Estatísticas e Análises | 21 de julho de 2024

Estudos clínicos com a participação de pacientes brasileiros mostram resultados positivos no tratamento do Mieloma Múltiplo

A combinação de belantamabe mafodotina com pomalidomida e dexametasona reduziu o risco de progressão da doença ou morte em quase 50% em comparação com a combinação de tratamento padrão no mieloma múltiplo recidivado/refratário.
Estudos clínicos com a participação de pacientes brasileiros mostram resultados positivos no tratamento do Mieloma Múltiplo

O ano de 2024 traz novidades para o tratamento do Mieloma Múltiplo, terceiro tipo de câncer sanguíneo mais comum em todo o mundo1. O mieloma ainda não tem cura, porém, com opções terapêuticas disponíveis, os pacientes têm vivido mais sem perder a qualidade de vida2.


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Os resultados positivos do DREAMM-8, estudo que avaliou o belantamabe mafodotina (belamaf) em combinação com pomalidomida mais dexametasona (PomDex) comparado a bortezomibe mais PomDex em pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário, foram apresentados na Reunião Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e publicados simultaneamente no New England Journal of Medicine3. Os dois estudos também foram apresentados no Congresso da Associação Europeia de Hematologia (EHA) 2024.


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No objetivo primário de sobrevida livre de progressão, belamaf combinado com PomDex mostrou melhora estatística e clinicamente significativa em comparação à combinação de bortezomibe. Com um acompanhamento mediano de 21,8 meses, a mediana de sobrevida livre de progressão não foi alcançada no grupo tratado com a combinação de belamaf e foi de 12,7 meses com a combinação de bortezomibe. No final de um ano, 71% dos pacientes no grupo da combinação com belamaf estavam vivos e não haviam progredido em comparação com 51% no grupo do tratamento controle.


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Foi observada uma tendência positiva de sobrevida global nesta primeira análise interina do DREAMM-8, e em 12 meses, 83% dos pacientes estavam vivos no grupo da combinação com belamaf comparados a 76% do grupo bortezomibe mais PomDex.

Durante a Asco 2024, os resultados positivos do estudo (bem como do DREAMM-7) foram apresentados. Segundo a médica Vania Hungria, cofundadora da International Myeloma Foundation Latin America e hematologista da Clínica São Germano, que participou do Congresso, o Brasil destacou-se, principalmente, por sua posição nos estudos clínicos atuais, principalmente o DREAMM-7.


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“O país esteve muito bem-posicionado, pois tivemos um número bem relevante de participantes nas pesquisas do DREAMM-7. Isso ajuda também a melhorar a quantidade de dados”, afirmou dra. Vania, que participou ativamente dos estudos clínicos, incluindo vários pacientes brasileiros, sendo a principal recrutadora do estudo ao redor do mundo.

DREAMM-7

No estudo DREAMM-7, belamaf foi avaliado em combinação com bortezomibe e dexametasona (BorDex) comparado a terapia padrão envolvendo a combinação de daratumumabe mais BorDex. Belamaf combinado com BorDex reduziu em 59% o risco de progressão da doença ou morte dos pacientes em comparação à combinação de daratumumabe5. Com um acompanhamento mediano de 28,2 meses, a mediana de sobrevida livre de progressão foi de 36,6 meses na combinação de Belamaf em comparação aos 13,4 meses na combinação de daratumumabe4,5.


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Nesta análise interina do DREAMM-7, onde 494 participantes foram randomizados em uma proporção de 1:14,5, uma forte tendência de melhora da sobrevida global foi observada, com uma redução de 43% no risco de morte dos pacientes tratados com a combinação de belamaf comparado à terapia padrão5.

“O resultado apresentado é importante. A pesquisa comparou pacientes que recaíram da doença. O tratamento do estudo pode vir a ser uma terapia padrão”, afirma Dra. Vania.

Nos dois estudos, o benefício das combinações com belamaf foi observado em todos os subgrupos pré-especificados, incluindo aqueles refratários à lenalidomida e aqueles com citogenética de alto risco5. Nenhum sinal novo de toxicidade foi observado e o perfil de segurança e a tolerabilidade das novas combinações foram consistentes com o perfil já conhecido dos agentes individuais4,5.

DREAMM

DREAMM é um programa global de desenvolvimento clínico do belamaf, droga ainda sem aprovação regulatória no Brasil, que avalia sua eficácia e segurança em diferentes combinações e perfis de pacientes com mieloma múltiplo.

O DREAMM-7 e DREAMM-8 são estudos comparativos de fase III, multicêntricos, abertos e randomizados que avaliaram o belamaf em combinação com outros medicamentos no tratamento de pacientes com mieloma múltiplo recidivado/refratário previamente tratados com pelo menos uma linha de tratamento3,7. No Brasil, os dois estudos foram conduzidos em 10 centros de pesquisa e contaram com a participação de diversos pacientes.

belamaf

O belantamabe mafodotina é um anticorpo conjugado à droga (ADC), que compreende um anticorpo monoclonal, que se liga ao BCMA (antígeno de maturação de linfócitos B, amplamente expresso na superfície das células do mieloma) e o agente citotóxico auristatina F4.

