Health Meeting: líderes da saúde discutem governança, colaboração e inteligência artificial em fórum de gestão
14º Workshop da Agenda Executiva da Saúde reuniu líderes do setor na abertura do evento
Discutindo os principais dilemas estruturais e estratégicos do setor da saúde, a Health Meeting Brasil/SINDIHOSPA teve início nesta terça-feira (21), na PUCRS, em Porto Alegre, com a realização do 14º Workshop da Agenda Executiva em Saúde. Ao longo do dia, lideranças debateram desde os impasses que pressionam a governança e a sustentabilidade das instituições, passando pela necessidade de alinhar interesses entre hospitais e operadoras para garantir um relacionamento mais colaborativo, até os efeitos da inteligência artificial no papel dos líderes.
A governança como pilar essencial foi o primeiro grande tema do workshop. Jader Pires, diretor-geral da Santa Casa de Porto Alegre, levou ao painel a experiência de governança como pilar de gestão em um ambiente pouco colaborativo de pressão sobre preços e insumos. Ao tratar do choque de interesses entre quem paga, quem usa e quem regula, afirmou: “cada cliente puxa para um canto e nosso desafio como gestor é buscar a eficiência interna”.

Palestra 4 – Experiência do Paciente – qualidade médico – assistencial como diferencial estratégico no Health Meeting 2025 – que ocorre de 21 a 23 de Outubro no Centro de Eventos da PUC RS. FOTO: Marcos Nagelstein/Agência Preview.
Paulo Roberto Barbosa Soares, diretor de Provimento de Saúde da Unimed Porto Alegre, enfatizou que “a alta governança não se faz apenas de indicadores, processos e resultados, mas sobretudo de pessoas. Seu papel é engajar e inspirar quem está sob sua liderança, porque são essas pessoas que farão a transformação na saúde.”
Mohamed Parrini, CEO do Hospital Moinhos de Vento, afirmou que a sustentabilidade das instituições depende de missão clara, governança e talentos. “Um dos nossos maiores desafios é competir colaborando, lembrando que vamos embora e as instituições ficam”, destacou. Para o vice-presidente da MV Sistemas, Alceu Alves da Silva, ser referência para pacientes exige qualidade, tecnologia e sustentabilidade sistêmica. “Não faz sentido vivermos numa ambiência onde alguns são super fortes e outros muito fracos”, comentou.
Relacionamento estratégico e colaborativo
Ao falar sobre a construção do relacionamento entre hospitais e operadoras, no segundo painel do dia, Daniela Medeiros, superintendente de Provimento de Saúde na Unimed Porto Alegre, comentou que o primeiro passo é corrigir o desnível que sempre existiu no sistema para mudar a lógica de competição. Daniel Greca, diretor de inovação e saúde populacional do Hospital Sírio-Libanês (SP), seguiu a mesma linha ao falar sobre saúde complementar. “Enquanto não existir uma regulação de um setor de saúde suplementar tudo que acontece vai depender da boa vontade”, comentou.

Palestra 1 – A Visão da Alta Governança Executiva sobre os Desafios da Saúde do Health Meeting 2025 – que ocorre de 21 a 23 de Outubro no Centro de Eventos da PUC RS. FOTO: Marcos Nagelstein/Agência Preview.
O diretor-geral do Hospital São Lucas da PUCRS, Oswaldo Balparda, acrescentou que se fala muito em operadora, prestador do serviço e médico, mas se deixa de fora o paciente, que por vezes sequer sabe a melhor forma de utilizar seu plano de saúde. “Temos que aumentar o nível de confiança, ampliando e trazendo pro centro do debate aquele que é o ator para o qual nós existimos.”
Inteligência artificial e lideranças do futuro
A inteligência artificial, um dos temas mais debatidos no setor da saúde hoje, foi o foco da terceira rodada de falas do workshop. Fernando Torelly, vice-presidente da Regional Zona Sul do Rio de Janeiro da Rede D’Or, afirmou que a IA vai revolucionar o setor. Segundo ele, ao contrário do que muitas vezes se diz, a tecnologia não fará os profissionais retrocederem. “A inteligência artificial não vai ser uma bengala, ela vai nos obrigar a estudarmos mais do que hoje”, disse.

Palestra 2 – Construindo o Relacionamento Estratégico e Colaborativo entre Hospitais e Operadoras do Health Meeting 2025 – que ocorre de 21 a 23 de Outubro no Centro de Eventos da PUC RS. FOTO: Marcos Nagelstein/Agência Preview.
Lara Sales Vieira, CEO do Pompéia Ecossistemas de Saúde, trouxe dados que mostram que 92 milhões de empregos serão destituídos até 2030 pela IA, mas que 170 milhões novos postos serão criados. “Profissionais de enfermagem devem registrar forte expansão nos próximos anos”, projetou. Já o superintendente Administrativo e de Infraestrutura do Hospital Moinhos de Vento, Evandro Moraes, disse que é uma armadilha afirmar que a inteligência artificial desumaniza os gestores, já que a capacidade de inspirar continua dependendo, essencialmente, da dimensão humana.
Executivo e consultor da área da saúde, José Paulinho Brand, comentou que os líderes do futuro serão os que se adaptarem mais rapidamente e que tiverem sede de aprendizado, além de capacidade de inspirar. “Se eu não consigo mostrar que estou aqui por inteiro, não vou inspirar meu liderado.” Já Cláudia de Salles Stadtlober, coordenadora do curso de Medicina da UNISINOS, afirmou que a IA vai aprimorar muito a capacidade dos profissionais no atendimento dos pacientes.
Experiência do paciente
José Miguel Dora, chefe do serviço de medicina interna do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), compartilhou como as intervenções no monitoramento e na comunicação entre equipes feitas na enfermaria em 2019 e 2020 se tornaram referência. Com oito anos de experiência avaliando hospitais na Joint Commission International (JCI), Franklin Lindolf, diretor geral do Hospital Regional do Oeste (SC), comentou a complexidade de se trabalhar conceitos como jornada do paciente numa instituição dedicada a atender casos emergenciais. De acordo com ele, um hospital pode ter os profissionais mais capacitados e os melhores equipamentos, mas isso não garante o atendimento mais humanizado e ideal. As lideranças, garantiu, são fundamentais nesse processo.
Vania Röhsig, superintendente assistencial e de educação do Hospital Moinhos de Vento, trouxe alguns exemplos do que a instituição agrega no seu dia a dia para melhorar a experiência. A gerente de enfermagem do Hospital Copa Star Rede D’Or, do Rio de Janeiro, Andrea Conrad, compartilhou a expertise da instituição, inaugurada em 2016, que tem foco total na jornada do paciente, funcionando dentro do conceito de “hospital boutique”. Conforme ela, para trabalhar nesses moldes, os profissionais foram extremamente capacitados.
Finalizando o dia de debates, o superintendente de Marketing, Comunicação e Experiência do Paciente do Hcor, de São Paulo, Marcos Riva compartilhou os segredos da instituição para melhorar a experiência do paciente sem grandes orçamentos destinados para isso: relações interpessoais. As pessoas, segundo ele, são quem garantem essa percepção. Riva ainda comentou que até a mínima demonstração de cuidado dos profissionais de saúde é capaz de melhorar os índices de satisfação. “No momento de angústia e insegurança, o paciente quer conexão humana”, afirmou.
A 3ª Health Meeting Brasil / SINDIHOSPA é realizada pela HM Brasil Feiras e Congressos e pelo SINDIHOSPA, com patrocínio da Unimed Porto Alegre, Unicred Porto Alegre, Secretaria Estadual do Turismo e Sebrae.