Estatísticas e Análises | 5 de junho de 2023

“Decida com o coração”: o que tem de científico nessa frase?

Grand Round do Hospital Moinhos de Vento debateu os segredos da conexão entre cérebro e coração
Decida com o coração o que tem de científico nessa frase

Quem nunca aconselhou alguém usando a expressão “escolha com coração”? O dito popular ganhou a atenção de cientistas — e a conexão entre o cérebro e o coração vem ocupando mais espaços na literatura médica ao longo do tempo. O assunto reuniu especialistas na edição de maio do Grand Round, evento promovido pelo Hospital Moinhos de Vento.

A relação entre o sentimento e a tomada de decisão – também chamada simplesmente de intuição – foi abordada na palestra ministrada pelo neurologista Luciano Sposato, chefe do Serviço de AVC e do Programa Cérebro e Coração (Brain and Heart) da Universidade de Western, no Canadá. 


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“A intuição é um tipo de inteligência artificial humana? Onde o coração aprende a ler o cérebro e o cérebro aprende a ler o coração, mas não somos conscientes dessa comunicação e tampouco podemos decifrá-la”, ponderou o especialista. Segundo ele, estudos da Universidade de Cambridge têm analisado essa inter-relação, com testes em grupo nos quais os indivíduos eram instigados a tomar decisões que resultariam em consequências favoráveis e desfavoráveis.

Por meio do monitoramento clínico, observou-se que o coração batia em um compasso quando o resultado da decisão era positivo – e em frequência distinta quando era negativo – antes de o cérebro saber o resultado. Ou seja: o coração estava antevendo o desfecho. 

Por meio da análise dos resultados do estudo britânico, o especialista explicou o conceito de intercepção – a habilidade de perceber sinais corporais, como a diferença do batimento cardíaco. “A pessoa com maior capacidade de decodificar as mensagens que o coração envia pode tomar decisões mais assertivas”, apontou, embora ainda seja preciso confirmar a teoria com mais estudos científicos.


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No contexto médico 

Como essas hipóteses são relevantes para o contexto clínico? Mediador do encontro, o Superintendente Médico do Hospital Moinhos de Vento, Luiz Antonio Nasi, lembrou que, embora a conexão entre ambos não seja novidade, a relação bidirecional entre o coração e o cérebro pode ser maior do que se pensava. “Aprendemos, na faculdade, que apenas 5% das causas de pressão arterial são explicadas por uma doença definida. Ainda há muito a ser entendido sobre a influência que o coração faz sobre o cérebro”, refletiu.

Atualmente, há conexões que antes não apareciam, como o surgimento de doenças simultâneas na perspectiva do coração e do cérebro. Do ponto de vista prático, é importante saber que isso existe para se aprofundar em cada uma das condições, relata a chefe do Serviço de Cardiologia e Cirurgia Cardíaca e Vascular, Carisi Anne Polanczyk. “Tudo isso que está se falando sobre síndrome coração e cérebro ainda é muito novo. Para cada condição, as relações são diferentes, as conexões bioquímicas são outras. Temos de estar atentos ao paciente, tanto cardiológico como neurológico, e estudar mais e aperfeiçoar os exames de imagem. Existe uma grande oportunidade para expandir as pesquisas clínicas”, explicou. 


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De acordo com a chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, Sheila Martins, a fibrilação atrial (arritmia cardíaca) é uma das principais causas do acidente vascular cerebral (AVC). “No paciente que apresenta esse quadro, a chance da ocorrência de um AVC grave com mortalidade é cinco vezes maior. No entanto, 90% desses casos podem ser prevenidos – e a organização dos serviços de saúde para reconhecer e tratar essas doenças circulatórias do cérebro e do coração é fundamental”, argumentou. 

 Atualmente, a pesquisa clínica Promote, realizada pelo Hospital Moinhos de Vento por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), está recrutando pessoas interessadas em participar de um estudo de prevenção usando uma polipílula e orientações de hábitos saudáveis.

PROMOTE

Estão sendo selecionados voluntários com idade entre 50 e 75 anos e pressão arterial sistólica limítrofe de 121 a 139 mmHg — um pouco acima do considerado normal, mas que ainda não é regulada por uso de medicamentos. É necessário ter ao menos um dos fatores de risco para as doenças, como sedentarismo, excesso de peso, alimentação inadequada e tabagismo. O objetivo é promover estratégias de prevenção ao AVC e à demência, para mais informações: pelo telefone (51) 98041 4454 ou pelo e-mail projeto.promote@gmail.com.

Créditos da foto: Leonardo Lenskij



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