Gestão e Qualidade | 3 de fevereiro de 2025

CEO do Hospital Moinhos de Vento anuncia investimentos

Mohamed Parrini detalha áreas que receberão investimentos, fala sobre os eixos estratégicos estipulados para o ciclo 2025 e destaca a solidificação de parcerias internacionais com a Mayo Clinic, Johns Hopkins e MP do Uruguai.
Hospital Moinhos de Vento anuncia investimento próximo a R$ 1 bilhão

Em entrevista exclusiva ao portal Setor Saúde, o CEO do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini fala sobre o ano de 2024 e os planos institucionais para o futuro. “Estamos investindo R$ 610 milhões em expansão no biênio 2024-2025 e planejamos outros R$ 350 milhões para a construção de uma torre destinada à educação e pesquisa, cujas obras devem começar em 2026.” Além de investir na área de Educação e Pesquisa, o Hospital Moinhos seguirá ampliando as iniciativas com foco em Transformação Digital e nas colaborações internacionais como é o caso da parceria com a Mayo Clinic, considerada a melhor instituição de saúde do mundo e com a Johns Hopkins Medicine International, programa de afiliação da Johns Hopkins Hospital, classificado como terceiro melhor hospital do mundo. A internacionalização da marca também é um dos movimentos recentes que já vem se refletindo em recebimento de pacientes de outros países por meio de parcerias. “Esse foi um movimento que fizemos observando o aumento do turismo de saúde no Brasil: só no primeiro semestre de 2024, registramos um aumento de 134% na procura por estrangeiros em relação ao mesmo período de 2023”, destaca Parrini. O CEO do Hospital Moinhos é o primeiro entrevistado da série especial de entrevistas com executivos de hospitais e operadoras de saúde do Brasil. Este é o oitavo ano consecutivo da iniciativa do portal Setor Saúde. Confira a entrevista completa.


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Principais desafios enfrentados e as conquistas mais relevantes em 2024

“Sem dúvida, 2024 foi um ano desafiador para todos os gaúchos. A tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul, embora não tenha atingido diretamente o Hospital Moinhos de Vento, afetou imensamente diversos setores da sociedade. Dessa forma, nos unimos em uma rede de solidariedade a fim de auxiliar com recursos de infraestrutura e de pessoal para apoiar as vítimas da enchente. Atuamos em diversas frentes, como atendimento nos abrigos e no centro de salvamento junto à Usina do Gasômetro, doações de mais de 83 mil itens, serviço de telemedicina gratuita e, posterior, a campanha De Volta ao Lar, que garantiu vouchers de R$ 2.500 para famílias adquirirem móveis e eletrodomésticos. Também criamos um ambulatório de saúde mental para atender profissionais de saúde e voluntários no Rio Grande do Sul durante o período mais crítico”, avalia Parrini.

“Internamente, oferecemos apoio imediato, como espaço físico para quem perdeu as casas, além de roupas, alimentos e itens básicos, como também lançamos o programa Juntos para Recomeçar. A iniciativa, fruto de uma arrecadação de mais de R$ 450 mil, à qual acrescentamos mais R$ 825 mil, beneficiou 400 colaboradores para a compra de móveis a materiais de construção.”

Gestao Hospitalar RS proadi-sus -

“Além disso, em parceria com o Hcor, de São Paulo, iniciamos o projeto “Apoio Emergencial à Gestão de Hospitais no Rio Grande do Sul”, via Proadi-SUS (foto abaixo), para auxiliar emergencialmente a gestão de sete instituições públicas e filantrópicas diretamente afetadas pela catástrofe. O projeto teve investimento de R$ 10 milhões pelo Ministério da Saúde, contando com o envolvimento de mais de 20 especialistas dos hospitais Moinhos de Vento e Hcor. O diagnóstico das primeiras medidas que devem ser implementadas nos hospitais foi divulgado em dezembro, no Moinhos, como resultado da primeira etapa do projeto”, completa.

