandemia, cenário econômico e apresentaram dados do “Observatório 2022” em evento da ANAHP
Indicadores de hospitais começam a retomar o comportamento de antes da pandemia, mas ainda sofrem seus impactos

Em evento online realizado nesta quarta-feira (13), a Associação Nacional dos Hospitais Privados (ANAHP), divulgou o seu tradicional “Observatório Anahp”. Participaram da atividade Antônio Britto (diretor executivo), Eduardo Amaro (presidente do Conselho de Administração), André Médici (economista e coeditor do Observatório) e Ary Ribeiro (coeditor e CEO do Sabará Hospital Infantil). A mediação ficou por conta de Evelyn Tiburzio (diretora técnica). Os editores desta publicação são Ana Maria Malik, Helidea Lima, José Henrique Salvador, Raquel Oliveira e Vitor Ferreira, com André Médici e Ary Ribeiro como coeditores.

A edição traz análises dos principais  indicadores hospitalares, apontando a evolução e os novos picos pandêmicos, o impacto da cobertura vacinal neste cenário, bem como o reflexo na atividade econômica do país. Além disso, a publicação apresenta dados referentes ao desempenho operacional dos hospitais ANAHP no período, como a retomada das taxas de ocupação, média de permanência do paciente, afastamento de colaboradores, entre outros indicadores.

Abertura

Na abertura, Eduardo Amaro agradeceu “o papel fantástico realizado por toda a equipe da ANAHP, em especial aos coeditores André Médici e Ary Ribeiro”.

Ele reforçou que um dos temas mais importantes a serem discutidos, através das informações e dados apresentados no Observatório, é a análise do processo de crescimento do número de beneficiários verificado na saúde suplementar nos últimos anos. O presidente do Conselho também chamou a atenção para a questão envolvendo o fluxo de caixa dos hospitais. Os índices de glosas, assim como os prazos para recebimento de recursos das operadoras de planos de saúde, têm gerado atenção especial por parte dos técnicos da ANAHP.

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Cenário macroeconômico 

Antes de apresentar os dados referentes aos hospitais, os coeditores fizeram uma análise do cenário macroeconômico. Conforme trecho do Observatório, o ano de 2021 ainda refletiu os impactos negativos da pandemia de Covid-19. “Apesar de haver melhora nos indicadores de atividade econômica, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e redução das taxas de desemprego, o cenário inflacionário fez com que esses resultados positivos não fossem traduzidos em avanço na renda da população. ”

Beneficiários na Saúde Suplementar: a busca do patamar de 2014

Ary Ribeiro apresentou elementos que demonstram a recuperação do número de beneficiários na saúde suplementar nos últimos anos, mesmo que o setor não tenha alcançado o patamar de 2014, com mais de 50 milhões de beneficiários.

“O número de beneficiários chegou a 49 milhões em 2021, o que representa 1,51 milhão a mais que em 2020 [47,49 milhões]”, pontuou. O cenário inflacionário da economia (10,06% em 2021), por outro lado, é preocupante, mesmo com o crescimento verificado no PIB, de 4,62%, acrescentou.

A renda per capita, conforme André Médici, ainda precisa crescer substancialmente para recuperar as perdas causadas na economia pela pandemia. “Ainda não recuperamos o patamar de renda do período anterior à pandemia”, acrescentou.

Aumento do valor dos planos de saúde

O aumento “recorde” previsto para os planos de saúde em 2022 traz um certo grau de incerteza. Se durante a pandemia ocorreu uma estagnação ou até mesmo diminuição dos preços, neste ano a tendência é de forte elevação, com teto previsto para até 16% nos planos individuais.

“Ainda não temos elementos para dizer se os aumentos impactarão na curva de crescimento do número de beneficiários. Mas, sem dúvidas, pode dar uma arrefecida na demanda por saúde como vínhamos sentindo”, disse Médici.

O economista agrega que é importante lembrar que o crescimento do emprego formal ajudou a elevar a contratação de planos empresariais. O que não se vê nos contratos individuais, que permaneceram inalterados em termos de quantitativo de vidas. “O mercado de trabalho formal teve um dos maiores crescimentos nos últimos anos, com um saldo positivo entre admissões e desligamentos de 2,7 milhões”, reforçou Médici.

Tendências da inflação e o impacto na saúde suplementar

Para Médici, a inflação verificada a nível mundial seguirá alta. As incertezas trazidas pela guerra entre Ucrânia e Rússia, com rupturas de cadeias de comércio, ajudam a demonstrar que teremos um período mais longo de preços altos. “É um fenômeno mundial”, disse.

“É preciso lembrar que a inflação nos Estados Unidos chegou a 7% em 2021. E a acumulada, agora em março, ultrapassou os 8%. Mesmo assim, o Brasil pode se beneficiar com as rupturas das cadeias de comércio, por termos um agronegócio muito forte, assim como matérias primas. Podemos visualizar alguns aspectos que possam vir a favorecer o Brasil frente a outros países”, acredita.

