Estatísticas e Análises | 7 de outubro de 2020

Existem evidências fortes de que o SARS-Cov-2 pode se propagar por aerossóis, alertam pesquisadores

Autores ressaltam a necessidade de novas orientações de prevenção baseadas na diferença entre aerossóis e gotículas
Há evidências fortes de que o Covid-19 se propaga por aerossóis, alertam pesquisadores dos EUA

Um novo artigo publicado na revista científica Science no dia 5 de outubro aponta que o coronavírus pode ser transmitido por aerossóis. De acordo com o texto, “há evidências esmagadoras” de que a inalação de SARS-Cov-2 “representa uma via principal” de transmissão de doenças. O artigo é assinado por cientistas de várias universidades americanas e liderado por Kimberly Prather, da Universidade da Califórnia em San Diego.

No mesmo dia, o órgão de Controle de Doenças dos EUA (CDC), atualizou a sua orientação sobre o tema, com a sugestão de se acrescentar a necessidade de possibilitar a ventilação de espaços fechados como um fator necessário, juntamente com distanciamento social, uso de máscaras, higiene das mãos e limpeza e desinfecção de superfícies (ver no final da matéria).

Embora haja consenso de que a Covid-19 é transmitido por grandes gotas de saliva que expulsamos ao tossir ou espirrar, ainda não há unanimidade se o contágio também é produzido por aerossóis, ou seja, gotas muito menores que podem viajar mais longe e permanecer suspenso no ar por mais tempo.

Suspensos no ar por muitos segundos ou horas

O artigo explica que os vírus em aerossóis “podem permanecer suspensos no ar por muitos segundos ou horas, como fumaça, e serem inalados”, e eles também são “altamente concentrados perto de uma pessoa infectada, de modo que podem infectar mais facilmente as pessoas que estão próximas”. Além disso, os aerossóis contendo vírus infecciosos “também podem viajar mais de dois metros e se acumular no ar do ambiente mal ventilado, levando a situações de difusão excessiva”.

Portanto, além do uso de máscaras, do distanciamento e das medidas de higiene (lavagem frequente das mãos), os pesquisadores recomendam aos responsáveis pela saúde pública a articularem estratégias de divulgação sobre a importância de evitar ambientes mal ventilados, além de estratégias de filtragem de ar em locais fechados.

É preciso usar máscara o tempo todo?

De acordo com os pesquisadores, é importante que as pessoas usem máscaras o tempo todo em locais públicos e espaços confinados, não apenas quando estiverem próximas das outras.


“Não é apenas uma questão acadêmica, mas um ponto que ajudará a reduzir a transmissão se as autoridades de saúde pública oferecerem orientações claras e enérgicas sobre isso”, disse Linsegy Marr, da Virginia Tech University. De acordo com Prather, o objetivo do artigo “é deixar claro que o vírus SARS-Cov-2 viaja pelo ar e que as pessoas podem ser infectadas por inalação”. Por esse motivo, ela considera que “é importante reconhecer” esta via de transmissão “para que os esforços se concentrem na ‘limpeza do ar’ e nas políticas de orientação sobre como evitar ambientes fechados de risco”.


Mas, além disso, os autores se propõem a buscar um consenso na polêmica sobre a transmissão de aerossóis para que ocorra uma orientação clara e coerente para o público.

Revisão da avaliação de distância

Os pesquisadores sugerem que seja revisto a avaliação de distância e que se obtenha a consciência da diferença entre aerossóis e gotículas (o tamanho de 100 micrômetros das gotículas em comparação com 5 micrômetros dos aerossóis). Para eles, há a necessidade de explicar a diferença entre aerossóis e gotículas usando a medida de comprimento de 100 µm (100 micrômetros), assim como impacto aerodinâmico de um para o outro.


“Os vírus em gotículas (maiores que 100 µm) normalmente caem no solo em segundos a dois metros da fonte e podem ser pulverizados como pequenas balas de canhão em indivíduos próximos. Por causa de seu alcance de deslocamento limitado, o distanciamento físico reduz a exposição a essas gotículas”, pontuam.

Já os vírus em aerossóis (menores que 100 µm) “podem permanecer suspensos no ar por vários segundos a horas, como fumaça, e ser inalados. Eles estão altamente concentrados perto de uma pessoa infectada, portanto, podem infectar pessoas nas proximidades”. Porém, eles alertam que essas partículas que contêm vírus infecciosos também podem viajar por mais de dois metros e se acumular no ar em um ambiente mal ventilado, o que leva “a eventos de superespalhamento”.


SARS-CoV-2 e potencial transmissão aérea

No mesmo dia 5, O CDC (Centro de Controle de Doenças, dos EUA) atualizou a sua orientação, mas salientou que a rota de transmissão aerotransportada (por aerossóis) ainda é incomum – gotas maiores de tosses, espirros e conversas ainda são a principal fonte. Ou seja, o órgão oficial do governo norte-americano destaca que o maior risco é estar perto fisicamente de alguém que tem o vírus, mas reforçam que espaços lotados fechados e mal ventilados são mais arriscados do que ao ar livre. Com o comunicado, o CDC passar a reconhecer que a transmissão aérea também é uma ameaça, pois pequenas partículas podem permanecer no ar por minutos a horas. E se inaladas, podem levar a uma infecção.


“As intervenções existentes para prevenir a propagação do SARS-CoV-2 parecem suficientes para tratar a transmissão tanto por contato próximo quanto sob as circunstâncias especiais favoráveis à transmissão potencial por via aérea. Entre essas intervenções, que incluem distanciamento social, uso de máscaras, higiene das mãos e limpeza e desinfecção de superfícies, ventilação e evitar locais fechados lotados são especialmente relevantes, onde tais circunstâncias podem aumentar a concentração de pequenas gotas suspensas e partículas portadoras de vírus infecciosos.” diz o CDC em nota oficial.


Com informações do jornal El Nuevo Herald, BBC e CDC. Edição do Setor Saúde.



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