ANAHP lança Observatório 2020 e apresenta dados do forte impacto da Covid-19 no setor hospitalar
Evento virtual ocorreu na terça-feira, 19A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), entidade que representa os principais hospitais de excelência do país, lançou a sua tradicional publicação Observatório Anahp, atualmente em sua 12ª edição. Eduardo Amaro, presidente do Conselho de Administração da Anahp; Henrique Neves, vice-presidente, Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo; e Ary Ribeiro, editor da publicação, debateram sobre os impactos que a pandemia do novo coronavírus tem provocado no setor, e apresentaram informações e dados do setor, assim como de seus associados, compilados e apresentados de forma geral.
“O novo coronavírus tem a capacidade de gerar impactos sistêmicos, seja na saúde, política, na economia e nas relações pessoais. Mas nós temos aprendido algumas lições, nestes últimos 3 e 4 meses. Estamos sendo obrigados a buscar novos caminhos…muitos deles com o uso da tecnologia”, disse Eduardo Amaro, presidente do Conselho de Administração da Anahp. Segundo Amaro, a escolha de manter a publicação e lançar no mesmo dia em que estava programado, busca valorizar aqueles que nele encontram uma fonte de informação e inspiração. “Preferimos manter a tradição de honrar o nosso compromisso de transparência e lançar o Anuário”, disse.
Neste ano, a edição será apenas digital. A live, segundo Amaro, é a primeira iniciativa deste tipo da Associação. Saiba mais sobre o Observatório no final da matéria.
Impactos da Covid-19 nos hospitais da Anahp
Na live, a pandemia (Covid-19) e os impactos no setor hospitalar, foram amplamente destacados. Um dos pontos apresentados foi o tempo de permanência nos leitos. Segundo Ary, os associados da Anahp vinham conseguindo diminuir o número de dias de internação, elevando, portanto, a sua eficiência. Com a pandemia, ocorreu o aumento de permanência (em dias) nos primeiros meses de 2020. No período (bimestre) de jan/fev e mar/abr o aumento foi de 13,32%.
“Quando você tem um aumento do tempo médio de permanência, você tem uma diminuição no giro de leitos, ou seja, o número de vezes que aquele leito gira com os pacientes. Este indicador nos mostra que houve igualmente uma redução no giro de leitos. Ocorre um efeito acentuado no giro de leitos, diminuindo 21,4%. ” Segundo Ary, há duas explicações: o paciente Covid-19 que fica mais tempo internado e os pacientes mais graves e idosos que passam a ser, ambos, o mix principal do atendimento.
Receitas em queda
A receita dos hospitais foi reduzida em 26% nos 4 primeiros meses do ano, comparado com o mesmo período de 2019 (janeiro a abril). Esta redução, está atrelada ainda, ao aumento das despesas variáveis e à manutenção das despesas fixas.
A Anahp desenvolveu, em parceria com a empresa de consultoria Compass, uma projeção do impacto da Covid-19 na receita ao final de 2020. No estudo, o objetivo foi avaliar como a diminuição de cirurgias eletivas, aumento de custos, absenteísmo e contratação de novos profissionais poderia impactar a receita das instituições hospitalares associadas.
“Projetamos uma queda de 30%, desde que houvesse, uma retomada dos serviços eletivos em julho. Eu temo dizer que o impacto poderá ser ainda maior que esta projeção, já que a questão da retomada plena do movimento eletivo no mês de julho, ainda é uma incerteza”, disse Ary. A projeção inicial da entidade era uma receita dos seus associados de 43,7 bilhões, enquanto a atual, está em 30,6 bilhões.
BNDES
Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo da entidade, destacou que este estudo foi levado para discussão junto ao BNDES. O vice-presidente, Henrique Neves, destacou a importância do estudo para que o Banco pudesse compreender a gravidade da situação. “Essencialmente foi necessário fazer uma estimativa razoável, demonstrando qual seria a queda na receita, e ao mesmo tempo, até que ponto seria necessário fazer uma redução de despesas. O que vemos neste estudo, é um déficit econômico que vai se projetar ao longo do tempo”, resumiu Neves.