Ary complementou: “Eu vou me arriscar a dar um palpite. Não enxergo, com os índices que estão se apresentando na economia, um estímulo para um novo crescimento no número de beneficiários. Por outro lado, a prioridade de ter um plano de saúde, o que a pandemia trouxe de percepção de risco, medo, da necessidade de as pessoas quererem ter este acesso [ao plano de saúde], faz com que eu acredite que em 2022 teremos uma estabilidade no número de beneficiários. ”

Com os reflexos da pandemia e o aumento da sinistralidade (consultas, exames e cirurgias) nos últimos meses, invariavelmente, o mercado gera uma pressão natural para o aumento dos valores com vistas ao equilíbrio econômico financeiro, adicionaram Ary e Médici.

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Saúde representou 9,47% do PIB brasileiro em 2021 (R$ 822,16 bilhões)

Estimativas elaboradas pela Anahp com base em dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apontam que as despesas com saúde movimentaram recursos equivalentes a 9,47% do PIB brasileiro em 2021, ou R$ 822,16 bilhões (em valores correntes). Desse total, R$ 387,47 bilhões foram recursos públicos (47,13% do total) e R$ 434,69 bilhões, recursos privados (52,87% do total).

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A representatividade ANAHP e o princípio da qualidade e da segurança do paciente

Para Ary, um dos principais destaques da representatividade da ANAHP é a sua missão de prezar pelo princípio da qualidade e da segurança do paciente. Ele destaca que dos hospitais brasileiros acreditados por programas internacionais de qualidade (como a Joint Commission), 86% deles integram a Associação.

Receitas e despesas

Em 2021, os hospitais da ANAHP tiveram R$ 47,55 bilhões receita bruta (130 hospitais-membros). Os hospitais de grande porte e porte especial representam 62,31%, enquanto os de pequeno e médio porte, 37,69%. Os hospitais possuem, ao todo, 29.649 leitos e 7.827 leitos de UTI (em dezembro de 2021).

Pandemia

O Observatório 2022 confirma que os maiores índices de internação, diagnóstico positivo e letalidade da doença foram identificados entre os meses de março e abril de 2021 (pico da segunda onda pandêmica):

26,75% foi o percentual de pacientes atendidos na urgência e emergência com suspeita de Covid-19.


42,98% foi o percentual de pacientes atendidos na urgência e emergência que tiveram diagnóstico positivo confirmado para Covid-19.


5,57% foi o percentual de atendimentos na urgência e emergência de pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19 que foram convertidos em internação.


19,57% foi a taxa de letalidade da Covid-19 nos hospitais Anahp.

Cobertura vacinal

Após o pico da segunda onda pandêmica, observou-se a melhoria contínua dos indicadores com o avanço da cobertura vacinal. Nos meses seguintes, os indicadores caíram gradualmente, voltando a subir em dezembro do mesmo ano com o início da onda de Covid-19 causada pela variante ômicron.

Perfil Epidemiológico

Ocorreu elevação no número de internações, com aumento de 12,79% entre 2020 e 2021.

A retomada das internações acontece após um ano de redução no número de saídas hospitalares (com queda de 20,09% entre 2019 e 2020), decorrente de uma mudança no perfil das internações por conta da pandemia, com muitos pacientes crônicos deixando de recorrer aos serviços para acompanhamento de suas condições de saúde (como cânceres, doenças circulatórias, diabetes etc.), diz trecho do Observatório.

O desfecho negativo (óbito) para Covid-19 foi pior entre os idosos acima de 60 anos. Essa taxa sofreu importante queda a partir de maio, quando a vacinação desse grupo etário já estava mais avançada.

Receita líquida e despesa total por saída hospitalar

A receita líquida em 2021 (média) foi de R$ 27.552,61, enquanto a despesa no mesmo período alcançou R$ 25.311,65. Em 2020, os valores foram R$ 25.720,18 (receita) e R$ 25.041,21 (despesa) nos hospitais membros da ANAHP.

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Desempenho dos Hospitais Associados da ANAHP

Os indicadores operacionais dos hospitais Anahp começam a retomar o comportamento de antes da pandemia, mas ainda sofrem seus impactos, como é demonstrado abaixo:

Observa-se retomada das taxas de ocupação semelhante aos percentuais observados antes da pandemia de 2020 (75,31%).


A média de permanência do paciente no hospital continua alta (4,61 dias), dado diretamente associado à gravidade desses pacientes.


A taxa de mortalidade também apresenta percentuais mais altos do que antes da pandemia.


A taxa mensal de absenteísmo e o índice de afastamento dos colaboradores dos hospitais associados à Anahp foram inferiores aos registrados em 2020, porém ainda bastante superiores aos valores encontrados em anos anteriores à pandemia. Esse resultado possivelmente tem como causa mais relevante o afastamento dos profissionais de saúde que contraíram a Covid-19.


O prazo médio de recebimento dos recursos devidos pelas operadoras de planos de saúde aos hospitais pelos serviços prestados e o índice de glosas (que é a recusa de pagamento por parte das operadoras) continuam em patamares elevados: 68,56 dias para o prazo de recebimento e 3,76% para o valor das contas glosadas sobre a receita líquida dos hospitais.


A margem EBITDA, que já alcançou patamares acima de 14%, passou de 8,04% (o pior resultado dos últimos 5 anos) em 2020 para 11,72% em 2021.

Baixe o Observatório 2022 aqui.

Assista o evento

 



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