Após décadas sem avanços, imunoterapia no pós-operatório traz novo horizonte para câncer de cabeça e pescoço, revela estudo
Pesquisa francesa com nivolumabe demonstra redução do risco de recidiva em pacientes de alto risco: "Esse estudo abre a possibilidade real de aumentar a taxa de cura, algo que tem enorme valor para esses pacientes”, ressalta William William, líder nacional de oncologia torácica e co-líder nacional de oncologia de cabeça e pescoço da Oncoclínicas&Co.
Um novo estudo, apresentado na sessão plenária da ASCO 2025 — evento mais importante da oncologia mundial — pode inaugurar uma mudança de paradigma no tratamento curativo do câncer de cabeça e pescoço. Trata-se do estudo francês de fase 3 NIVOPOSTOP (GORTEC 2018-01), que demonstrou que o uso da imunoterapia nivolumabe, no cenário pós-operatório, reduz significativamente o risco de recidiva em pacientes com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço localmente avançado e de alto risco.
A pesquisa é coordenada pelo Groupe Oncologie Radiothérapie Tête et Cou (GORTEC) , consórcio europeu especializado em tumores de cabeça e pescoço, e incluiu 680 pacientes com câncer ressecado de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe ou laringe. Todos tinham fatores de alto risco, como extensão extracapsular ou margens cirúrgicas comprometidas.
Segundo William Nassib William Jr. (foto acima), líder nacional de oncologia torácica e co-líder nacional de oncologia de cabeça e pescoço da Oncoclínicas&Co, a presença do estudo na plenária já é um indicativo de sua relevância: “É muito raro vermos câncer de cabeça e pescoço ocupando esse espaço no congresso. Isso sinaliza o potencial impacto dessa estratégia na prática clínica. Pela primeira vez, temos uma opção terapêutica que realmente melhora os desfechos nesse contexto, onde outras tentativas falharam”.
Entenda o estudo
Os pacientes foram randomizados para receber o tratamento padrão — radioterapia com três ciclos de cisplatina — ou o mesmo tratamento acrescido de nivolumabe (Opdivo), um anticorpo anti-PD-1. O grupo que recebeu a combinação com imunoterapia apresentou melhora estatisticamente significativa e clinicamente relevante em sobrevida livre de doença (DFS), desfecho primário do estudo. Em três anos de acompanhamento, 63,1% dos pacientes tratados com nivolumabe estavam livres da doença, contra 52,5% daqueles que receberam apenas o tratamento padrão.
“Esta é a primeira vez em décadas que uma terapia demonstra superioridade em relação ao tratamento padrão com quimiorradioterapia à base de cisplatina em pacientes de alto risco com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço localmente avançado”, afirmou o professor Jean Bourhis, diretor médico do GORTEC e investigador principal do estudo.
A segurança do nivolumabe foi consistente com estudos anteriores e não comprometeu a adesão dos pacientes ao tratamento padrão, segundo os pesquisadores. Houve ainda uma tendência à melhora da sobrevida global, que será analisada na conclusão do estudo, após o número pré-definido de eventos (óbitos).
Nova esperança no cenário curativo
O câncer de cabeça e pescoço localmente avançado com alto risco de recidiva é um dos maiores desafios da oncologia. Mesmo após cirurgia e radioterapia com quimioterapia, muitos pacientes enfrentam recidivas precoces, impactando diretamente as chances de cura.
“Até hoje, nenhuma abordagem adjuvante tinha conseguido modificar de forma consistente esse cenário. Esse estudo abre a possibilidade real de aumentar a taxa de cura, algo que tem enorme valor para esses pacientes”, ressalta o oncologista da Oncoclínicas&Co.
Perspectivas
Com resultados robustos e destaque na sessão plenária da ASCO, o NIVOPOSTOP pode acelerar discussões sobre incorporação da imunoterapia adjuvante em diretrizes clínicas internacionais. O benefício observado ocorreu independentemente da expressão do biomarcador PD-L1, o que amplia o potencial de aplicação para diferentes perfis de pacientes.
Agora, com os dados já apresentados e mostrando uma tendência positiva para o uso de nivolumabe, o cenário aponta para uma nova fase no tratamento do câncer de cabeça e pescoço de alto risco. “É um marco importante para uma população de pacientes que há muito tempo esperava por avanços significativos”, conclui William William.