Mundo | 13 de julho de 2016

Hospital modelo francês é forçado a fechar salas operatórias

Estudo mostra que fila de espera na França por exame de ressonância magnética é superior a um mês
Hospital modelo francês é forçado a fechar salas operatórias

Duas reportagens recentes do jornal francês Le Figaro mostram situações preocupantes no que diz respeito à saúde no país. No dia 7 de julho, um fungo (Aspergillus, agente decompositor de alimentos) foi descoberto nas salas de operação do prestigiado Hospital Europeu Georges Pompidou, a ” jóia da coroa ” do sistema hospitalar parisiense. Enquanto ainda não se descobre a origem do problema, as unidades estão fechadas, incluindo algumas emergências. Ao mesmo tempo, uma pesquisa nacional mostrou que a fila de espera dos franceses para a realização de exames de ressonância magnética é de um mês ou mais.

Hospital Georges Pompidou

Nove das 24 salas operatórias do Hospital Georges Pompidou fecharam no dia 13 de julho e seguem assim até o dia 18, no mínimo. O motivo foi “o monitoramento de amostragem sistemática das salas 3, 5 e 9 do 1º piso, que demonstrou a presença de fungos filamentosos (bolor) no ar e superfícies”, diz o Le Figaro.

“Os resultados são incompatíveis com o tratamento de pacientes nestes quartos”, declarou o Dr. Kassis Najiby-Chikhani, responsável pelos serviços de higiene nas instalações. No dia 11 de julho, foi dado o alerta para todos os cirurgiões e gestores do Pompidou: “É essencial fazer uma cuidadosa biolimpeza nos quartos para uma nova análise microbiológica”.

Emergência fechada

Devido à presença do fungo, a área ortopédica, principal emergência do Pompidou, também fechou. “Os pacientes devem ser encaminhados para outras instituições. Em pleno estado nacional de emergência – decretado após os gravíssimos atentados terroristas de novembro do ano passado – e na véspera do desfile de 14 de julho (festa nacional francesa), a preocupação atinge não apenas os cirurgiões. Eles acreditam que se um evento como o Bataclan (casa noturna onde ocorreu o principal atentado terrorista em novembro de 2015), voltasse a ocorrer agora o Pompidou não seria capaz de participar de um necessário esforço coletivo dos órgãos de saúde.

Estudo alerta para atraso no acesso à ressonância magnética

Através da ressonância magnética (RM), é possível explorar com exatidão articulações, músculos, cérebro, fígado e pâncreas, para detectar uma anomalia, como um câncer. Este teste indolor pode orientar diagnóstico e tratamento, desde que seja feito no tempo certo. Mas, de acordo com uma pesquisa francesa divulgada dia 12 de julho, um paciente com suspeita de câncer espera, em média, um mês (30,6 dias) antes de obter um agendamento para a realização do exame, na França.

O relatório, realizado todos os anos desde 2004, pela associação Avenir de Saúde por Imagem (ISA – Association Imagerie Santé Avenir) em cooperação com o Sindicato Nacional da Indústria da Tecnologia Médica (SNITEM – Syndicat National de l’industrie des Technologies Médicales), mostra que os tempos de espera estão longe da meta de 20 dias, recomendada pelo Plano de Câncer 2014-2019, do governo francês.

“A partir do momento da suspeita de um câncer, temos de fazer uma ressonância magnética dentro de 10 a 15 dias, porque se passar mais tempo, o risco de metástases aumentam, e além disso o tumor pode crescer muito”, explica o Dr. Jean-Philippe Masson, presidente da Federação Nacional dos Radiologistas (FNMR). “Este atraso é inaceitável”, alertou, em entrevista ao periódico francês.No entanto, o número de RMs instaladas no país, triplicou nos últimos anos, passando de 230 em 2003 para 700 atualmente. Como o estudo aponta “a lenta melhora na taxa de equipamentos instalados de ressonância magnética nacionalmente não é proporcional às necessidades crescentes”. Em 12 anos, a fila de espera média, apesar do aumento de equipamentos, reduziu-se de forma pouco significativa de 36,1 para 30,6 dias.

Desigualdades francesas e europeias

Este fenômeno é parcialmente explicado por um número insuficiente de aparelhos, o que equivale a 13,1 para cada milhão de habitantes. Uma média bem abaixo da média europeia (que é de 20 para cada milhão). A França está particularmente muito atrás da Alemanha (50 por milhão de habitantes). “Alguns moradores da Alsácia ( N.R.: departamento ao norte, na fronteira alemã) vão fazer a sua RM na Alemanha”, alerta o Dr. Masson. A Alsácia é a segunda região francesa onde os tempo de espera é mais longo (46,5 dias) atrás apenas da região de Poitou-Charentes (47,4 dias). Em contrapartida, a situação francesa é menos grave do que a da Inglaterra, no badalado sistema de saúde do Reino Unido, onde os tempos de espera podem ser de até seis meses.

O estudo também revela grandes desigualdades entre as diversas regiões francesas. A Auvérnia, o Centro e a Bretanha têm os maiores atrasos no acesso a RM na França (respectivamente 44,8, 41,6 e 39,6 dias) e as menores taxas de equipamentos (entre 10 e 11 aparelhos por milhão de habitantes). Em um ano, doze regiões viram o problema aumentar, cinco (Baixa Normandia, Champanha-Ardenas, Ilha-de-França, Norte-Estreito de Calé, Provença-Alpes-Costa Azul) têm alta mortalidade por câncer, segundo o estudo. Em Ródano-Alpes e em oito outras áreas, o aumento no tempo de espera subiu 10%, passando de 22,8 dias para 32,8 dias.

Uso crescente

Em regiões onde falta equipamento, foi notado um uso mais frequente de ressonância magnética. “No início, este exame era indicado em neurologia. A tecnologia tem avançado e agora é possível usar para diagnosticar quase todos os tipos de câncer, com exceção do câncer de pulmão, doença cardíaca, na urologia e na análise de campo ósteo-articular (ossos, cartilagens, músculos, ligamentos e tendões)”, declarou Dr. Masson.

Além disso, a RM é cada vez mais usada no lugar de PET CT (exame de irradiação que as autoridades francesas de saúde recomendam evitar). “Adicionado a isso está o envelhecimento da população, o que também vai exigir mais exames de RM nos próximos anos”, consideram as notas do estudo.

“Embora tenha havido um aumento notável no número de aparelhos nos últimos três anos, a França ainda apresenta um atraso considerável”, diz o Dr. Masson. No momento da autorização de compra e a liberação da Agência Regional de Saúde afirmando que a máquina está realmente instalada, “pode demorar entre seis meses a dois anos”, alerta o radiologista.” A chegada de uma ressonância magnética em um hospital, a um custo de cerca de € 1,5 milhão, exige um trabalho significativo, como o estabelecimento de uma malha de cobre em torno do quarto para evitar fugas do campo magnético”, complementou.

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