Marco Aurélio disse que a negociação com o BNDES está na fase de diálogo e discussão interna por parte da instituição financeira. Os dados e informações foram apresentados nas últimas três semanas. “Durante esta semana, acredito que teremos um encaminhamento a toda a nossa reivindicação”, completou o diretor-executivo.
EPI´s, absenteísmo e novas contratações: os impactos financeiros
O aumento dos custos dos equipamentos de proteção individual (EPI´s), o absenteísmo e as despesas com novas contratações têm sido um dos principais desafios dos hospitais na gestão financeira. Segundo Ary, os EPI´s tiveram aumento de uso de 200% e 300% de aumento no valor de aquisição, em média.
“Tivemos um impacto muito grande no custo dos EPI´s e um impacto igualmente grande no absenteísmo. Se compararmos 2019 e 2020, comparando janeiro a abril, o aumento foi de 16%. Agora, se compararmos o primeiro bimestre de 2020 (jan/fev) com o segundo (mar/abr), o aumento é de 37% no custo do absenteísmo. Um hospital não pode operar sem pessoas qualificadas. O absenteísmo está ligado, mesmo com todos os nossos cuidados, ao risco dos nossos profissionais serem contaminados. Nós tivemos que fazer novas contratações, e a projeção é um aumento estimando de 3% no custo fixo ao final do ano”, destacou Ary.
Queda nas internações
Ary destacou que a queda geral de internações entre jan/fev e mar/abri foi de 25%. E houve aumento de 28% nas internações relacionadas a doenças infecciosas – da qual está classificada a Covid-19 em 2020. A queda nas internações relacionadas às doenças crônicas foi: 23% para neoplasias; 21% para doenças do aparelho circulatório e 27% do sistema nervoso.
Os atendimentos de urgência e emergência caíram 31%, comparando o intervalo de janeiro a abril de 2019/2020. A queda, comparada entre os dois bimestres (jan/fev e mar/abr) de 2020 foi de 40%. A realização de exames em 2020 tem uma estimativa de queda de 32%.
“Existe uma percepção de receio, é compreensível, mas há uma parte desta situação que precisa ser melhor comunicada”, disse Ary. “A decisão de parar o sistema eletivo foi adequada, para ajudar a preparar o sistema para absorver os pacientes Covid. Só que o impacto que isto tem, a dinâmica que se estabelece na sociedade, em relação à percepção de risco, gerando medo e evoluindo em diversas cidades, nos obriga a ter que começar a falar do passivo das condições de saúde que isto ocasiona [para o paciente]”, referindo-se à piora na saúde dos pacientes ao não irem no hospital em casos que precisam ou a decisão de retardar uma cirurgia eletiva.
A mortalidade aumentou 30%, nos bimestres comparados de jan/fev a mar/abril de 2020. “Claramente relacionado ao mix de pacientes mais graves e pacientes Covid”, explicou Ary.
Conahp 2020
O Conahp 2020 será realizado de forma virtual, muito provavelmente, informaram os executivos. Em breve a entidade irá informar a programação, que será realizada no final do ano.
Observatório 2020
A edição deste ano apresenta temas inéditos e importantes para o setor, como: a relevância econômica do setor para o país, em um artigo desenvolvido pelo economista de saúde e consultor internacional André Medici; e o Programa de Desfechos Anahp, com um panorama geral da metodologia e sobre a implementação do standard set de insuficiência cardíaca, que se tornou referência no mundo.
O Observatório traz ainda um panorama econômico do setor, números atualizados dos hospitais associados Anahp, como, por exemplo o balanço financeiro das instituições privadas, geração de empregos do setor e número de leitos.
O anuário também conta com perfil mercadológico (análises do mercado de saúde suplementar e do perfil clínico e epidemiológico), desempenho assistencial (análises dos indicadores operacionais, assistenciais, qualidade e segurança e protocolos institucionais) e institucional (com indicadores econômicos e financeiros, de gestão de pessoas e de sustentabilidade dos hospitais associados).
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