EUA: Um novo tipo de hospital está surgindo
Hospitais sem leitos, de curta duração e atendimento virtualA mudança da natureza dos cuidados de saúde e o desejo dos pacientes por conveniência deram origem a formatos de cuidados não tradicionais, tais como “micro-hospitais“, e mais recentemente os chamados “hospitais bedless” (sem leitos).
Os hospitais (bedless) têm as mesmas características hospitalares padrão, incluindo salas de infusão, e até emergências, mas não oferecem leitos para o período da noite.
O MetroHealth System, em Cleveland (EUA) recentemente inaugurou uma unidade deste tipo ao custo de 48 milhões de dólares. O CEO da instituição, Akram Boutros, disse que a equipe espera atender 3 mil pacientes no primeiro ano de operação. “Reduz custos e o risco de infecção,” disse. E complementa: “as pessoas vão para casa [mais rápido] e ficam em um ambiente menos perigoso, onde tendem a ficar melhor em um menor período de tempo. ”
A consultoria Frost & Sullivan destacou em um relatório que o crescimento de tais instalações é devido ao aumento da demanda pelo uso de serviços ambulatoriais. Muitas vezes, estas estruturas compensam pelo menor custo do cuidado comparado aos regimes de internamento mais custosos (como o cuidado intensivo).
Outros questionam se o aumento de instalações ‘bedless’ significa um menor poder de investimento em instalações para pacientes com necessidades de tratamento complexos.
“O crescimento do número de prestadores de cuidados ambulatoriais, valores remuneratórios reduzidos e modelos de pagamento com base na qualidade têm exigido dos CEOs de sistemas hospitalares iniciativas para a criação de novos modelos de prestação de cuidados”, disse o relatório.
O Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova Iorque – muitas vezes escolhido como o principal centro de câncer nos Estados Unidos – por sua vez, preferiu construir 16 andares em um novo centro de câncer com foco em cuidados ambulatoriais, com apenas 28 leitos para curta duração. O Josie Robertson Surgery Center (foto principal) realiza prioritariamente cirurgias menos complexas, possibilitando que pacientes recebam alta dentro de poucas horas.
A inovação surgiu alguns anos atrás, quando os médicos do Sloan Kettering começaram um programa de brainstorming que concretizou a ideia de criar e padronizar protocolos para cirurgias de rotina, como a mastectomia, que poderia ser realizada sem hospitalizações prolongadas.
Dr. Brett Simon, diretor do centro de cirurgia, disse que os médicos agora usam um padrão de instrumentos e antibióticos para cada procedimento e solicitam um mesmo grupo de exames de laboratório para monitorar os pacientes depois da cirurgia. “Podemos gerenciar pacientes de uma forma que sabemos ser uma via eficaz”, disse Simon.
Em caso de problemas, os pacientes podem rapidamente ser estabilizados e transferidos para a internação hospitalar localizada nas proximidades, disseram os executivos da Sloan Kettering ao portal de notícias Stat.
Da mesma forma, o Mercy Hospital’s Virtual Care Center, do Missouri, utiliza chamadas de vídeo para os pacientes, poupando tempo e dinheiro, até mesmo aqueles com condições complexas e crônicas, de acordo com reportagem da CNN Money. É especialmente benéfico para pacientes que moram longe da unidade de saúde.
Segundo a reportagem é preciso quebrar certos conceitos de atendimento, como o de que o cuidado deve ser prestado por completo no ambiente do hospital. Dan Milner, um dos profissionais que opera o modelo virtual no Mercy Hospital´s, diz que há uma ideia antiquada ao se pensar a saúde, referindo-se ao encaminhamento de todas as demandas para as emergências dos hospitais.
Corresponsáveis
Sob novas diretrizes federais, os hospitais norte-americanos passaram a ser corresponsáveis por manter os custos baixos, sendo penalizados se ocorrem reinternações após o primeiro atendimento. Para conquistar maior resolutividade, as instituições estão se voltando para alternativas como chats de vídeo, e-mail e outras comunicações on-line para manter os pacientes fora das emergências sempre que possível. As reinternações custam ao governo 41,3 bilhões de dólares por ano segundo relatório do governo.
Distância encurtada
Um senhor que sofreu um derrame, chamado Leroy Strubberg, de 80 anos, vive em uma fazenda na localidade de New Haven, no Missouri, distante mais de uma hora do Hospital Mercy. Inscrito no programa de cuidados em casa, ele fala duas vezes por semana com os funcionários do Mercy Virtual Care, chamados de ´navegadores´.
Os navegadores se conectam a Strubberg em um iPad fornecido pelo hospital, e fazem as mesmas perguntas que fariam durante uma visita de rotina: Como você está se sentindo? Você foi tomar o medicamento? O que machuca?
Eles também orientam Ruth Ann, mulher de Strubberg, sobre a forma correta de usar um dispositivo de pressão arterial que se conecta ao iPad, utilizado para enviar informações do paciente aos profissionais de saúde.
Em duas ocasiões, a tecnologia permitiu que deslocamentos não fossem feitos, em ocorrências em que Strubberg pensou que eram graves, mas não eram. Dores no peito que necessitaram a mudança de medicação, e uma queda na qual foi verificado (virtualmente) que nenhuma fratura ocorrera, bastando intervenções mais simples feitas pelos próprios familiares, em casa. Assim como em uma consulta presencial, ambas contaram com o auxílio de profissionais de saúde, que por meio da tecnologia puderam conversar e ter contato visual com o paciente através da câmera do dispositivo.