Estatísticas e Análises | 9 de outubro de 2020

Chefe de Infectologia do Hospital de Clínicas analisa últimos passos em busca da vacina contra a Covid-19

Em entrevista ao Setor Saúde, Eduardo Sprinz destaca a importância de dados rigorosos que garantam segurança
Chefe de Infectologia do Hospital de Clínicas analisa últimos passos em busca da vacina contra a Covid-19

Na terça-feira (6), o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que uma vacina contra a Covid-19 poderá estar disponível até o final de 2020. A corrida mundial em busca de uma vacina é um dos esforços mais relevantes atualmente. No mundo, nove vacinas já se encontram na Fase 3 de testes (última etapa antes da aprovação).

A OMS acompanha o desenvolvimento das vacinas com a sua iniciativa global Covax Facility, que planeja distribuir 2 bilhões de doses em todo o mundo até o final de 2021. Ao todo, 168 países fazem parte da iniciativa, incluindo o Brasil, que visa garantir investimentos globais em pesquisa, produção e distribuição das vacinas.

No Brasil, três vacinas em Fase 3 já estão sendo testadas (veja os detalhes no final da matéria). No Rio Grande do Sul, o Hospital São Lucas da PUC-RS iniciou, em agosto, testes da vacina da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech. O Hospital Nossa Senhora da Conceição irá realizar 2 mil testes com a vacina belga da Janssen Pharmaceuticals, do grupo Johnson & Johnson, com voluntários que morem em Porto Alegre e tenham mais de 18 anos (inscrições aqui).

Além do Conceição, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) também irá participar com testes da vacina belga. Os interessados terão até sexta-feira (9) para preencher o formulário manifestando interesse. Até o momento, o Clínicas não informou quantos voluntários serão escolhidos e nem a data de início dos testes.

Em entrevista ao portal Setor Saúde, o chefe do Serviço de Infectologia do HCPA, Eduardo Sprinz analisa o atual estágio na corrida por uma vacina. Sprinz acredita que as primeiras vacinas poderão estar disponíveis entre o final do ano e os primeiros meses de 2021, explicando que o desenvolvimento de imunizantes contra outros coronavírus (como o SARS, de 2002) é um fator que está ajudando na rapidez do desenvolvimento.

O chefe do Serviço de Infectologia enfatiza a importância dos testes que serão realizados pelo Clínicas, e destaca que a instituição dará uma contribuição para a sociedade ao imunizar milhares de pessoas contra a Covid-19. Sprinz aponta que a instituição tem intenção de testar outras vacinas ainda em 2020.

Entretanto, ele salienta que a população deve seguir mantendo as medidas de proteção individuais com rigor. Confira os detalhes da entrevista.

“As primeiras vacinas não serão as melhores do mundo, mas certamente terão a capacidade de nos proteger”

Sprinz explica que o desenvolvimento prévio de vacinas contra outros coronavírus explicam porque poderemos ter a vacina com aprovação mais rápida da história.


“O cenário do coronavírus é diferente de tudo o que já presenciamos. É mais ou menos explicado. Existem vacinas contra outros tipos de coronavírus, para cachorros e gatos. Então, em princípios, há dois pontos que devemos considerar, no mínimo. Primeiro, existe uma tecnologia sabida de como uma vacina pode ser efetiva contra o coronavírus, isto é, sabemos como estimular anticorpos contra a família dos coronavírus, isso é algo a favor da rapidez da vacina. O segundo aspecto é que tivemos o SARS (em 2002), e agora as vacinas mais avançadas estavam prontas para esse percursor do coronavírus. Ou seja, as vacinas estavam prontas, esperando uma oportunidade de serem testadas e utilizadas, e esse momento chegou. Então, do ponto de vista de plausibilidade e de conhecimento e tecnologia, tudo foi combinado, e sabemos como uma vacina contra o coronavírus irá proteger, sabemos qual anticorpo devemos estimular. Então, isso é possível, e temos pelo menos três estudos cientificamente mais rigorosos, com a vacina chinesa (da Sinovac Biotech), a de Oxford/AstraZeneca e da Pfizer, que estão indo muito bem e são capazes de, em princípio, induzirem a formação de anticorpos”, diz.

O infectologista acredita que é possível que, daqui a dois ou três meses, uma vacina esteja disponível. Porém, ele alerta que haverá dúvida sobre o tempo de imunização gerada pela vacina.

eduardo sprinz


Segurança das vacinas

O chefe do Serviço de Infectologia do Clínicas explica que, mesmo em tempo recorde, a aprovação da vacina terá que garantir segurança.

