Hospitais da Ucrânia estão próximos do colapso
Hospitais correm risco de ficarem sem oxigênio e eletricidade. Em instituição infantil, crianças estão sendo tratadas no porão
A crise entre a Ucrânia e a Rússia está impactando a prestação de serviços de saúde na Ucrânia. Segundo comunicado da Organização Mundial de Saúde (OMS), os hospitais ucranianos podem ficar sem suprimentos de oxigênio nas próximas 24 horas, já que a invasão da Rússia interrompeu o transporte em todo o país, colocando milhares de vidas em risco.
“A situação do suprimento de oxigênio está chegando a um ponto muito perigoso na Ucrânia”, disseram o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, e o diretor regional da Europa, Hans Kluge, em comunicado conjunto.
Os suprimentos de oxigênio são cruciais para pacientes com Covid-19, bem como pessoas com complicações de saúde decorrentes da gravidez e do parto, doenças crônicas, sepse, lesões e traumas. Atualmente, existem 1.700 pessoas hospitalizadas com Covid na Ucrânia.
A Ucrânia precisa de um aumento de 25% no suprimento de oxigênio em comparação com as necessidades do país antes da invasão da Rússia na semana passada. A OMS pediu a criação de um corredor de trânsito seguro para possibilitar o uso de uma rota logística que conecte a Ucrânia à vizinha Polônia.
“É imperativo garantir que suprimentos médicos que salvam vidas – incluindo oxigênio – cheguem àqueles que precisam deles”, disseram Tedros e Kluge.
Os serviços hospitalares também estão sob ameaça de falta de energia elétrica, de acordo com a OMS. Além disso, ambulâncias que transportam pacientes correm um sério risco de serem atingidas no fogo cruzado entre as tropas russas e ucranianas. Há ainda a preocupação com a iminente falta de medicamentos e demais insumos.
Covid-19
A OMS disse que a Ucrânia fez progressos significativos no fortalecimento de seu sistema de saúde antes da invasão da Rússia, incluindo a ampliação da oferta de oxigênio para tratar pacientes gravemente doentes com Covid-19. “Esse progresso agora corre o risco de ser prejudicado durante a crise atual”, disseram Tedros e Kluge.
A Ucrânia enfrentou um surto de infecções pela variante Omicron, com casos aumentando impressionantes 555% entre 15 de janeiro e 25 de fevereiro, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Por isso, o país enfrenta o sério risco do aumento de contágio de Covid à medida que os civis fogem da invasão russa. Outro surto de Covid combinado com um número crescente de pessoas feridas na guerra colocará ainda mais pressão no já sobrecarregado sistema de saúde da Ucrânia, segundo a ONU.
O país sofreu pelo menos 240 baixas civis desde o início da invasão russa, incluindo 64 mortos e 176 feridos, segundo a ONU. No entanto, a agência de assuntos humanitários da ONU acredita que o número real de vítimas civis é consideravelmente maior.
Crianças removidas para o porão do hospital
Nesta segunda-feira (28), o Governo Ucraniano informou que dezesseis crianças morreram e 45 ficaram feridas desde o início da invasão russa. Muitos dos feridos estão sendo levados para o Hospital Infantil Okhmatdyt, na capital Kiev.
A maior instalação pediátrica da Ucrânia já evacuou pacientes sem risco de vida, mas há várias crianças que não podem ser transportadas por dependerem de equipamentos de suporte à vida. Segundo reportagem da TIME, o número de pacientes está crescendo à medida que os combates em torno da capital ucraniana se intensificam.
Houve bombardeios perto do hospital à noite, de acordo com o cirurgião Vitaly Demidov. Cadáveres e carros abandonados cercam os prédios do hospital. “O mais triste é que, quando a sirene toca, temos que descer com as crianças e os pais para o porão”, disse Demidov. Segundo ele, é preciso fazer o trajeto ao porão de cinco a seis vezes por dia.
Em meio a tudo isso, a equipe tenta elevar o moral de seus jovens pacientes. Músicas são cantadas e jogos são feitos para distrair os pacientes durante os ataques aéreos. Dois aniversários foram comemorados no porão. Mas os desafios são enormes segundo Natalia Karpenko, chefe da unidade de terapia intensiva. Ela luta para conter as emoções: “As crianças estão sofrendo”, diz ela.
Em um vídeo, divulgado pela Radio Free Europa, médicos ucranianos tentam salvar a vida de uma garotinha de seis anos, após um ataque russo na cidade de Mariupol. Mesmo com o esforço dos médicos, a morte da criança foi confirmada.
Com informações OMS, ONU, CNBC, TIME (Fotos do Hospital Okhmatdyt) e Radio Free Europa. Edição SS.