Estatísticas e Análises | 3 de julho de 2025

Após décadas sem avanços, imunoterapia no pós-operatório traz novo horizonte para câncer de cabeça e pescoço, revela estudo

Pesquisa francesa com nivolumabe demonstra redução do risco de recidiva em pacientes de alto risco: "Esse estudo abre a possibilidade real de aumentar a taxa de cura, algo que tem enorme valor para esses pacientes”, ressalta William William, líder nacional de oncologia torácica e co-líder nacional de oncologia de cabeça e pescoço da Oncoclínicas&Co.
Após décadas sem avanços, imunoterapia no pós-operatório traz novo horizonte para câncer de cabeça e pescoço, revela estudo

Um novo estudo, apresentado na sessão plenária da ASCO 2025 — evento mais importante da oncologia mundial — pode inaugurar uma mudança de paradigma no tratamento curativo do câncer de cabeça e pescoço. Trata-se do estudo francês de fase 3 NIVOPOSTOP (GORTEC 2018-01), que demonstrou que o uso da imunoterapia nivolumabe, no cenário pós-operatório, reduz significativamente o risco de recidiva em pacientes com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço localmente avançado e de alto risco.


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A pesquisa é coordenada pelo Groupe Oncologie Radiothérapie Tête et Cou (GORTEC) , consórcio europeu especializado em tumores de cabeça e pescoço, e incluiu 680 pacientes com câncer ressecado de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe ou laringe. Todos tinham fatores de alto risco, como extensão extracapsular ou margens cirúrgicas comprometidas.


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Segundo William Nassib William Jr. (foto acima), líder nacional de oncologia torácica e co-líder nacional de oncologia de cabeça e pescoço da Oncoclínicas&Co, a presença do estudo na plenária já é um indicativo de sua relevância: “É muito raro vermos câncer de cabeça e pescoço ocupando esse espaço no congresso. Isso sinaliza o potencial impacto dessa estratégia na prática clínica. Pela primeira vez, temos uma opção terapêutica que realmente melhora os desfechos nesse contexto, onde outras tentativas falharam”.


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Entenda o estudo

Os pacientes foram randomizados para receber o tratamento padrão — radioterapia com três ciclos de cisplatina — ou o mesmo tratamento acrescido de nivolumabe (Opdivo), um anticorpo anti-PD-1. O grupo que recebeu a combinação com imunoterapia apresentou melhora estatisticamente significativa e clinicamente relevante em sobrevida livre de doença (DFS), desfecho primário do estudo. Em três anos de acompanhamento, 63,1% dos pacientes tratados com nivolumabe estavam livres da doença, contra 52,5% daqueles que receberam apenas o tratamento padrão.

“Esta é a primeira vez em décadas que uma terapia demonstra superioridade em relação ao tratamento padrão com quimiorradioterapia à base de cisplatina em pacientes de alto risco com carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço localmente avançado”, afirmou o professor Jean Bourhis, diretor médico do GORTEC e investigador principal do estudo.

A segurança do nivolumabe foi consistente com estudos anteriores e não comprometeu a adesão dos pacientes ao tratamento padrão, segundo os pesquisadores. Houve ainda uma tendência à melhora da sobrevida global, que será analisada na conclusão do estudo, após o número pré-definido de eventos (óbitos).

Nova esperança no cenário curativo

O câncer de cabeça e pescoço localmente avançado com alto risco de recidiva é um dos maiores desafios da oncologia. Mesmo após cirurgia e radioterapia com quimioterapia, muitos pacientes enfrentam recidivas precoces, impactando diretamente as chances de cura.

“Até hoje, nenhuma abordagem adjuvante tinha conseguido modificar de forma consistente esse cenário. Esse estudo abre a possibilidade real de aumentar a taxa de cura, algo que tem enorme valor para esses pacientes”, ressalta o oncologista da Oncoclínicas&Co.

Perspectivas

Com resultados robustos e destaque na sessão plenária da ASCO, o NIVOPOSTOP pode acelerar discussões sobre incorporação da imunoterapia adjuvante em diretrizes clínicas internacionais. O benefício observado ocorreu independentemente da expressão do biomarcador PD-L1, o que amplia o potencial de aplicação para diferentes perfis de pacientes.

Agora, com os dados já apresentados e mostrando uma tendência positiva para o uso de nivolumabe, o cenário aponta para uma nova fase no tratamento do câncer de cabeça e pescoço de alto risco. “É um marco importante para uma população de pacientes que há muito tempo esperava por avanços significativos”, conclui William William.

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