Gestão e Qualidade | 7 de novembro de 2025

Leandro Karnal foi um dos grandes destaques em evento do Hospital Moinhos de Vento

Portal Setor Saúde acompanhou o 5º Summit Ambiental do Hospital realizado nesta semana em Porto Alegre (RS).
Evandro Moraes assumirá Direção Geral do Hospital São Lucas da PUCRS

Referência em saúde de excelência, o HOSPITAL MOINHOS DE VENTO também investe em projetos de responsabilidade socioambiental. Nesta quarta-feira (5), a instituição hospitalar promoveu o 5º Summit Ambiental do Hospital, em Porto Alegre (RS). Um dos destaques da programação foi a palestra magna do historiador e professor Leandro Karnal. O portal Setor Saúde esteve presente e acompanhou a palestra de Karnal e conversou com lideranças presentes.


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Karnal abordou a evolução da consciência social e ambiental, destacando a necessidade de uma reflexão profunda sobre o impacto humano no planeta e a importância da ação individual e coletiva, baseada em dados e não em meras opiniões. “Fui trabalhar na Califórnia, nos Estados Unidos. Certo dia fui convidado para um jantar onde estava um grupo de moradores locais. Fiz uma brincadeira sobre plantas de plástico. Eu não gosto de planta e flor de plástico. Na verdade, abomino elas. Mas neste jantar um dos americanos, que reside na Califórnia, conhecidamente um estado árido, me retrucou e disse que grama de verdade é uma ostentação antiecológica, pois exige o uso de muita água para mantê-la. ‘Um jardim de grama exige muita água e quem tem grama em casa, não tem consciência’, me disse o americano. Ele mudou a mineira de eu pensar.”

leandro karnal hospital moinhos

A humanidade está em um ponto crítico de mudança ecológica e social, onde percepções antigas precisam ser substituídas por uma abordagem informada e proativa para garantir a sobrevivência humana, não do planeta, que tem sua própria capacidade de recuperação. “O planeta sobreviverá, quem está em risco somos nós”, completou. 

Metáfora do Planeta como Organismo e o “Câncer”

Karnal falou sobre a “Hipótese Gaia” – o planeta como um único organismo. Esta teoria foi proposta pelo cientista britânico James Lovelock nos anos 1970, com colaboração da bióloga Lynn Margulis. A teoria defende que a o planeta terra funciona como um superorganismo vivo, onde todos os elementos — atmosfera, oceanos, solo, clima e seres vivos — interagem de forma integrada para manter condições adequadas à vida. Dessa forma, os organismos vivos regulariam ativamente o meio ambiente (como temperatura, composição do ar, salinidade dos oceanos), criando um sistema de equilíbrio.

“O crescimento ilimitado em um ambiente limitado é comparado ao câncer, uma força destrutiva que, sem limites, inviabiliza o sistema hospedeiro. Isso se aplica à economia e ao consumo excessivo de recursos. E se olharmos para as enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul, observamos que o volume de água que desceu pelos rios invadiu o limite que o lago Guaíba aguentava, assim como em outras regiões, invadindo as cidades”, explicou Karnal. 

Mundo urbano dominante e a produção de lixo em excesso

“Em nossas cidades… veja que no mundo todo é assim, pavimentamos tudo o que podemos. Canalizamos os córregos e rios. Tiramos a florestas do caminho, eliminamos as demais barreiras naturais e os predadores, proliferando ratos no subterrâneo, como em Nova Iorque e em outras grandes cidades. Construímos à beira dos rios e lagos e vedamos as passagens de água. Isto tudo tem influência, fazendo com que as consequências das mudanças climáticas sejam sentidas com mais periodicidade e sejam mais drásticas.” 

mundo urbano dominante leandro karnal

“Vejam que a geração anterior, por uma série de motivos, minha mãe de origem alemã, não jogava nada fora. Ela não rasgava qualquer papel, ela guardava cuidadosamente para mais tarde poder aproveitar.  Minha mãe começou a guardar potes de sorvete nos anos 70, para guardar feijão e outros alimentos…. ou seja, o lixo produzido hoje é muito maior comparado ao que os nossos antepassados produziam. E o consumo é muito maior”, reforçou Karnal. 

landro karnal

No final da palestra, Karnal destacou é preciso cada um olhar para si mesmo e buscar as motivações para mudanças. Segundo ele, as mudanças são possíveis, necessárias e devem ser motivadas por um senso de responsabilidade para com o futuro da própria espécie humana, aliando conhecimento científico, ética e escolhas de vida mais sustentáveis. “Se eu separar garrafas de plástico na minha casa, eu não vou salvar o mundo, nem o meu condomínio, mas essa é a minha casa, esse é o meu condomínio…. E com todos os problemas que podem acontecer, são tentativas. Quando alguém me diz, ‘não dá pra fazer nada, não podemos fazer, isso não vai funcionar’, eu sei que esta pessoa está na verdade disfarçando a sua preguiça.”

