Gestão e Qualidade, Mundo | 5 de dezembro de 2016

Hospital usa disciplina “militar” para cumprimento da higiene das mãos

Após monitoramento, processos mudaram e resultados positivos foram observados
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Após constatar um aumento de infecções hospitalares, as lideranças do Nationwide Children’s Hospital, em Ohio (EUA), decidiram que era preciso tomar uma atitude drástica para mudar a situação. A instituição pediátrica, com 604 leitos, apresentava excelentes índices de higiene das mãos, de acordo com pesquisas internas respondidas pelos funcionários. Mas quando as lideranças instalaram observadores para monitorar secretamente a lavagem das mãos e os hábitos de assepsia, descobriu-se que a adesão era, na verdade, inferior a 60%.

Dr. Terrance Davis, assistente do médico-chefe da Nationwide Children’s Hospital, comentou ao portal Modern Healthcare que, dessa forma, “soubemos que o que estávamos fazendo até agora não estava funcionando”. Ele revelou que o objetivo da iniciativa era “encontrar uma maneira de conseguir drasticamente que a higiene das mãos ficasse no topo da prioridade de todos”.

Mãos sujas estão relacionadas com infecções nosocomiais, o que pode gerar problemas graves de saúde (incluindo óbito) e caras penalizações. Em 2011, cerca de 722 mil dessas infecções ocorreram em hospitais dos EUA, e cerca de 75 mil pacientes com essas infecções morreram. Tais infecções custam aos hospitais algo em torno de US$ 28 bilhões a US$ 45 bilhões, anualmente.

Estratégias sugeridas:

– Modelos e intervenções de outros setores podem servir de exemplo

– Uma observação “clandestina” pode fornecer uma visão mais precisa do cumprimento de regras do que os registros de informações auto-relatados

– Consiga o comprometimento das lideranças da instituição

– Exija que os colaboradores que deixam de cumprir as metas se reúnam com seus gestores

A higiene adequada das mãos é considerada um dos elementos mais básicos ( e eficazes) de controle de infecção, mas em média os prestadores de saúde higienizam suas mãos menos de metade do número de vezes que deveriam, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), entidade governamental dos EUA, responsável por ações de promoção e prevenção de saúde.

Para elaborar uma maneira eficaz de manter seus funcionários atentos à higiene das mãos, o Nationwide Childrens’s Hospital decidiu adotar uma intervenção usada entre militares.

Em uma reunião que levava cerca de 15 minutos, duas vezes ao dia (uma de manhã e outra à noite), em um único dia na primavera de 2010, tudo e todos os funcionários – exceto os de assistência ao paciente essenciais – paravam suas atividades.

Todos os membros de uma unidade, de assessores a médicos, foram convocados para discutir um plano de ação entregue por um gestor, explicou Dr. Terrance Davis. E se o grupo (como unidade e como indivíduos) não atendesse 90% das taxas de eficiência ou não cumprissem as normas, eles teriam de se reunir com o diretor clínico ou o chefe do setor, para explicar o por quê dos índices insatisfatórios. “Nós não sabíamos o quão eficaz isso seria”, disse o Dr. Davis, que considera que “é muito embaraçoso ser chamado ao escritório da diretoria para explicar por que você não está fazendo seu trabalho”.

Colaboradores não assistenciais e álcool gel realocados

Mesmo antes da queda dos índices, os gestores do Nationwide Children’s Hospital precisaram mudar muitos processos para garantir que todos – não apenas enfermeiros e médicos, mas também os empregados que trabalham na área de alimentação e serviços de limpeza – cumprissem as regras de higiene adequada das mãos. Isso implica em lavar as mãos antes e depois de entrar em uma sala ou leito, seja com água e sabão se as mãos estão sujas ou com desinfetante para as mãos – independentemente se vai ter contato ou não com um paciente.

Um problema constatado na instituição é que dispensadores de álcool gel estavam mal alocados pelo hospiutal. “Eles estavam dentro de quartos dos pacientes e localizados atrás da porta. Assim, re-instalamos esses dispensadores fora de quase todos os quarto dos pacientes, ao longo dos corredores e nas entradas dos elevadores. Tivemos de fazer com que fosse realmente muito fácil localizar o álcool gel”, disse Davis.

Também antes de melhorar os resultados, os gestores convocaram uma cúpula de segurança de administradores de unidades médicas e de enfermagem e outros chefes de departamento. “Os diretores foram informados do que precisavam para chegarem a um plano de ação para melhorar índices”.

Após um mês do projeto as taxas atingiram 90% e se mantiveram assim durante seis anos. Dr. Terrance Davis e seus colegas publicaram os resultados de sua intervenção no Journal of Patient Safety. Davis disse que, separadamente, as taxas de infecção adquiridas no sistema de saúde caiu significativamente em várias categorias, incluindo infecções cirúrgicas e infecção da corrente sanguínea associada à cateter central.

Cultura e monitoramento

Para chegar aos resultados esperados, também foi importante mudar a cultura do hospital. O fato de os funcionários e prestadores terem sido fortemente monitorados ajudou no cumprimento da nova cultura de estrita adesão aos protocolos de higiene.

“Toda essa combinação de coisas – levar a mudança a sério, engajamento das lideranças e prestação de contas – realmente tinha algum significado”, ressaltou Dr. Terrance Davis. Uma maneira de o hospital saber que a nova abordagem estava funcionando foi quando uma forma diferente de feedback surgiu. “Começamos a receber um grande número de queixas de irritação da pele”, lembrou Davis. “Tivemos que testar vários marcas diferentes de álcool gel até que chegamos a uma fórmula que tinha loção boa o suficiente”, comentou o assistente do médico-chefe da Nationwide Children’s Hospital, sobre o claro indício de que as pessoas estavam usando mais o produto de assepsia.

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