HCPA tem como prioridades estratégicas o cuidado centrado no paciente, a otimização de recursos e a sustentabilidade
A diretora-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Nadine Clausell é a terceira entrevistada da série especial do Setor Saúde.A diretora-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), professora Nadine Oliveira Clausell é a terceira participante da série especial de entrevistas com executivos(as) de hospitais, operadoras e clínicas do Brasil. Em 2023, a instituição pública e universitária – integrante da rede de hospitais universitários do Ministério da Educação (MEC) e vinculada academicamente à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – inaugurou oficialmente os Blocos B e C e promoveu a transferência do Bloco Cirúrgico para uma área cinco vezes maior, o que permitirá o aumento da oferta de serviços, assim como a ampliação dos leitos pediátricos, oportunizando um incremento de 20% na capacidade de realização de cirurgias. “São exemplos de avanços que representam melhorias para o atendimento da população, tanto por ampliarem a nossa estrutura quanto por oferecerem espaços mais modernos e acolhedores, adaptados às necessidades dos nossos usuários”, comemora Clausell. Na área de ensino o ano também foi marcante com a inauguração do Centro de Simulação e novos cursos de especialização. Na área de inovação, o destaque foi o início da atuação da Incubadora Tecnológica Starts.
Na entrevista, a diretora-presidente aborda os principais projetos estipulados para 2024. Estão previstos um grande número de iniciativas, como programas de melhoria de gestão/processos; investimento em práticas ESG, novas contratações; adoção de novas tecnologias; investimento voltado para a transformação digital, ampliação de estrutura; aprimoramento no relacionamento com o mercado; inaugurações; novos serviços, aquisições/fusões e parcerias. Uma das novidades é o o avanço do projeto do Centro Integrado de Oncologia (Cionco). Clausell também aborda os movimentos mais recentes da organização que ajudam a evidenciar os esforços para aperfeiçoar a eficiência, mantendo a sua função social e a sustentabilidade econômico-financeira. Adicionalmente, ela apresenta as principais diretrizes ou eixos estratégicos estipulados para o ciclo 2024: cuidado centrado no paciente, a otimização de recursos e a sustentabilidade. Ela ainda situa o HCPA frente às tendências e inovações que estão ditando os rumos da saúde e opina sobre os principais gargalos e ineficiências que devem ser foco de atenção dos governos e das organizações de saúde em 2024. Confira.
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Análise dos principais desafios enfrentados e as conquistas mais relevantes em 2023
“Em 2023, tivemos como desafio manter as atividades em pleno funcionamento apesar das restrições orçamentárias, cenário que deve marcar o início do próximo ano. Além disso, temos enfrentado superlotação recorrente na Emergência Adulto, fator que gera pressão sobre nossas equipes e nossos recursos. Por outro lado, tivemos importantes marcos, como a inauguração oficial dos Blocos B e C, ocorrida com a presença do presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, acompanhado de cinco ministros de estado; a transferência do Bloco Cirúrgico para uma nova área cinco vezes maior, o que permitirá aumentar futuramente a nossa produção; e a ampliação dos leitos pediátricos, oportunizando um aumento de 20% na capacidade de realização de cirurgias. São exemplos de avanços que representam melhorias para o atendimento da população, tanto por ampliarem a nossa estrutura quanto por oferecerem espaços mais modernos e acolhedores, adaptados às necessidades dos nossos usuários”, comemora Clausell.
“Na área do Ensino, destaco a inauguração do Centro de Simulação, que recebeu o investimento de R$ 5 milhões para oferecer um importante suporte para o aprendizado de diferentes cursos da área da saúde, em parceria com a UFRGS, assim como o lançamento de dois cursos próprios de especialização: Farmácia Clínica Hospitalar e Enfermagem em Terapia Intensiva. Celebramos ainda a realização da 43ª edição da Semana Científica, que teve recorde de 2.304 participantes e de 1.130 mil trabalhos inscritos. Seguimos evoluindo também em inovação, com o início do programa de pré-incubação, que selecionou 12 iniciativas para atuar e propor soluções junto à Incubadora Tecnológica Starts”, destaca.
