Chance de cura do câncer de cabeça e pescoço diminui se tratamento não for iniciado rápido
Oncologista alerta que sistema público não oferece drogas importantesInvestigadores do Fox Chase Cancer Center da Filadélfia (EUA) publicaram dados de 51.665 pacientes com câncer de cabeça e pescoço e correlacionaram os resultados alcançados ao tempo de espera para iniciar o tratamento. O câncer de cabeça e pescoço, que pode atingir boca, garganta, laringe (cordas vocais), nariz, seios nasais e ao redor dos olhos, tem uma incidência marcante entre os brasileiros: o câncer de cavidade oral, conhecido como câncer de boca, já é o quarto tipo mais frequente entre homens das regiões Sul, Sudeste e Nordeste.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2016 estima-se quase 20 mil novos casos no Brasil. O estudo, publicado recentemente no Journal of Clinical Oncology, mostrou, através das análises estatísticas, que o tempo entre diagnóstico e início de tratamento impacta significativamente nas chances de cura. Os tempos de espera foram divididos em três faixas: 46 e 52 dias, 53 e 67 dias e pacientes com espera maior do que 67 dias. A sobrevida global (que traduz a chance de cura) foi 72 meses, 61 meses e 46 meses respectivamente. Ou seja, diminui progressivamente com o aumento do tempo de espera.
Melhorar a qualidade de vida de pacientes com câncer de cabeça e pescoço e escolher a melhor opção de tratamento para cada caso, por meio de evidência científica, são os principais objetivos do projeto HN43 Brasil, pesquisa multicêntrica inédita no país. A expectativa é que em dois ou três anos, pelo menos 1000 pacientes em todo o país tenham sido pesquisados. Serão dados inéditos na literatura mundial, com número de pacientes e de técnicas diferentes de tratamento, possibilitando a comparação entre eles. “Sabemos que, infelizmente, a maioria dos pacientes não consegue iniciar o tratamento em tempo curto, se depender exclusivamente do sistema público”, alerta Dr. Stephen Stefani, oncologista do Instituto do Câncer Mãe de Deus, de Porto Alegre.
O oncologista afirma que há outros problemas sérios no que diz respeito a essa doença, pois o sistema público não tem drogas importantes utilizadas para aumentar chance de cura e qualidade de vida, como cetuximab, por exemplo. Os números nacionais, portanto, devem ser mais desfavoráveis.
Quase dois anos após entrar em vigor, a Lei 12.732/12, mais conhecida como a Lei dos 60 Dias, enfrenta dificuldades para ser cumprida. Pelo dispositivo, o paciente tem que iniciar o tratamento em até dois meses após a detecção da doença. Existem obstáculos que vão desde a notificação, conhecimento por parte dos pacientes e gestores até a falta de estrutura instalada para cumprimento dos prazos, especialmente em radioterapia.