Estatísticas e Análises | 26 de outubro de 2024

Estudos mostram que manter a flora intestinal saudável contribui para prevenção do câncer de mama

Desequilíbrios podem levar a uma inflamação crônica, fator de risco para muitas neoplasias, incluindo a mamária.
Estudos mostram que manter a flora intestinal saudável contribui para prevenção do câncer de mama

A relação entre a microbiota intestinal e o câncer de mama é um campo de pesquisa emergente que está revelando como a composição e a saúde da flora do intestino podem influenciar o desenvolvimento e a progressão de diferentes tipos de tumor, incluindo o mamário. De acordo com a oncologista clínica Maria Cristina Figueroa, da Oncoclínicas Curitiba (Grupo Oncoclínicas&Co.), estudos (ver no final da matéria) sugerem que essa interferência pode ocorrer através de vários mecanismos, incluindo inflamação, metabolismo hormonal, integridade dessa barreira e modulação do sistema imunológico.


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“O equilíbrio ajuda a manter um sistema imune robusto que pode identificar e eliminar células cancerígenas, enquanto os desequilíbrios podem enfraquecer a resposta imunológica e aumentar a susceptibilidade ao câncer”, complementa.

Nos últimos anos, diferentes trabalhos internacionais relacionam a saúde do intestino e as doenças oncológicas, mostrando que alterações podem afetar o sistema imunológico e sua capacidade de responder às células cancerígenas já que uma das funções desse universo de micro-organismos do trato gastrointestinal é justamente equilibrar o metabolismo. Entre as consequências dessa desordem na flora intestinal, a especialista cita a inflamação crônica e a liberação de citocinas inflamatórias que podem influenciar o ambiente tumoral e a sua progressão.

“Uma microbiota desequilibrada pode afetar a metabolização e a eliminação do estrogênio, potencialmente aumentando o risco de câncer de mama”, explica a oncologista.

Barreira intestinal

A saúde dessa flora é considerada fundamental para manter a integridade da barreira intestinal não permitindo que patógenos e toxinas entrem na corrente sanguínea, contribuindo para a inflamação e, potencialmente, afetando a formação do tumor, a carcinogênese. Há também evidências, como a ação de bactérias intestinais na modulação de compostos quimioterápicos, que podem influenciar a eficácia dos tratamentos, como a quimioterapia e a imunoterapia, impactando a resposta aos medicamentos e a toxicidade.


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Mas como saber se a microbiota está desregulada? Entre os principais indícios estão a diarreia ou prisão de ventre, vômitos, distensão abdominal, além de infecções de pele como acne, entre outros sintomas. Nesses casos, é importante agendar uma consulta médica para avaliação e, se necessário, realizar exames para um diagnóstico mais assertivo.

A prevenção se dá com a manutenção de hábitos saudáveis como alimentação equilibrada, reduzindo a ingestão de produtos ricos em sódio e açúcares e aumentando o consumo de fibras. “Uma barreira intestinal comprometida pode permitir que patógenos e toxinas entrem na corrente sanguínea, contribuindo para a inflamação e potencialmente afetando a carcinogênese”, alerta a especialista.

Estudos internacionais

O câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres e a projeção do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é a ocorrência de aproximadamente 74 mil novos casos em 2024. Apenas em Curitiba, a estimativa é de 770 registros por 100 mil habitantes. Em todo o mundo, avançam as pesquisas não apenas em busca de novas estratégias de tratamento, mas de informações sobre a origem dessa doença oncológica, identificando os mecanismos envolvidos. Maria Cristina Figueroa cita alguns desses estudos:

Gut Microbiota and Breast Cancer Risk: A Systematic Review, na Frontiers in Oncology, 2020, é uma revisão sistemática que examina as evidências disponíveis sobre essa relação, destacando os principais achados e lacunas na pesquisa. 


Gut Microbiota and Estrogen Metabolism saiu no Frontiers in Microbiology, em 2017, e explora a relação com o metabolismo dos estrogênios, discutindo como isso pode afetar o risco de tumor mamário. 


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Gut Microbiota and Cancer: From Pathogenesis to Therapeutics, publicado no World Journal of Gastroenterology, em 2018, discute as interações que podem impactar a patogênese e as abordagens terapêuticas.


Gut Microbiome and Cancer Immunotherapy, no The Journal of Immunology, também em 2018, investiga a sua relação com a eficácia da imunoterapia para o câncer, incluindo o de mama, e como a sua modulação pode melhorar os resultados terapêuticos.


The Role of Gut Microbiota in Hormone-Related Cancers, no Cancer Research, em 2019, aborda como essas alterações podem estar relacionadas com o surgimento de neoplasias hormonais, incluindo o de mama, através de mecanismos ligados ao metabolismo hormonal e à inflamação.“Compreender esses fatores pode abrir novas perspectivas para a prevenção e o tratamento desta neoplasia, possivelmente através de intervenções direcionadas à microbiota intestinal”, finaliza.

 

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