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Principais investimentos previstos para 2024
A diretora-presidente do HCPA apresenta um série de iniciativas previstas para este ano. “Por exemplo: programas de melhoria de gestão/processos; investimento em práticas ESG, novas contratações; adoção de novas tecnologias; investimento voltado para a transformação digital, ampliação de estrutura; aprimoramento no relacionamento com o mercado; inaugurações previstas; novos serviços, aquisições/fusões, parcerias, entre outros.”
“A ocupação dos novos blocos segue firme em nosso horizonte de ações. Nisso, preciso destacar o Centro Integrado de Oncologia (Cionco), que oferecerá ainda mais qualidade e conforto aos pacientes na assistência que prestamos, além de ampliar a capacidade de atendimento. Trabalhamos ainda para aprimorar o já instalado Bloco Cirúrgico, e temos previstas evoluções na estrutura do Ensino – que já conta com o maior Centro de Simulação do Sul do país -, e no prédio do Centro Integrado de Tecnologia da Informação (Citi), que terá foco na inovação produzida pelo hospital”, completa.
Os movimentos e esforços para aperfeiçoar a eficiência, mantendo a função social e a sustentabilidade econômico-financeira
“O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) tem a sustentabilidade como uma prioridade estratégica no seu Plano de Negócios e Gestão Estratégica (PNGE) do período 2022-2023. Para colocá-la em prática, lançou o Plano de Logística Sustentável, que estabelece ações para serem realizadas pelas áreas para atingirmos melhores resultados, o que é acompanhado por meio de indicadores.”
Clausell apontou realizações de destaque:
Projeto de Ateste de Notas Fiscais – usando a certificação digital, o Serviço de Contabilidade Fiscal adotou processo eletrônico das notas fiscais no trâmite de pagamento, reduzindo 7 mil impressões ao mês.
Linha Verde – o Refeitório passou a oferecer aos funcionários uma opção de proteína alternativa à carne, buscando propiciar uma alimentação mais benéfica à saúde e ao meio ambiente.
Controle de impressões – visando reduzir o consumo de folhas de papel, as páginas são impressas com marca d’água da instituição e identificação no cabeçalho do usuário que fez a solicitação.
Compras sustentáveis – Foram promovidos editais exclusivos para micro e pequenas empresas, realizamos compra de alimentos da agricultura familiar e aquisições conjuntas com hospitais da mesma esfera, criamos o catálogo de itens sustentáveis e inserimos critérios sociais nas licitações. Os resultados alcançados foram: 15 pregões publicados com critério social, com concorrência apenas de micro e pequenas empresas; 22 pregões publicados com critério de sustentabilidade ambiental nos mercados de equipamentos de pequeno porte, materiais de engenharia, material médico-hospitalar e para a contratação de serviços; 2 chamadas da agricultura familiar para aquisição de alimentos; incremento no número de itens sustentáveis de 0,82% para 1,03%; e 5 eventos de interação com os fornecedores para divulgação da agenda de licitações e divulgação do projeto de agricultura familiar.
Diretrizes ou eixos estratégicos estipulados para o ciclo 2024, em termos de gestão e assistência
As prioridades estratégicas da instituição hospitalar se referem ao cuidada assistencial, otimização de recursos/espaços e sustentabilidade. “As prioridades estratégicas do HCPA estão divididas em três eixos: Cuidado centrado no paciente, Otimização de recursos e espaços e Sustentabilidade. No primeiro deles, nosso foco é maximizar o valor entregue ao paciente de forma segura e eficiente. Para isso, acompanhamos, por meio de indicadores, a adoção das metas internacionais de segurança do paciente, estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde, e a adesão aos protocolos assistenciais, que verificam a eficiência da assistência em casos de sepse em adultos, dor torácica, acidente vascular cerebral, dor em adultos e acesso vascular. As ações desse eixo são organizadas em linhas de cuidado e são impactadas pela produção científica e pela preceptoria de residentes médicos”, explica Clausell.
“Na prioridade Otimização de recursos e espaços, trabalhamos para adotar as melhores práticas e promover o aprimoramento contínuo dos nossos processos. Dentro desse objetivo, destaco a estruturação do Centro de Ciência de Dados para atuar na extração, transformação e análise de dados de sistemas digitais do hospital e fora dele. O objetivo é desenvolver assistência, pesquisa, ensino e gestão através de análises avançadas de dados, proporcionando acesso ágil e seguro a informações que apoiem a tomada de decisões clínicas. Perseguimos também os melhores resultados em média de permanência na Clínica Médica e na Pediatria, na redução do cancelamento de cirurgias por causas hospitalares, no aumento do índice de aprovação de projetos de pesquisa e na manutenção da excelente avaliação da qualidade das nossas residências médicas e multiprofissionais”, adiciona.
