Estatísticas e Análises, Mundo | 7 de outubro de 2015

As origens da tuberculose resistente a medicamentos

Ineficácia dos antibióticos ameaça o controle da doença na África do Sul e em outras partes do mundo
As origens da tuberculose resistente a medicamentos

O aumento da resistência a medicamentos está ameaçando o controle da tuberculose na África do Sul e em outras partes do mundo. Uma pesquisa internacional, feita por investigadores do KwaZulu-Natal Research Institute for Tuberculosis and HIV (K-RITH) e do Broad Institute of MIT and Harvard, traçaram as origens da tuberculose multiresistente (TBMR) na província de KwaZulu-Natal (África do Sul) desde o final dos anos 1950. Os resultados, publicados na revista PLOS Medicine, são importantes ferramentas para ajudar a compreender como essas estirpes se espalham, como administrar e tratar a doença.

A bactéria que causa a TBMR tornou-se resistente a quase todos os medicamentos anti-tuberculose e é virtualmente intratável. O maior surto da história foi detectado pela primeira vez em 2005, no Church of Scotland Hospital, na cidade de Tugela Ferry, e desde então foi encontrado em toda a província. Não se sabe de onde surgiu o surto.

Os pesquisadores usaram todo o sequenciamento do genoma – método que pode trabalhar todo o código genético de cepas individuais de bactérias – e dados para rastrear a origem da TRMR na região. Eles descobriram que as mutações nas bactéria da tuberculose que causam resistência a drogas surgiu em 1957, logo após os primeiros antibióticos para tratar a doença tornarem-se disponíveis. Desde então, toda vez que uma nova droga foi introduzida, a bactéria tem desenvolvido com sucesso resistência a ela.

Nos anos 1980, a evolução já a tornou resistentes a vários fármacos e pelos meados dos anos 1990, se tornou a TBMR. Isto significa que o enorme problema da resistência aos medicamentos na África do Sul não é devido a fatos recentes, mas se desenvolveu bem antes da epidemia de HIV ocorrida nos anos 1990, que até então era apontada como a principal causa dos surtos.

Durante o trabalho, os pesquisadores também descobriram muitas outras estirpes de tuberculose resistente a medicamentos que foram evoluindo de formas independentemente umas das outras. A primeira droga que todas as estirpes desenvolvem resistência foi a isoniazida. Este foi o passo fundamental para iniciar a evolução para TBMR. Os testes rápidos na maioria dos hospitais e clínicas na África do Sul, apenas analisam a resistência à droga rifampicina. Os pesquisadores acreditam que, se a busca for por travar o processo de evolução dessa resistência, é preciso haver uma triagem obrigatória que vise a isoniazida.

“Se queremos fechar o caminho para a geração de novas estirpes e tuberculose resistentes a medicamentos, temos que focar a isoniazida”, disse o cientista da K-RITH,  Dr. Alex Pym, um dos principais autores do estudo.

Depois de 40 anos sem novidades promissoras, há uma nova esperança para tratar TBMR, chamada bedaquilina, de nome comercial Sirturo (antibiótico que impede a produção de energia nas Mycobacterium tuberculosis, levando à morte destas bactérias), e outras semelhantes em análise. Mas “a menos que usemos essas novas drogas com muito cuidado, as bactérias vão continuar sua evolução implacável e as novas drogas se tornarão inúteis”, alertou o Dr. Pym.

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, a cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem 4,6 mil mortes em decorrência da doença. O Brasil ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo. Nos últimos 17 anos, a tuberculose apresentou queda de 38,7% na taxa de incidência e 33,6% na taxa de mortalidade.  A tendência de queda em ambos os indicadores vem-se acelerando ano após ano, o que pode determinar o efetivo controle da tuberculose em futuro próximo, quando a doença poderá deixar de ser um problema para a saúde pública. Os medicamentos usados no país nos esquemas padronizados para a tuberculose são a isoniazida (H), a rifampicina (R), a pirazinamida (Z) e o etambutol (E).

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