Estatísticas e Análises | 21 de dezembro de 2015

Chance de cura do câncer de cabeça e pescoço diminui se tratamento não for iniciado rápido

Oncologista alerta que sistema público não oferece drogas importantes
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Investigadores do Fox Chase Cancer Center da Filadélfia (EUA) publicaram dados de 51.665 pacientes com câncer de cabeça e pescoço e correlacionaram os resultados alcançados ao tempo de espera para iniciar o tratamento. O câncer de cabeça e pescoço, que pode atingir boca, garganta, laringe (cordas vocais), nariz, seios nasais e ao redor dos olhos, tem uma incidência marcante entre os brasileiros: o câncer de cavidade oral, conhecido como câncer de boca, já é o quarto tipo mais frequente entre homens das regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2016 estima-se quase 20 mil novos casos no Brasil. O estudo, publicado recentemente no Journal of Clinical Oncology, mostrou, através das análises estatísticas, que o tempo entre diagnóstico e início de tratamento impacta significativamente nas chances de cura. Os tempos de espera foram divididos em três faixas: 46 e 52 dias, 53 e 67 dias e pacientes com espera maior do que 67 dias. A sobrevida global (que traduz a chance de cura) foi 72 meses, 61 meses e 46 meses respectivamente. Ou seja, diminui progressivamente com o aumento do tempo de espera.

Melhorar a qualidade de vida de pacientes com câncer de cabeça e pescoço e escolher a melhor opção de tratamento para cada caso, por meio de evidência científica, são os principais objetivos do projeto HN43 Brasil, pesquisa multicêntrica inédita no país. A expectativa é que em dois ou três anos, pelo menos 1000 pacientes em todo o país tenham sido pesquisados. Serão dados inéditos na literatura mundial, com número de pacientes e de técnicas diferentes de tratamento, possibilitando a comparação entre eles. “Sabemos que, infelizmente, a maioria dos pacientes não consegue iniciar o tratamento em tempo curto, se depender exclusivamente do sistema público”, alerta Dr. Stephen Stefani, oncologista do Instituto do Câncer Mãe de Deus, de Porto Alegre.

O oncologista afirma que há outros problemas sérios no que diz respeito a essa doença, pois o sistema público não tem drogas importantes utilizadas para aumentar chance de cura e qualidade de vida, como cetuximab, por exemplo. Os números nacionais, portanto, devem ser mais desfavoráveis.

Quase dois anos após entrar em vigor, a Lei 12.732/12, mais conhecida como a Lei dos 60 Dias, enfrenta dificuldades para ser cumprida. Pelo dispositivo, o paciente tem que iniciar o tratamento em até dois meses após a detecção da doença. Existem obstáculos que vão desde a notificação, conhecimento por parte dos pacientes e gestores até a falta de estrutura instalada para cumprimento dos prazos, especialmente em radioterapia.

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