Gestão e Qualidade | 17 de julho de 2017

Hospital paulista inova praticando preço fixo nos procedimentos

O risco na nova unidade do Oswaldo Cruz é dividido entre plano de saúde, fornecedores e o próprio hospital
Hospital paulista inova praticando preço fixo nos procedimentos

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo, investiu R$ 140 milhões em uma nova unidade hospitalar em que os procedimentos médicos têm um valor definido. Hoje, o setor saúde no país trabalha com a conta médica aberta, ou seja, a operadora de plano de saúde e o paciente não sabem de antemão o preço do procedimento. Esse modelo é alvo de críticas variadas especialmente porque o setor experimenta custos crescentes.

O Oswaldo Cruz é o primeiro hospital no Brasil a adotar esse modelo de remuneração para uma unidade completa. A implementação do sistema também é recente em outros países.

Desde 2014, a Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) lidera um projeto piloto com 18 hospitais que cobram um valor fixo para determinados procedimentos, mas a iniciativa ainda não prosperou devido às dificuldades de definir padrões a serem seguidos. Esses hospitais estabeleceram um valor fixo por procedimento ou doença, mas a liberdade tradicional dos médicos usarem suas próprias metodologias de trabalho tende a inibir escolhas mais racionais de materiais e medicamentos, com repercussão na margem dos hospitais. O próprio Oswaldo Cruz esbarrou neste problema e por isso decidiu partir para um modelo de remuneração fixa. “Essa é uma tendência sem volta. Os custos da saúde estão aumentando em patamares muito elevados, é insustentável”, disse Paulo Vasconcellos Bastian, CEO do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

O Oswaldo Cruz estabeleceu o preço de 89 procedimentos de cardiologia, ortopedia, neurologia, oncologia, urologia, buco maxilo-faciais e procedimentos ligados a doenças digestivas. Todos esses atendimentos seguem um padrão médico que é definido a partir de experiências internacionais, os chamados protocolos internacionais. Além disso, o hospital alemão tem uma equipe própria com cerca de 100 médicos e definiu que os materiais e medicamentos usados nos procedimentos precisam ser da Johnson & Johnson e da Medtronic. “É um hospital verticalizado para as operadoras que não têm rede própria”, resume Bastian.

Ele explicou que a escolha dos 89 procedimentos foi definida a partir de uma demanda das seguradoras e operadoras de planos de saúde. Numa segunda etapa, outros tratamentos serão atendidos neste hospital batizado de Oswaldo Cruz – Unidade referenciada Vergueiro.

No novo modelo de remuneração, o risco é compartilhado entre hospital, planos de saúde e fornecedores. Um exemplo: se o custo de uma cirurgia de joelho ultrapassar o preço informado inicialmente, esse adicional é pago pelo hospital. Já se o custo for inferior, o hospital fica com o ganho. Caso uma prótese ou órtese tenha que ser substituída, o fornecedor contratado não cobra pelo novo material.

“Para conseguir uma margem interessante usamos uma combinação de menor tempo possível de internação e resolutividade. Mas não adianta dar alta ao paciente antes do tempo porque se ele retornar com o problema, esse custo será do hospital”, afirma Bastian.

Entre as operadoras que já estabeleceram acordo com o Oswaldo Cruz, para operar no novo formato, estão SulAmérica, Gama e Metro. Além disso, há negociações com a Amil e Bradesco Saúde, segundo Fábio Katayama, superintendente operacional da nova unidade do Oswaldo Cruz, localizada no bairro da Liberdade, na capital paulista.

Essa nova unidade fica no prédio que até 2015 era ocupado pelo Hospital Santa Helena, da Unimed Paulistana. A cooperativa médica quebrou em 2015 e os donos do imóvel o alugaram para o Oswaldo Cruz por 20 anos.

O prédio pertence à Fundação Antonio e Helena Zerrenner, que é ligada à Ambev. O alemão Zerrenner é um dos fundadores da cervejaria Antarctica e também do Oswaldo Cruz. A fundação está construindo uma torre ao lado do hospital, que será integrada ao complexo. O prédio atual conta com 232 leitos, 13 salas cirúrgicas e três salas de endoscopia.

A expectativa é que a Unidade Vergueiro tenha um faturamento de R$ 390 milhões no próximo ano, o que representa cerca de um terço da receita bruta do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. O grupo conta com três endereços na cidade de São Paulo.

Neste primeiro ano de operações, a margem Ebitda da Unidade Vergueiro deve ser negativa em 18%, com expectativa de atingir o equilíbrio em três anos. “Esse é retorno padrão de um investimento no setor. Um hospital demanda um aporte inicial alto e a abertura dos leitos, que gera receita, é feita gradativamente.”

 

* com informações Valor. Edição SS. 

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