Campanha de lavagem das mãos do governo australiano se mostra eficaz mas dispendiosa
Estudo de impacto envolveu 50 hospitais e obteve melhores resultados em algumas regiõesUm estudo de economia em saúde, envolvendo 50 hospitais australianos, analisou o impacto de uma campanha nacional de higiene das mãos. Os resultados mostraram que muitos pacientes internados foram protegidos de infecções causadas pela bactéria Staphylococcus aureus, mas que em algumas regiões, os resultados foram menos satisfatórios. Sob a ótica que leva em conta custo-eficácia, a campanha, segundo o estudo,foi dispendiosa.
A iniciativa promoveu os cinco momentos da assepsia das mãos (ver no final da matéria) “para destacar pontos críticos e motivar os profissionais da saúde a lavarem suas mãos para controlar a infecção. Mesmo sendo eficaz, o programa se mostrou dispendioso, custando cerca de US$ 2,9 milhões por ano”, afirmou o professor Nicholas Graves do Instituto de Inovação na Saúde e na Biomedicina da Universidade de Tecnologia de Queensland. “Muitos pacientes hospitalares foram protegidos de um erro perigoso e, pelo menos, 96 anos de vida serão salvas a cada ano”, constatou. O professor Graves realizou a avaliação em 50 hospitais, de todos os estados australianos, entre 2009 e 2012.
O especialista concorda que a iniciativa australiana conteve infecções hospitalares e melhorou a segurança nos hospitais. “Sabemos que os custos de saúde são uma espiral ascendente e que nunca há dinheiro suficiente para financiar a totalidade da prevenção e tratamento como gostaríamos”, frisou.
“Economistas especializados em saúde focam a relação custo-eficácia, para identificar onde o dinheiro em intervenções em saúde está sendo utilizado de forma eficiente”. Ele compara, por exemplo, com uma gestante que fuma. “Sabemos que as mulheres grávidas não devem fumar, mas gastar milhões de dólares tentando convencer esse pequeno número de mulheres a parar, pode ser um desperdício de dinheiro”, considera. “O mesmo dinheiro pode conseguir melhores resultados em outras áreas do sistema de saúde, como impedir que as crianças tenham diabetes”.
Para esta avaliação, os custos adicionais do programa de higiene das mãos, de âmbito nacional, foram calculados e comparados com o aumento da sobrevida (em anos). “Economistas da saúde utilizam o conceito de anos de vida ganhos para avaliar os benefícios de programas”, destaca o professor Graves. “Nós olhamos para os programas que fornecem anos extras de vida com o menor custo, e devemos escolher os mais baratos primeiro, se quisermos obter o maior retorno financeiro”. O investimento de US$ 2,9 milhões do programa de higienização das mãos “comprou apenas 96 anos de vida para todo o país, o que é cerca de US$ 29.700 por ano de vida ganho”.
A relação custo-eficácia da iniciativa variou entre os Estados australianos. Em Queensland, por exemplo, a média foi mais positiva, com um custo de US$ 8.988 por ano de vida ganho, “pois as taxas de infecção eram mais elevadas e, portanto, a iniciativa foi mais eficaz”, explicou o especialista. Na Austrália Ocidental, onde os riscos de infecção eram muito baixos, não houve relevante redução de casos, portanto quase US$ 600 mil foram gastos para nada. “Uma história semelhante ocorreu na Tasmânia, onde casos foram impedidos e US$ 250 mil foram gastos. Uma dezena de casos foram evitados, ao custo de US$ 1.030 por ano de sobrevida, e esta foi uma verdadeira pechincha”.
“Podemos notar que a Iniciativa Nacional de Higiene das Mãos funcionou, mas foi uma maneira bastante onerosa de gerar benefícios para a saúde”, resumiu o professor Graves. Outra pesquisa que avaliou uma variedade de intervenções em relação à prevenção, triagem, diagnóstico e tratamento, mostrou que um ano de sobrevida poderia ser adquirido por US$ 18.720, e um grande número de programas custam menos de US$ 10 mil por ano de vida. “Estes resultados sugerem que a Iniciativa Nacional de Higiene das Mãos é eficaz, mas cara. Os políticos e gestores poderiam tomar nota da variabilidade entre as regiões australianas para criar campanhas sob medida para as condições locais”, concluiu.
Os 5 momentos para a higienização das mãos
1 – Antes de contato com o paciente
Quando? Higienize as mãos antes de entrar em contato com o paciente.
Por quê? Para a proteção do paciente, evitando a transmissão de microrganismos presentes nas mãos do profissional e que podem causar infecções.
2 – Antes da realização de procedimento asséptico
Quando? Higienize as mãos imediatamente antes da realização de qualquer procedimento asséptico.
Por quê? Para a proteção do paciente, evitando a transmissão de microrganismos das mãos do profissional para o paciente, incluindo os microrganismos do próprio paciente.
3 – Após risco de exposição a fluidos corporais
Quando? Higienize as mãos imediatamente após risco de exposição a fluidos corporais (e após a remoção de luvas).
Por quê? Para a proteção do profissional e do ambiente de assistência imediatamente próximo ao paciente, evitando a transmissão de microrganismos do paciente a outros profissionais ou pacientes.
4 – Após contato com o paciente
Quando? Higienize as mãos após contato com o paciente, com as superfícies e objetos próximos a ele e ao sair do ambiente de assistência ao paciente.
Por quê? Para a proteção do profissional e do ambiente de assistência à saúde, incluindo as superfícies e os objetos próximos ao paciente, evitando a transmissão de microrganismos do próprio paciente.
5 – Após contato com as áreas próximas ao paciente
Quando? Higienize as mãos após tocar qualquer objeto, mobília e outras superfícies nas proximidades do paciente – mesmo sem ter tido contato com o paciente.
Por quê? Para a proteção do profissional e do ambiente de assistência à saúde, incluindo superfícies e objetos imediatamente próximos ao paciente, evitando a transmissão de microrganismos do paciente a outros profissionais ou pacientes.
Saiba mais aqui (em inglês), ou acesse o estudo completo.