ARTIGO: A saúde dos rins em risco de falência
Presidente da Sociedade Gaúcha de Nefrologia aborda a situação dos serviços de hemodiáliseHoje é o Dia Mundial do Rim. No Brasil e no Rio Grande do Sul, a data serve como um alerta de que a Nefrologia brasileira está entrando em colapso. O serviço de hemodiálise (a limpeza do sangue por aparelhos, quando os rins não funcionam) vive uma dramática situação, na qual doentes crônicos renais estão morrendo pela falta de acesso e financiamento ao serviço, e pela carência de medicamentos. A campanha desenvolvida pela Sociedade Gaúcha de Nefrologia atenta para a importância da prevenção e cuidados. Este ano, o mote da campanha é “Saúde renal começa na infância. E vale para a vida toda”, justamente para chamar a atenção sobre sinais e sintomas que, se não forem diagnosticados, podem levar à doença renal crônica, com sérias consequências para o crescimento e desenvolvimento cerebral.
A prevenção se torna ainda mais necessária, pois o crescimento de doentes renais crônicos agrava o quadro de falência do setor. Nos últimos 10 anos, o número de pacientes cresceu 71%, enquanto as unidades de diálise aumentaram em apenas 15%. As consequências são a superlotação e diálises malfeitas, o que encarece ainda mais o tratamento, pelas complicações à saúde do paciente, podendo levá-lo à morte.
Um dos principais problemas é o valor pago pelo Sistema Único de Saúde às clínicas que realizam os procedimentos. O custo real da sessão gira em torno de R$ 256,00, mas o sistema público não reajusta o repasse há anos, com ressarcimento de apenas R$ 179,00. Como 85% dos atendimentos são feitos via SUS, as dificuldades se intensificam. Com a inflação, aumento de energia elétrica, água e o dólar alto, o reflexo é imediato nos custos dos insumos importados, e, se nada for feito, muitas clínicas irão fechar em curto espaço de tempo, como já vem ocorrendo no Rio Grande do Sul. Serviços de hemodiálise são especializados e não são substituíveis. Como a população continuará sendo atendida?