Envelhecer bem é um direito
Em artigo, Marcos Cunha (Conselheiro do SINDIHOSPA e coordenador do Moderna Idade - Núcleo de Residenciais Geriátricos da instituição) alerta sobre a falta de políticas públicas relacionadas aos atendimentos especializado das ILPIs.
O Censo 2023 revelou que, pela primeira vez, a população idosa é superior a de jovens: 15,6% têm mais de 60 anos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que, em 2046, os 60+ serão 28% e, em 2070, 37,8% – ou seja, um de cada três brasileiros.
Isso traz desafios expressivos para o futuro do país, como para a previdência social, o sistema de saúde e, também, as estruturas de acolhimento e assistência a essa população, que tem uma série de cuidados específicos que precisam ser observados.
Diante dessa realidade, cresce a urgência para que as Instituições de Longa Permanência para Idosos sejam reconhecidas como fundamentais para nossas próximas décadas. Longe da imagem estigmatizada de “asilos” do passado, as ILPIs têm sido essenciais para oferecer cuidado especializado ao público 60+.
A atenção qualificada que prestam traz um impacto direto na saúde da pessoa idosa: ela assegura a administração correta de medicamentos na hora certa, alimentação balanceada e adequada às necessidades individuais e estimula a atividade física e mental. Além disso, promove vida em comunidade, com atividades lúdicas, convivência entre pares e fortalecimento do senso de pertencimento.
Esse regime de cuidados holísticos resulta em uma melhora significativa na qualidade dos residentes e, consequentemente, na sua saúde. Idosos bem cuidados em ILPIs apresentam menor incidência de internações hospitalares e re-hospitalizações, aliviando a carga e otimizando os recursos do sistema de saúde.
No entanto, o Estado ainda não compreendeu a urgência de apoiar esses serviços. Inexistem instituições públicas – e as filantrópicas sobrevivem com extrema dificuldade, graças ao esforço hercúleo de gestores e voluntários.
Da mesma forma, faltam políticas públicas de financiamento, incentivos fiscais, linhas de crédito específicas e regulamentações que reconheçam a importância e o papel estratégico das ILPIs como equipamentos de apoio à saúde, à assistência social e à cidadania.
Oferecer esse cuidado especializado exige investimento em estrutura física, recursos humanos capacitados, insumos e equipamentos, bem como o atendimento das legislações, que são bastante rigorosas.
Soma-se a isso o preconceito ainda existente quanto à institucionalização de idosos. O medo da solidão, a culpa pela decisão e a generalização de casos pontuais de maus tratos acabam por obscurecer o trabalho sério e profissional da maioria desses locais.
Todavia, o que acontece, muitas vezes, é que o abandono ocorre dentro das próprias casas, quando o idoso é deixado sozinho, à mercê de cuidadores sem qualificação adequada, ou que também sofre do alto custo pessoal e emocional dessa missão – o burnout do cuidador é uma realidade ainda pouco falada.
O Brasil e, especialmente, os governos, precisam olhar para esta realidade. Seremos um país cada vez mais idoso – e devemos permitir que essa população viva com conforto, cuidado, atenção, respeito e afeto, em um ambiente repleto de oportunidades.
As ILPIs não são a antessala da morte. São portos seguros da velhice, onde o tempo é respeitado, a história de vida é valorizada e cada dia pode ser vivido com leveza, alegria e sentido. Apoiar essas instituições é investir em um futuro digno para todos nós. Envelhecer é um privilégio, mas envelhecer bem é um direito.
Marcos Cunha é Conselheiro do SINDIHOSPA (Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre) e coordenador do Moderna Idade – Núcleo de Residenciais Geriátricos da instituição.