Tecnologia e Inovação | 15 de abril de 2019

Cardiologista do Tacchini detalha como funciona a ferramenta que diminui o tempo de atendimento de pacientes com infarto

Inovação foi desenvolvida pelo próprio Hospital
Cardiologista do Tacchini detalha como funciona a ferramenta que diminui o tempo de atendimento de pacientes com infarto

O Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, desenvolveu uma ferramenta para agilizar o atendimento de urgência e emergência prestado ao paciente com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio (IAM), tendo como aliada a tecnologia. Chamada de Protocolo da Dor Torácica, a ferramenta, disponível na instituição desde setembro de 2018, foi desenvolvida dentro do próprio hospital, por profissionais de TI (tecnologia da informação) da instituição.

O Protocolo da Dor Torácica é capaz de monitorar todo o atendimento. Isso inclui desde a chegada ao Pronto Socorro, passando pela estabilização dos sinais vitais, bem como a realização do exame de eletrocardiograma e, se necessário, o envio ao serviço de hemodinâmica. De setembro a fevereiro, a instituição atendeu 368 pacientes com a nova ferramenta.


A inovação visa diminuir o tempo de atendimento a partir de protocolos internacionais, que recomendam 90 minutos entre a chegada na Emergência até a abertura da coronária. O Tacchini, após implementar a ferramenta, registra tempo médio de 68 minutos para o atendimento – antes, o tempo médio na instituição era de 120 minutos.


De acordo com o Tacchini, um dos fatores que contribuíram para a diminuição no tempo de atendimento está no fato de todos os integrantes da equipe assistencial terem passado por sensibilização quanto a importância de um atendimento ágil e seguro, além de terem sido capacitados para o uso da nova tecnologia, onde todos ‘falam a mesma linguagem’, contribuindo assim para um atendimento rápido, dinâmico e seguro ao paciente.

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O Portal Setor Saúde conversou com o chefe do Departamento de Hemodinâmica do Hospital Tacchini, médico cardiologista Ricardo De Gasperi. Confira.

A ferramenta

O cardiologista De Gasperi salienta a otimização para o atendimento que a ferramenta possibilita. “No momento da chegada do paciente ao pronto-socorro, conforme suas queixas e preenchendo alguns critérios, ele é cadastrado no protocolo de IAM. Para isso, usamos tablets próprios do protocolo, onde inicialmente o eletrocardiograma deste paciente é interpretado pelo emergencista de plantão em até 10 minutos. Caso estivermos diante de um paciente onde o eletrocardiograma e os dados clínicos evidenciem um infarto com necessidade de acionamento da hemodinâmica em caráter de urgência, o dispositivo permite o envio de SMS para a equipe cadastrada no dia”, detalha o chefe do Departamento de Hemodinâmica.

De acordo com De Gasperi, o Protocolo da Dor Torácica, além de agilizar o processo do atendimento, permite gerenciar o tempo de todas as etapas dentro da instituição, oportunizando otimizar o atendimento em todos os setores envolvidos e corrigir possíveis falhas existentes.

Tempo médio de 69 minutos no tempo porta-balão

Internamente, uma mudança fundamental ocorrida foi o engajamento de todas as equipes envolvidas no processo, de acordo com o médico cardiologista. “De forma bem objetiva, tivemos redução de 46% no tempo porta-balão (chegada do paciente com infarto ao pronto socorro até a insuflação do balão dentro coronária no laboratório de hemodinâmica), com tempo médio de 69 minutos após a implementação da tecnologia”, diz.

O chefe do Departamento de Hemodinâmica citou um caso que ilustra as vantagens que a ferramenta oferece no atendimento. Antes de um paciente encaminhado de outra cidade chegar ao Tacchini, a instituição já havia recebido o seu eletrocardiograma, via whatsApp, e a partir daí iniciou a preparação para realizar um atendimento rápido. “Assim, toda equipe de pronto-socorro, cardiologia e hemodinâmica ficaram prontos esperando paciente chegar à instituição, obtendo um tempo porta-balão de 30 minutos durante o período da noite”, afirmou.

O médico também lembra o caso de outros dois pacientes que, de acordo com ele, podem ter sido fundamentalmente salvos pela nova ferramenta. “Tivemos relato de duas famílias, destacando a rapidez no atendimento e relatando que possivelmente seus familiares só estão vivos diante da agilidade no processo. Inclusive, um destes pacientes chegou à instituição em parada cardíaca”, salienta.

Investimento e etapas da aplicação da ferramenta no Tacchini

De Gasperi relata que o investimento inicial foi de aproximadamente R$ 10 mil. “Agora, estamos em uma segunda fase, digitalizando todos os aparelhos de eletrocardiogramas dentro da instituição, para que o eletrocardiograma já seja inserido automaticamente dentro do aplicativo, com possibilidade de ser avaliado de forma imediata e até a distância pela equipe de cardiologia e hemodinâmica em caso de dúvida do médico emergencista”, explica.

Treinamento e qualificação do atendimento

“ Num segundo momento, após digitalização dos eletrocardiogramas diretamente no aplicativo, os eletrocardiogramas poderão ser visualizados por cardiologistas e hemodinamicistas, auxiliando diagnóstico em situações de dúvidas”, explica o chefe do Departamento de Hemodinâmica.

O médico cardiologista afirma que a ferramenta trouxe qualificação ao atendimento realizado na instituição, em virtude da realização de treinamentos com toda equipe do pronto-socorro sobre interpretação de eletrocardiograma e otimização no manejo do infarto.

O impacto esperado

O chefe do Departamento de Hemodinâmica aponta que o Protocolo da Dor Torácica foi prioritariamente possibilitar um atendimento ainda melhor. Mas reforçou que os custos são um fator importante, diante da realidade da instituição. “Nossa prioridade é o atendimento de excelência em cima de protocolos internacionais já bem definidos. Sabemos que diante da particularidade da instituição, possuindo um plano próprio com mais de 60 mil vidas, todo caso de infarto atendido de forma ágil e qualificada reduz sequelas e, consequentemente, custos futuros”, frisa.

Premissas que devem ser levadas em conta para o uso da nova tecnologia

“Primeiro, a confecção da ferramenta juntamente com a equipe de TI é feita em cima de uma realidade e demanda própria. Depois, o treinamento da equipe para utilização da ferramenta. Também, reunião geral para apresentação do novo protocolo de atendimento, reuniões periódicas com avaliação de caso a caso, buscando melhorias e correção de possíveis erros, e apresentação dos dados mensalmente para toda a instituição na reunião da controladoria assistencial”, detalha.

Publicação científica

O médico cardiologista informou que a instituição planeja, após completar doze meses de experiência com a nova ferramenta, divulgar os dados da nova ferramenta em publicação científica, em revista médica especializada.

 

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