“Ainda nesse tópico, como um movimento contínuo guiado pelo nosso Plano Diretor, tivemos um importante avanço na reestruturação de áreas no Bloco A e de ocupação dos Blocos B e C, a exemplo da transferência do Bloco Cirúrgico”, completa.
“No eixo da Sustentabilidade, as iniciativas estão estruturadas no Plano de Logística Sustentável, que estabelece ações para medir e reduzir os impactos negativos decorrentes das nossas atividades no meio ambiente e na sociedade. Alinhado ao conceito ESG, baseamos nossas ações de governança na transparência ativa e no controle de riscos; e no âmbito social, pautamos nossas iniciativas de acordo com o Movimento pelo Respeito.”
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As tendências e/ou inovações que ditarão os rumos da saúde nos próximos anos e como a organização enxerga a sua atuação diante de tais transformações
“Nessa área, entendemos que os usuários do sistema de saúde estão buscando cada vez mais otimizar o seu tempo e adotar práticas sustentáveis. Para isso, temos trabalhado em melhorias nas funcionalidades do aplicativo Meu Clínicas, que oferece serviços aos nossos pacientes sem que precisem se deslocar ao hospital. Em 2023, implantamos a tecnologia de consulta remota diretamente pelo aplicativo, sem a necessidade de instalar outras ferramentas, o que traz benefícios para pacientes e profissionais, que realizam o atendimento diretamente pelo sistema de gestão do HCPA. A estrutura física para realização das teleconsultas também foi ampliada e está disponível em mais salas do serviço ambulatorial.”
“As iniciativas de inovação seguem avançando para que continuemos atendendo às demandas do mercado e estejamos inseridos nesse ecossistema. Temos prevista a implantação do Parque Tecnológico e de Inovação em Saúde do HCPA no prédio do Centro Integrado de Tecnologia da Informação, para o qual a instituição foi contemplada com edital da Finep no montante de R$ 8,3 milhões. Foi lançado este ano o primeiro edital da Incubadora Tecnológica Starts, que conta com 12 iniciativas recebendo suporte estruturado e mentoria. O programa de pré-incubação tem a parceria do Sebrae e estimula a cultura de inovação e empreendedorismo no hospital”, explica.
“Como apoio à área da pesquisa, tivemos a remodelação da área física do Biobanco, permitindo aumentar a disponibilidade de armazenamento de material biológico de pesquisa da instituição. O novo local passou por adaptações para abrigar até 50 ultrafreezers.”
Gargalos e ineficiências que devem ser foco de atenção dos governos e das organizações de saúde em 2024
“Em termos de gestão orçamentária e financeira, os principais desafios estão relacionados à necessidade de ampliar as fontes de receitas ou de captar novas fontes de financiamento para manter os quantitativos da produção de serviços ofertados à população. Entendemos ser urgente a revisão da remuneração pelos serviços prestados, especialmente a tabela SUS. Acreditamos que hospitais que oferecem atendimentos de alta complexidade e que têm desfechos melhores que a média, a exemplo do HCPA, deveriam ser remunerados de acordo com esses resultados”, defende a diretora-presidente.
“Como forma de obter novas fontes de recursos para a instituição, temos atuado para qualificar os atendimentos para convênios privados, o que permite aprimorar nosso atendimento como um todo, refletindo inclusive em melhorias para pacientes do SUS”, destaca Clausell.
“Ainda em relação à assistência, é necessário atentar para o crescente aumento da demanda da população por atendimentos de alta complexidade. Temos recebido cada vez mais pacientes críticos, que requerem maior tempo de internação, o que tem levado à superlotação recorrente do nosso serviço de Emergência. Para isso, é preciso uma revisão da rede de atenção por parte dos gestores municipais, estaduais e federais.”
“É importante lembrar que as áreas de educação, saúde e pesquisa vêm de um cenário de redução nos investimentos, o que tem impactado nosso hospital. Ainda assim, empenhamos todos os nossos esforços para nos mantermos como uma referência nesses três eixos de atuação”, finaliza.