hospital moinhos internacao

“Mesmo diante da tragédia, conseguimos crescer e evoluir: estamos investindo R$ 610 milhões em expansão no biênio 2024-2025 e planejamos outros R$ 350 milhões para a construção de uma torre destinada à educação e pesquisa, cujas obras devem começar em 2026. Em 2024, inauguramos o hospital-dia no Shopping Pontal (foto abaixo), dedicado a procedimentos estéticos e reconstrutivos. Inclusive, o Moinhos conquistou o 1º lugar no ranking Melhores Clínicas de Cirurgia Plástica do Brasil 2025, também da Newsweek. Ampliamos nosso parque robótico – que já é o mais diversificado da América Latina – com a aquisição do sistema robótico de imagem Loop-X na Suíte Robótica Brainlab, o robô Mako para cirurgias ortopédicas e o Rosa Hip, para artroplastias, em investimentos de cerca de R$ 20 milhões. Entregamos um novo andar para a Pediatria, ampliamos a Emergência Pediátrica, inauguramos novos leitos intensivos e de internação (foto acima)”, pontua o CEO do Hospital Moinhos.

pontal hospital moinhos

“No âmbito da expansão internacional, firmamos um acordo de colaboração com a Mayo Clinic, considerada a melhor instituição de saúde do mundo. Renovamos por mais cinco anos o acordo que já dura uma década com a Johns Hopkins Medicine International. E também fechamos o ano com uma parceria com a Medicina Personalizada (MP), uma das principais redes de serviços médicos do Uruguai.”

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“Em nosso pilar de educação, avançamos cada vez mais com a Faculdade Moinhos. Passamos a ofertar o curso de graduação em Biomedicina, a turma noturna de graduação em Enfermagem e recebemos a homologação da solicitação de habilitação para funcionamento de curso de graduação em Medicina pelo Ministério da Educação. Além disso, seguimos fortalecendo nossos  21 programas de residência médica e nossos 19 programas de fellowship. Conectados com o que está por vir, lançamos um inédito MBA de Inteligência Artificial em Saúde.”

“Todo esse protagonismo nos fez, novamente, receber reconhecimentos dos quais muito nos orgulhamos, como figurar entre os melhores hospitais do mundo pelo prestigiado ranking da revista Newsweek, ser o segundo melhor do Brasil e terceiro melhor da América Latina, segundo o Top Ranking Latam e, outra vez, a melhor empresa da saúde do Brasil no Anuário Época Negócios”, comemora Parrini.

“Resultados que mostram a solidez do nosso trabalho, mesmo diante dos desafios que vivemos. E que consolidam nossa caminhada para sermos a melhor instituição de saúde do Brasil até 2029, visão que perseguimos em nosso Planejamento Estratégico”, explica.

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Principais investimentos previstos para 2025

“Estamos investindo R$ 610 milhões em expansão no biênio 2024-2025 e planejamos outros R$ 350 milhões para a construção de uma torre destinada à educação e pesquisa, cujas obras devem começar em 2026″ reforça Parrini.

“Além disso, seguimos com a construção de mais um bloco em nosso complexo, que aumentará nossa capacidade de atendimento cardiológico e de terapia intensiva. Serão 33 novos leitos de Centro de Terapia Intensiva (CTI) de última geração, uma nova área de hemodinâmica com quatro salas e um novo centro de material esterilizado, que triplicará a capacidade de produção do hospital. O investimento é de R$ 150 milhões — e a inauguração está prevista para o primeiro semestre. As três unidades de terapia intensiva contarão com o que há de mais moderno em infraestrutura e equipamentos disponíveis ao paciente crítico, priorizando os melhores desfechos e segurança. As quatro salas de hemodinâmica serão equipadas com novos angiógrafos de ponta e associados a softwares guiados por inteligência artificial; o novo centro de material esterilizado será uma referência no país em tecnologia e fluxos internos inteligentes. Esse conjunto de ferramentas auxilia no atendimento, o que fortalece o conceito de humanização”, adiciona o executivo.

“Também daremos continuidade ao projeto de Transformação Digital. Com ele, pretendemos alcançar o patamar de excelência em interoperabilidade e a governança de dados, cibersegurança e proteção de nossos ambientes virtuais, além de inteligência artificial generativa aplicada à saúde.”

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“Na Faculdade Moinhos, seguiremos investindo na prestação de serviços de qualidade aos nossos alunos, com a ampliação de cursos, incluindo a graduação em Medicina. Essa novidade, sem dúvida, demandará grandes investimentos na parte de estrutura e também de pessoal. Toda a estrutura para o curso de medicina já está montada, foram investidos R$ 25 milhões, mas vamos construir uma torre destinada à educação e pesquisa, cujas obras devem começar em 2026, com investimento de R$ 350 milhões. Continuaremos a investir no oferecimento de serviços educacionais de excelência, sempre pensando no futuro de nossos alunos. Além do curso de Medicina, entramos com pedido para abertura de um curso de Psicologia.”