A diretora médica de Oncologia da GSK, Tatiana Pires, ressalta a importância do programa DREAMM para os pacientes. “Pacientes com Mieloma Múltiplo precisam de opções de tratamento que sejam eficazes e prontamente acessíveis após a primeira recidiva. Estamos particularmente entusiasmados com a eficácia do belamaf em combinação com terapias consideradas padrão dada à alta necessidade não atendida no mieloma múltiplo recidivado/refratário”, afirma. “O benefício substancial de sobrevida livre de progressão e a forte tendência de sobrevida global em comparação com o regime de tratamento padrão reforçam o potencial do belamaf usado em combinação para redefinir o tratamento do mieloma múltiplo após a primeira recaída”, concluiu Tatiana Pires.

Mieloma múltiplo

O mieloma múltiplo é o terceiro tipo de câncer do sangue mais comum no mundo1,2. Geralmente, é considerado tratável, mas não curável2. Globalmente, aproximadamente 188.000 casos novos de mieloma são diagnosticados por ano1.

No Brasil, estimam-se mais de 7 mil novos casos por ano, representando 1% de todos os tipos de câncer e 10% entre os cânceres hematológicos8. Segundo dados globais, a maior prevalência do mieloma múltiplo é em pessoas acima de 60 anos, mas jovens também podem desenvolver o doença8.

“Já tivemos no Brasil, diagnóstico de uma criança com 8 anos de idade, que foi o mais novo da literatura. Mas, é muito raro”, detalha a médica.

“No mieloma múltiplo, as células que estão comprometidas são chamadas de plasmócitos. E o que acontece é que como essas células vão aumentando na medula óssea, elas vão levando a diversos problemas. Nestes casos, o paciente pode ter anemia, fraturas frequentes e várias lesões ósseas”, explica Dra. Vania. Muitos pacientes costumam também sentir cansaço e eventual alteração nas funções renais. “É muito frequente procurarem um médico por dores nas costas. E, nestes casos, muitas pessoas demoram um tempão para fazer o diagnóstico. Porque não pensa em mieloma”, acrescenta a hematologista.

Os resultados desses estudos mostram um avanço no tratamento do mieloma múltiplo e quando aprovados no Brasil, poderão ser considerados como opções terapêuticas para pacientes que enfrentam a doença. “Até 20 anos atrás, a sobrevida global mediana desses pacientes era de 2 a 3 anos. Hoje, com todo esse avanço no tratamento, a sobrevida global mediana passou para 8 anos”, finalizou Dra. Vania.


Referências:
  1. Bray F, Laversanne M, Sung H, et al. Global cancer statistics 2022: GLOBOCAN estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA Cancer J Clin. 2024; 1-35. doi: 10.3322/caac.21834. Acesso em abril de 2024.
  2. Kazandjian D. Multiple myeloma epidemiology and survival: A unique malignancy. Semin Oncol. 2016;43(6):676–681. doi:10.1053/j.seminoncol.2016.11.004
  3. ClinicalTrials.gov ID NCT04246047. Evaluation of Efficacy and Safety of Belantamab Mafodotin, Bortezomib and Dexamethasone Versus Daratumumab, Bortezomib and Dexamethasone in Participants with Relapsed/Refractory Multiple Myeloma (DREAMM 7). Acesso em abril de 2024 Link
  4. GSK press release issued 05 February 2024. DREAMM-7 phase III trial shows Blenrep combination nearly tripled median progression-free survival versus standard of care combination in patients with relapsed/refractory multiple myeloma. Disponível em: DREAMM-7 phase III trial shows Blenrep combination nearly tripled median progression-free survival versus standard of care combination in patients with relapsed/refractory multiple myeloma | GSK. Acesso em abril de 2024.
  5. Mateos MV, Robak P, Hus M, et al. Results from the randomized phase III DREAMM-7 study of belantamab mafodotin (belamaf) + bortezomib, and dexamethasone (BVd) vs daratumumab, bortezomib, and dexamethasone (DVd) in relapsed/refractory multiple myeloma (RRMM). J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 36; abstr 439572). DOI 10.1200/JCO.2024.42.36_suppl.439572. Acessado em abril de 2024 Link
  6. GSK press release issued 07 March 2024. GSK announces positive results from DREAMM-8 phase III trial for Blenrep versus standard of care combination in relapsed/refractory multiple myeloma. Disponível em: GSK announces positive results from DREAMM-8 phase III trial for Blenrep versus standard of care combination in relapsed/refractory multiple myeloma | GSK. Acessado em abril de 2024
  7. ClinicalTrials.gov ID NCT04484623. Belantamab Mafodotin Plus Pomalidomide and Dexamethasone (Pd) Versus Bortezomib Plus Pd in Relapsed/Refractory Multiple Myeloma (DREAMM 8). Link. Acessadoo em abril de 2024
  8. Oncologia Brasil. Campanha de Conscientização do Mieloma Múltiplo. Disponível em: Link. Acessado em abril de 2024.

 



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