Gestão e Qualidade | 10 de agosto de 2025

Complexo de Saúde de Curitiba é a primeira organização sem fins lucrativos da América Latina a conquistar acreditação JCI de cuidados prolongados

Para alcançar os elevados padrões de qualidade e segurança exigidos pela JCI, a direção do Complexo de Saúde Pequeno Cotolengo estabeleceu, em 2020, uma parceria estratégica com o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA).
Complexo de Saúde de Curitiba é a primeira ONG da América Latina a conquistar acreditação JCI de cuidados prolongados

Cuidar das pessoas e transformar vidas. Essa é a missão da organização não governamental Pequeno Cotolengo (Curitiba-PR), que se tornou referência em assistência social pelo trabalho desenvolvido há 60 anos e que, em 2018, ampliou sua atuação para a área da saúde com unidades de transição e leitos de cuidados prolongados. No planejamento estratégico havia uma meta: a acreditação. Agora, em abril, o Complexo de Saúde Pequeno Cotolengo, com 58 leitos, se tornou a primeira organização sem fins lucrativos da América Latina a conquistar a acreditação em cuidados prolongados da Joint Commission International, a JCI.


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A busca pelo reconhecimento da excelência durou cinco anos, período no qual o time do Pequeno Cotolengo passou por alguns desafios. “Enfrentamos a pandemia da Covid-19, a transformação da organização em um complexo de saúde, a implantação do sistema de gestão Tasy e a mudança no manual de acreditação da JCI. Mas seguimos fortes no nosso objetivo: o de ampliar a percepção pública, não sendo apenas um espaço social para atendimento infantil, mas nos posicionarmos como uma instituição de saúde de credibilidade”, diz Diogo Azevedo, CEO da organização. O resultado já está sendo notado. “A acreditação possibilitou a geração de novos negócios e o aprimoramento da reabilitação de pacientes”, completa.

Para alcançar os elevados padrões de qualidade e segurança exigidos pela JCI, a direção estabeleceu, em 2020, uma parceria estratégica com o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), único representante oficial da JCI no Brasil. Desde então, o Pequeno Cotolengo passou por um robusto processo de preparação, que incluiu visitas mensais de especialistas, avaliações diagnósticas e simuladas, treinamentos alinhados ao manual de padrões da JCI e apoio técnico na estruturação e padronização de processos assistenciais e administrativos.

De acordo com Paula Bortoleto, gerente de Qualidade, “a contribuição da equipe do CBA foi fundamental para que nossas unidades hospitalares atingissem os critérios internacionais de excelência. A parceria proporcionou não apenas capacitação técnica, mas também direcionamento estratégico ao longo de toda a jornada de acreditação. O resultado desse esforço conjunto foi evidenciado na visita para acreditação, que registrou apenas um item não conforme entre mais de mil elementos de mensuração analisados pela JCI.”

Melhorias

Com não conformidades apontadas na avaliação diagnóstica tanto em processos assistenciais quanto estruturais e operacionais, a gestão do Pequeno Cotolengo apostou na mudança de cultura para conquistar a acreditação JCI. “A padronização e o monitoramento contínuo dos processos representaram um desafio significativo”, garante Azevedo.

“As maiores dificuldades superadas pelo Cotolengo eram relativas ao gerenciamento do ambiente, governança, liderança e direção”, observa Heleno Costa Junior, superintendente do CBA. Segundo ele, a maior contribuição do processo de acreditação foi a reestruturação da governança com a contratação de um gerente de qualidade e profissionais para as áreas de riscos e instalações, o que ajudou a profissionalizar a gestão da qualidade e segurança da instituição. “Atualmente, são 10 pessoas atuando no Escritório da Qualidade e Segurança do Paciente”, complementa a gestora da área. A equipe clínica também cresceu e foram criadas ainda diversas comissões, como as de controle de infecção, revisão de prontuário, revisão de óbito e nutrição.

“Uma mudança significativa se deu no processo de gerenciamento e uso de medicamentos, que passou a contar com uma farmácia central com código de barras, prontuário eletrônico e administração de medicamentos no local onde o paciente está, mudança que motivou o aumento no número de farmacêuticos. A instituição agora conta com quatro profissionais”, observa Liliana Amaral, educadora do CBA que acompanhou o processo para a acreditação. Ela cita outros exemplos de melhorias decorrentes dessa implementação da metodologia, como a organização do almoxarifado, a criação de uma área para materiais perigosos e a melhoria na gestão de resíduos, beneficiando não apenas a área acreditada, mas todas as outras áreas da instituição. “Houve também um aprimoramento na identificação de deterioração clínica e nos protocolos de parada cardiorrespiratória”, complementa.

Do ponto de vista estrutural, as unidades hospitalares passaram por obras de melhoria para se adequar aos padrões da acreditação, incluindo a instalação de um sistema de combate a incêndio, adequação de pisos e banheiros e construção de novos leitos com requisitos de segurança, como barras de proteção e campainhas de emergência.

De acordo com o CEO do Complexo, houve um grande investimento em capacitação, treinamento e infraestrutura, além de tecnologia em saúde. “Readequamos nosso quadro de funcionários, aumentando de 600 para mais de 800 colaboradores e investimos em áreas de apoio e em automação de processos”, diz Azevedo. Ele não atrela esse investimento a gastos com a acreditação e sim ao crescimento da instituição e ao objetivo estratégico de ser uma organização que segue rigorosos padrões de qualidade e segurança. “Apostamos na prevenção. Esse aumento de custo implica em melhor efetividade, repercutindo positivamente em todos os serviços oferecidos. Entre os principais ganhos estão a padronização de processos, a qualificação contínua das equipes, a melhoria da experiência do paciente e a redução de eventos adversos, com foco nas áreas clínicas prioritárias definidas pela organização com base em análises de risco e indicadores, como por exemplo, a prevenção de infecções e a diminuição de custos associados às suas complicações, além da redução do risco de lesões decorrentes de quedas. A acreditação fortalece a governança clínica, estimula a cultura de melhoria contínua, aumenta a eficiência operacional e confere à organização um importante diferencial competitivo e reputacional no setor da saúde”, argumenta. Ele destacou que o principal indicador de qualidade é a ausência de eventos com danos aos pacientes, não havendo nenhum evento com dano grave nas unidades hospitalares desde 2022.

“Estamos orgulhosos por esta conquista. A percepção coletiva é que, por ser uma organização sem fins lucrativos, o nível de exigência é menor, quando, na verdade, é maior, pois precisamos ‘fazer mais com menos’.  E esse compromisso é reconhecido por nossa comunidade que contribui regularmente com a nossa obra. O Pequeno Cotolengo conta com mais de 20 mil doadores de variados perfis e regiões que contribuem de forma contínua para a manutenção e o fortalecimento de sua missão. Isso é reflexo do trabalho sério que desenvolvemos. Por tudo isso, somos reconhecidos como uma das Melhores ONGs do Brasil pela nossa transparência e conformidade e estamos entre as 15 melhores instituições do terceiro setor do Brasil para se trabalhar, como aponta o Great Place to Work. Soma-se a isso esse reconhecimento internacional da JCI”, celebra o CEO da organização.

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