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“Além disso, a pós-graduação ganhará um novo formato, trazendo um conceito inovador e uma abordagem diferenciada que reflete as tendências mais avançadas na educação. Outro destaque é o Moinhos Play, nossa plataforma de cursos on-line, que traduz o compromisso da marca Moinhos de Vento com a excelência no ensino e assistência”, informa Parrini.

Movimentos recentes da organização que ajudam a evidenciar os esforços para melhorar a eficiência, mantendo a sua função social e a sustentabilidade econômico-financeira

“O Hospital Moinhos de Vento atua com base nas melhores práticas de governança e baseado em resultados. No desafiador 2024, apesar de toda a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, conseguimos ter 100% dos contratos reajustados nos segmentos de operadoras e empresas. A expansão internacional foi outra conquista de 2024, com a parceria com a Medicina Personalizada, do Uruguai, ampliando o acesso à Instituição para pacientes estrangeiros. Esse foi um movimento que fizemos observando o aumento do turismo de saúde no Brasil: só no primeiro semestre de 2024, registramos um aumento de 134% na procura por estrangeiros em relação ao mesmo período de 2023. Já recebemos pacientes estrangeiros por causa da morosidade e custo do sistema de saúde dos países de origem. No Brasil, o acesso ao atendimento é mais fácil e rápido. Além disso, firmamos um acordo de colaboração com a Mayo Clinic, considerada a melhor instituição de saúde do mundo, além de renovarmos por mais cinco anos o acordo que já dura uma década com a Johns Hopkins Medicine International”, destaca.

Principais eixos estratégicos estipulados para o ciclo 2025, em termos de gestão e assistência

“Nossos três eixos estratégicos para 2025 giram em torno de Expansão, Ciência e Pessoas. São diretrizes atualizadas a cada dois anos, conectadas a um planejamento estratégico de longo prazo. No âmbito da expansão, o Moinhos tem um plano bem robusto de crescimento em termos de novas áreas e novas tecnologias. Os acordos de colaboração com a Mayo Clinic e a Johns Hopkins Medicine International reforçam nossa visão de estarmos sempre ao lado das melhores referências internacionais, trocando conhecimento e expertise.”

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“No eixo Ciência, celebramos o marco de 733 artigos científicos de  pesquisadores do Hospital Moinhos de Vento publicados nos últimos cinco anos. Queremos ser a melhor instituição de saúde do Brasil até 2029. Para exemplificar, recentemente, o chefe da unidade de ensaios clínicos do Hospital Moinhos de Vento liderou um estudo que foi publicado pela revista científica NEJM Evidence, do grupo do New England Journal of Medicine. O estudo propôs examinar se manter os níveis do colesterol LDL, o chamado colesterol “ruim”, a níveis muito baixos poderia afetar a cognição. A pesquisa faz parte de um estudo global de  duas etapas coordenado por uma equipe de cardiologistas da Universidade de Harvard.”

“Considerando isso, apostamos na retenção de talentos — só fazemos ciência e assistência de ponta com pessoas qualificadas. Buscamos oferecer oportunidades para que nossos colaboradores se qualifiquem cada vez mais, seja no exterior, seja em cursos de extensão no próprio hospital” explica Parrini.

“Nosso foco neste ano, além dos investimentos para o biênio já citados, é buscarmos novas tecnologias e realizarmos procedimentos de alta complexidade e inovadores, além de inéditos no Rio Grande do Sul, mantendo o Moinhos de Vento na vanguarda, como referência em inovação, tecnologia e saúde. Além disso, estamos dando início à expansão internacional com a parceria com a Medicina Personalizada, do Uruguai, um dos nossos projetos prioritários para os próximos anos. Nosso corpo clínico e nossos colaboradores são nosso principal ativo, nosso capital humano, e queremos, cada vez mais, estimular a atuação de nossos profissionais no campo acadêmico, marcando presença em publicações internacionais de alto prestígio científico. Por fim, buscamos reforçar ainda mais nossa excelência em educação e pesquisa, um dos nossos pilares estratégicos, e estamos com muitas novidades na Faculdade Moinhos — entre elas, o processo de abertura de uma faculdade de Medicina, seguindo todos os trâmites do MEC.”

