Câncer de pulmão: Rede D’Or usa IA e rastreamento com exame de imagem de baixa radiação para o diagnóstico precoce
Junto com a ferramenta de inteligência artificial, a medida pode contribuir para reverter estatísticas mostrando que 70% dos casos da doença são identificados em estágio avançado, e possivelmente incuráveis.A inteligência artificial (IA) é mais nova estratégia da Rede D’Or para realizar a captação ativa de pacientes com nódulos suspeitos de câncer de pulmão. Todas as noites um robô procura a descrição desses nódulos em dezenas de laudos de tomografias computadorizadas do tórax realizadas por motivos diversos – desde traumas até a suspeita de pneumonia ou embolia pulmonar. De manhã, enfermeiras navegadoras recebem uma lista com os laudos. Se a existência do nódulo passou desapercebida pelo paciente, os médicos solicitam o seu retorno para investigar o caso. A iniciativa faz parte do projeto NLP (do inglês Natural Language Process).
“Às vezes, o paciente faz a tomografia na emergência por algum quadro agudo e não resgata o laudo posteriormente”, esclarece o médico pneumologista Gabriel Santiago, Coordenador Nacional Pneumologia da Rede D’Or. Em outros casos, o paciente faz a tomografia, é avisado pelo médico da emergência sobre a existência do nódulo e não volta para continuar a investigação. “Nessas situações, a ferramenta alerta a enfermeira navegadora que dá início à captação ativa do paciente”, complementa o médico. Esta realidade levou a Rede D’Or a criar este projeto, que em português significa processamento de linguagem natural, para favorecer a identificação precoce de nódulos malignos.
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Inteligência artificial tem o papel estratégico
Na visão da médica radiologista da Rede D’Or Rosana Rodrigues, a inteligência artificial tem o papel estratégico de não deixar escapar nódulos que foram achados de forma incidental. “A ferramenta também pode funcionar como um duplo check. Isso ocorre quando o paciente é alertado pelo médico da existência do nódulo e não retorna para uma avaliação. Ao detectar a alteração, a ferramenta avisa a enfermagem e a equipe médica de que é um nódulo suspeito e necessita ser investigado”, complementa o médico Gabriel Santiago.
“A medida é importante porque o câncer de pulmão é uma doença silenciosa,” afirma a médica Rosana Rodrigues. Cerca de 70% dos casos são diagnosticados no estágio avançado [1], quando aparecem os sintomas como tosse constante e sangramento pelas vias respiratórias. Nesta fase, o tratamento envolve quimioterapia e imunoterapia, que conterão o crescimento do tumor sem expectativa de cura. Muitas vezes a detecção de nódulo em tomografia realizada por outro motivo pode ser a chance do diagnóstico em fases precoces da doença, onde há possibilidade de tratamento curativo.
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Sociedades médicas passaram a recomendar o rastreio com exame de imagem com baixa dose
Em agosto, três entidades médicas criaram o 1º Consenso Brasileiro para Rastreamento de Câncer de Pulmão, que recomenda realização anual de tomografia do tórax de baixa radiação para grupos de alto risco para a doença. O documento foi assinado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT) e o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).
A Rede D’Or está lançando o programa nacional de rastreamento com tomografia computadorizada com baixa dose de radiação para detectar a lesões suspeitas nos pulmões em pacientes de risco. Grandes ensaios clínicos nos Estados Unidos e na Europa [2,3] demonstram que o rastreio, seguido de uma abordagem diagnóstica e terapêutica apropriada, reduz em 20% ou mais a mortalidade pela doença.
“O programa irá funcionar de forma muito estruturada em 15 hospitais do País, desde o Nordeste até o Sul. Teremos equipes multidisciplinares com enfermeiros, oncologistas, pneumologistas, cirurgiões torácicos e radiologistas treinados para avaliar cada caso”, ressalta o médico Gabriel Santiago.
O exame é recomendado para pessoas com idade entre 50 a 80 anos, fumantes ativos ou ex-fumantes há menos de 15 anos e com histórico de tabagismo de 20 maços/ano, que equivale, por exemplo, a dois 2 maços por dia por dez anos ou um maço por dia por 20 anos. “Se houver um nódulo com potencial de câncer pulmão, o médico pode pedir a repetição dali três meses ou já começar a investigação. Vai depender das características encontradas”, destaca a médica Rosana Rodrigues.
Câncer de Pulmão
O câncer de pulmão é o quarto tipo de tumor mais incidente no Brasil e um dos líderes em mortalidade no País e no mundo. De acordo com estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) [1], 32.560 casos deverão ser diagnosticados em 2023, sendo 18.020 em homens e 14.540 em mulheres. A doença provocou 28.964 mortes em 2021, das quais 15.987 em homens e 12.977 em mulheres.
Cerca de 80% dos casos de câncer de pulmão são associados ao consumo de tabaco. Os dados mais recentes do Ministério da Saúde [2], compilados em 2019 pela Pesquisa Nacional de Saúde, apontam que os fumantes com 18 anos ou mais representam 12,6% dos brasileiros – o equivalente a algo em torno de 25 milhões de pessoas.
Além do câncer de pulmão, o tabagismo é responsável por outros tipos de câncer como esôfago, boca, laringe, faringe, pâncreas, bexiga e estômago. Os fumantes também podem desenvolver infarto, acidente vascular cerebral (AVC), trombose e outras doenças graves e incapacitantes.
Referências
1. Araujo LH, Baldotto C, Castro G Jr, Katz A, Ferreira CG, Mathias C, et al. Lung cancer in Brazil. J Bras Pneumol. 2018;44(1):55-64.
2. National Lung Screening Trial Research Team, Aberle DR, Adams AM, Berg CD, Black WC, Clapp JD, et al. Reduced lung-cancer mortality with low-dose computed tomographic screening. N Engl J Med. 2011;365(5):395-409.
3. de Koning HJ, van der Aalst CM, de Jong PA, Scholten ET, Nackaerts K, Heuvelmans MA, et al. Reduced Lung-Cancer Mortality with Volume CT Screening in a Randomized Trial. N Engl J Med. 2020;382(6):503-513.