Estatísticas e Análises | 5 de maio de 2025

Exposição à toxina na infância pode causar câncer colorretal precocemente, afirma estudo

Uma das autoras da pesquisa, a professora e pesquisadora do HCPA Patrícia Ashton-Prolla afirma que a descoberta pode resultar em novas recomendações no tratamento das infecções intestinais na primeira infância.
Exposição à toxina na infância pode causar câncer colorretal precocemente, afirma estudo

Uma bactéria comum, encontrada no intestino humano, pode ter relação com o aumento de casos de câncer colorretal em pessoas com menos de 50 anos em todo o mundo. É o que revela um estudo com participação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), uma das quatro instituições brasileiras que participam da iniciativa internacional Mutographs of cancer: discovering the causes of cancer through mutational signatures (www.mutographs.org), que visa identificar mutações no DNA que indiquem causas ambientais e hereditárias de alguns tipos de câncer. O trabalho foi publicado na Revista Nature.


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O estudo encontrou mutações no genoma que indicam exposição à colibactina, toxina produzida por algumas cepas nocivas da bactéria E.coli, frequentemente encontrada em infecções intestinais na infância. A assinatura molecular que indica ação da colibactina foi três vezes mais comum em tumores de cólon e reto removidos de pacientes com menos de 40 anos do que naqueles de pacientes com mais de 70 anos. O estudo não prova que a colibactina causa o câncer de intestino de início precoce, mas os seus achados sugerem fortemente que a toxina tem uma ação carcinogênica sobre o intestino, a qual pode iniciar antes mesmo dos 10 anos de idade. Controlar a infecção por E.coli e diminuir os efeitos nocivos da toxina poderão ser estratégias importantes para prevenir a ocorrência de câncer colorretal.


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Uma das autoras da pesquisa, a professora e pesquisadora do HCPA Patrícia Ashton-Prolla afirma que a descoberta pode resultar em novas recomendações no tratamento das infecções intestinais na primeira infância. Prolla destaca que além da contribuição para avançar no conhecimento, a participação do HCPA em grandes consórcios internacionais de pesquisa traz outros benefícios. “No caso do projeto Mutographs of cancer, nossa participação contribuiu para a formação de recursos humanos, a consolidação do biobanco institucional de pesquisa e para solidificar parcerias com outras instituições”, afirma. A professora do Serviço de Patologia Francine Hehn e o professor do Serviço de Coloproctologia Daniel Damin também são autores do estudo, que analisou 981 tumores de pacientes de 11 países das Américas, Ásia e Europa. Foram 159 amostras coletadas em pacientes no Brasil, com participação do HCPA.

Sabe-se que a obesidade, a alimentação baseada em alimentos ultraprocessados, o sedentarismo e a predisposição hereditária são fatores de risco para a doença. A incidência de casos tem dobrado a cada década nos últimos vinte anos em 27 países, e acredita-se que mais da metade dos cânceres de intestino são preveníveis. Pesquisadores do HCPA também já participaram da iniciativa do Mutographs para o estudo sobre as causas do câncer renal, analisando as células coletadas em 400 pacientes do Clínicas.

Além do HCPA, também fazem parte do estudo pesquisadores brasileiros do Hospital do Câncer de Barretos, o Instituto Nacional do Câncer e o AC Camargo Cancer Center.

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