Economia avança, saúde ainda espera
Em artigo, Alfredo Pessi (CEO do Grupo Pessi), analisa o cenário da saúde no Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
O Litoral Norte gaúcho vive uma evolução acelerada, com crescimento populacional constante que, entre 2010 e 2022, superou 50% em alguns municípios, segundo o IBGE. Hoje, são quase um milhão de moradores fixos nos 23 municípios e uma população flutuante que pode passar de 3,5 milhões de pessoas durante a temporada de verão. O contexto traz à tona demandas crescentes. Obras de infraestrutura, como saneamento, investimentos no porto de Arroio do Sal, reativação do aeroporto de Torres e a chegada de redes educacionais mantêm esse crescimento e impulsionam o turismo, o mercado imobiliário e os serviços, buscando sustentar um cenário econômico estruturado.
Entretanto, a saúde segue como um setor defasado. Estima-se que, diariamente, cerca de 300 pacientes saiam somente de Capão da Canoa, Torres e Xangri-Lá em direção a Porto Alegre, em busca de consultas ou continuidade de tratamentos. Em Torres, por exemplo, o pronto atendimento realizou mais de seis mil atendimentos em apenas um mês — muitos deles de casos que precisaram ser encaminhados à Capital pela falta de estrutura local. Em outro caso, relatos apontam que pacientes aguardam até 60 dias por cateterismo eletivo, quando a média esperada é de apenas sete dias. Esses deslocamentos oneram os cofres municipais — que arcam com transporte, hospedagem e logística —, causam desgaste físico e emocional aos pacientes e sobrecarregam o sistema da Capital, que chega a operar com emergências com o triplo da capacidade.
O quadro motivou a organização do movimento Pró‑Saúde Litoral, com a adesão de lideranças políticas, empresariais e profissionais da área. Legislativos municipais já sinalizaram a intenção de reconhecer formalmente o movimento e integrá-lo como plataforma estratégica regional. O argumento central é que a saúde de alta complexidade representa também um mercado em expansão, capaz de gerar empregos, atrair especialistas, estimular a cadeia de serviços e dinamizar a economia local com nova fonte de receita e valor social.
Há sinais concretos de avanço, com a inauguração recente de uma unidade de hemodinâmica em Xangri-lá, que já reduz risco de morte e encaminhamentos à Porto Alegre por casos de infarto. Em Capão da Canoa, está em construção o primeiro hospital de alta complexidade da região. E, além disso, há previsão de instalação de uma Unidade de Alta Complexidade em Oncologia em Osório, diminuindo o sofrimento de muitos pacientes que fazem deslocamentos longos.
O Litoral Norte cresce sob os pilares da infraestrutura e do desenvolvimento econômico, mas ainda carece de um salto estratégico na saúde para acompanhar esse ritmo. A estruturação local de alta complexidade médica não é apenas uma exigência social: é uma aposta no bem-estar dos residentes e um novo vetor de progresso. Fazer da saúde um ativo regional, reduzindo deslocamentos, retendo recursos e transformando vidas é o caminho para consolidar um futuro integrado e sustentável para quem mora e visita as cidades litorâneas gaúchas.
Artigo de Alfredo Pessi, CEO do Grupo Pessi – responsável pela empreendimento Markho Life Complex (Capão da Canoa/RS) em parceria com a Construtora Tedesco.