“Há um apelo mundial por uma vacina. Se as vacinas irão causar algum efeito adverso importante, eles acontecem imediatamente, não são tardios. Os eventos mais tardios poderão ocorrer de duas a quatro semanas após. O que precisa é seriedade dos estudos, pois uma coisa é mostrar que a vacina induz a formação de anticorpos, outra é conseguir documentar de forma clara quantos vacinados foram protegidos. Isso é fundamental, estamos atrás de informação boa. Porém, teremos sempre um cuidado para que pessoas saudáveis ou sem nenhum sintoma de infecção associada à Covid-19 não sejam submetidas a um procedimento que possa trazer mais malefício do que benefício. Todos nós queremos uma vacina, mas eu acredito que, para estar à disposição, ela precisa ser mais protetora do que trazer qualquer malefício”, afirma.

Sprinz acredita que vacina terá ampla adesão da população

Sprinz acredita que o histórico recente de ampla adesão à vacinação seguirá ocorrendo com a vacina contra a Covid-19. “Felizmente, no nosso país, talvez por ser o maior programa vacinal estatal do mundo, o índice de adesão às vacinações é muito grande. Ou seja, não temos essa cultura antivacina, o que é muito importante. O que as vacinas, mundialmente, já conseguiram evitar de mortes é algo fantástico. Então, devemos estimular à vacinação, mostrando que quando uma vacina for liberada, ela será muito mais segura e benéfica do que não ser vacinado”, explica.

Disponibilidade mais rápida das vacinas

Sprinz acredita que os diversos testes com vacina que estão sendo realizados no Brasil darão agilidade para a futura disponibilização dos imunizantes. Ele ainda destaca a contribuição que o país está dando ao desenvolvimento científico.


“Quando uma vacina é testada no nosso país, ela passa a ter prioridade. Provavelmente, essas vacinas estarão mais rapidamente disponíveis no nosso país. A vantagem é que os estudos estão sendo feitos aqui, estamos contribuindo e construindo uma ciência muito melhor”, diz.


Testes no Clínicas: contribuição à sociedade

Sprinz salienta que os testes que serão feitos pelo Clínicas com a vacina belga serão uma contribuição da instituição à sociedade, com a possibilidade de imunização de milhares de pessoas. Ele ainda afirma que o Clínicas buscará realizar testes com outras vacinas em 2020.


“Começamos recentemente com o teste de uma vacina, e pretendemos testar mais duas ou três vacinas ainda em 2020. Buscamos isso para beneficiar a nossa sociedade. Por mais que isso tenha a limitação de ser um teste, as pessoas que participarem terão a sua proteção. Embora sejam feitos um pequeno número de voluntários participantes, conseguiremos contribuir para que algumas milhares de pessoas possam estar mais protegidas contra esse novo coronavírus”, detalha.


Cuidados devem seguir sendo a prioridade

O chefe de Infectologia deixa um recado de esperança e resiliência para a sociedade, mas enfatiza que os cuidados preventivos, como uso de máscara, distanciamento social e cuidados com a higiene (lavagem frequente das mãos) seguem sendo o aliado mais importante no momento. Nesta semana, ficou evidenciado a necessidade do uso da máscara, já que em locais fechados e mal ventilados, os aerossóis podem se manter no ar por minutos e horas.


“O recado final é de esperança e resiliência, pois acredito que alguns de nós seremos vacinados no final deste ano ou início de 2021. Enquanto isso, temos que reforçar para as pessoas que não devem se expor e se protejam de forma adequada, isso sem dúvida é a mensagem mais importante: a proteção adequada de cada indivíduo”, finaliza.


Nove vacinas estão na última fase de testes no mundo

Existem atualmente nove vacinas candidatas contra a Covid-19 em testes de Fase 3 (a última fase antes da aprovação).

AstraZeneca/Universidade de Oxford  – em teste no Brasil

Sinovac Biotech (China), conhecida como CoronaVac – em teste no Brasil

BioNTech (Alemanha), Pfizer (Estados Unidos) e Fosun Pharma (China) – em teste no Brasil

Gamaleya Research Institute (Rússia), conhecida como Sputnik V – o Paraná entrou em acordo e fará testes com a vacina

Janssen Pharmaceutical Companies (Bélgica), da farmacêutica Johnson & Johnson – em breve serão iniciados os testes no Brasil

Sinopharm (China) e Wuhan Institute of Biological Products (China)

Sinopharm (China) e Beijing Institute of Biological Products (China)

Moderna (EUA)

CanSino Biologics (China) e Beijing Institute of Biotechnology (China)

 



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