“No âmbito do Proadi-SUS, do qual o Moinhos faz parte, ao lado de outros cinco hospitais brasileiros de reconhecida excelência pelo Ministério da Saúde, 2024 marcou o início de um novo triênio, com novos projetos que aprimorem e aperfeiçoem o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS). O programa já completou 16 anos e, desde a criação, destinou quase R$ 8 bilhões em mais de 700 projetos, com impacto direto em 5,5 mil municípios. Os resultados incluem a capacitação de mais de 580 mil profissionais, 4,7 mil transplantes, 6 mil profissionais treinados para casos de alta complexidade e mais de 400 mil participantes em pesquisas de interesse da saúde pública.”

“Em 2024, o Moinhos comprometeu, com o Ministério da Saúde, aproximadamente R$ 283 milhões em projetos e propostas. O Hospital investiu cerca de R$ 80 milhões em 19 áreas estratégicas, incluindo Cardiologia, Genética, Neurologia, Educação Médica e Diretrizes Clínicas”, detalhou o executivo.


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Gargalos e ineficiências que devem ser foco de atenção dos governos e das organizações de saúde em 2025

Ao abordar os principais desafios do setor da saúde, Parrini fala sobre sustentabilidade, melhoria da qualidade, envelhecimento populacional, doenças prevalentes e mudanças climáticas. A prevenção e a promoção da saúde são tópicos que devem ser priorizados pelo setor como um todo na visão de Parrini. Outro ponto importante levantado pelo executivo é a relação comercial entre o prestador (hospital) e a operadora de saúde, já que atualmente há um importante gargalo das contas ainda pendentes a serem quitadas pelas operadoras junto aos hospitais. E por fim, Parrini defende maiores investimentos em  inovações tecnológicas para para avançar na integração de dados e informações em saúde, impulsionando a capacidade de sistemas se comunicarem com outros sistemas (interoperabilidade). 

“Os desafios da saúde exigem esforços e atitudes de todos os atores para chegar a soluções que, ao final, ofereçam caminhos para a sustentabilidade do setor e, sobretudo, garantam a dignidade e qualidade no atendimento às pessoas”, entende o CEO do Moinhos.

“Se observamos o cenário macro, estamos diante de um envelhecimento acelerado da população, aumento da prevalência de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares, demandando modelos de cuidado integrados e sustentáveis. A saúde mental também é uma área crítica, com impacto crescente devido ao isolamento social, crises econômicas e o estresse diário, exigindo maior acesso a serviços especializados e campanhas de conscientização.”

“Além disso, as mudanças climáticas representam um desafio para a saúde pública, com a intensificação de doenças relacionadas ao calor, aos desastres naturais e às alterações no padrão de doenças infecciosas.”

“A escassez de acesso a serviços de saúde de qualidade permanece um problema global, especialmente em áreas remotas e populações vulneráveis, o que reforça a necessidade de ampliar a infraestrutura e de adotar soluções tecnológicas para melhorar a equidade. Há também a crescente pressão financeira sobre as operadoras de saúde, que precisam otimizar seus ciclos de receita, aumentar a eficiência operacional e, ao mesmo tempo, melhorar a experiência do paciente.”

“Para enfrentar esses desafios, é fundamental priorizar a prevenção e a promoção da saúde, abordando hábitos de vida saudáveis, educação e intervenções precoces, garantindo a sustentabilidade dos sistemas de saúde e uma qualidade de vida melhor para a população”, defende Parrini.

“Quanto às operadoras de plano de saúde, dados de abril de 2024 levantados junto a 66 hospitais associados da Anahp revelam que 15,35% da receita bruta proveniente das operadoras de planos de saúde permaneceu em aberto ao longo de 2023. Considerando que a receita bruta desses hospitais totalizou R$ 39,68 bilhões no período, isso equivale a aproximadamente R$ 6 bilhões em pagamentos pendentes — um gargalo considerável.”

“A interoperabilidade ainda é um desafio do setor. Essa desconexão faz com que os planos de saúde precisem de informações cruciais dos pacientes, atrasando a colaboração médica. Temos de usar as inovações tecnológicas para avançar numa integração que coloque o paciente no centro do cuidado”, finaliza.

mohamed parrini perfil -

perfil hospital moinhos

Fotos Crédito: Maicon Hinrichsen e Raul Krebs.

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