Compromissos do HOSPITAL MOINHOS DE VENTO e participação na COP 30

O portal Setor Saúde conversou com executivos do HOSPITAL MOINHOS DE VENTO. Para Mohamed Parrini (CEO do HOSPITAL), “O HOSPITAL MOINHOS está muito orgulhoso com o evento que a gente está fazendo hoje. É um evento anual dentre tantos outros em vários eixos de importância para a sociedade, na educação, na pesquisa, na assistência, na medicina, na área social e na área ambiental”, pontuou.

mohamed parrini hospital moinhos

“Nos próximos dias estaremos presentes na COP30 apresentando projetos importantes. Um deles é de impacto social, que é o projeto Recomeçar, que apoia e dá apoio psicológico para as famílias que estão sofrendo o impacto das consequências das enchentes. E falaremos sobre alguns projetos ambientais que desenvolvemos, como um destinado à população indígena na formação de agentes de saúde e a população ribeirinha da Amazônia. Estamos atuando bastante nesta área socioambiental por que entendemos que os hospitais sim geram impacto ambiental na sua cadeia e que é nosso papel minimizar, lembrando que a gente tem um projeto de até 2027, ser carbono neutro, neutralizá-los nos carbonos antigos, no ano em comemoramos o nosso centenário. A gente está muito orgulhoso com esse momento”, completou Parrini.

Projetos do HOSPITAL MOINHOS DE VENTO

Evandro Luís Moraes (Superintendente Administrativo do HOSPITAL MOINHOS) destacou a importância do evento e da série de atividades que miram transformar o Hospital referência também em respeito ao meio ambiente. “É o 5º Summit Ambiental que a gente realiza. Uma jornada iniciada há 5 anos atrás quando decidimos dar um cunho acadêmico e de educação ambiental para o nosso propósito. O projeto ambiental no Moinhos tem mais de 10 anos. Comigo o projeto está há 11 anos, mas ele tem mais tempo do que isso. Hoje podemos dizer que já está no DNA da instituição, alinhando as preocupações e as questões de impactos ambientais que a saúde é geradora.”

evandro moraes leandro karnal

“Sobre a palestra do professor Karnal, saímos todos impactados agora há pouco. Comentei com ele hoje cedo que já era um desejo nosso o tê-lo em edições anteriores, mas que por conta da agenda dele muito concorrida, não tinha sido possível. Eu acho que todo mundo saiu realmente impactado e comprometido com muito do que ele falou”, completou Moraes.


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“Nós fomos, em 2017, o primeiro hospital que criou uma unidade interna de transformação de resíduos. Hoje, a gente já tem 100% do resíduo reciclável, plástico, papel e orgânico sendo tratado dentro do Moinhos. Temos um novo projeto para resíduos que ainda são destinados para o aterro sanitário. O objetivo é fazermos o tratamento interno também. A gente quer se apresentar, talvez, como o primeiro hospital no Brasil, primeiro hospital no mundo, a ter 100% do seu resíduo não mais destinado para fora da instituição. Somos o primeiro hospital da região Sul a termos uma certificação ambiental da ISO 14001. O projeto Certidão da Vida já é uma realidade. A gente vai plantar 20 mil árvores em 5 anos, conectando os nascimentos da maternidade a essas árvores plantadas. Isso tem um impacto social muito forte também. A relação da sociedade, da família que recebe aquela certidão conectada do seu filho que nasceu.”

evandro moraes hospital moinhos de vento

Certificação LEED e construções sustentáveis

Outro destaque da atuação do Hospital é a certificação LEED para construções sustentáveis. “Queremos que todas as nossas construções, a partir do bloco 12, que é o Hospital do Coração, tenham a certificação LEED, ou seja, adoção de boas práticas ambientais de forma geral e nos padrões construtivos também. Então, é a conexão da engenharia, da infraestrutura com a pegada ambiental. Acho que a gente tem um legado sendo criado, um legado sendo deixado também. E eu estou muito feliz hoje, muito feliz com o evento, com mais de 400 pessoas presentes aqui”, comemorou Moraes.

moinhos social

Presente ao evento, o CEO da CONSTRUTORA TEDESCO (Grupo HTB), Pedro Silber, também falou sobre o evento e a certificação LEED – a construtora foi responsável pela edificação do HOSPITAL DO CORAÇÃO e é uma das parcerias do projeto Certidão de Vida. “O Moinhos está sempre à frente. Não só na área da saúde, mas eu creio que todo o envolvimento que o HOSPITAL MOINHOS tem com a sociedade, com a comunidade, é algo inspirador para todos nós. E dentro dessa ótica, com todas as ações que o Moinhos faz na área ambiental, nós nos sentimos extremamente felizes por poder não só estar participando nos projetos de engenharia e construção, mas também dando uma pequena colaboração nesses outros projetos que dizem respeito à questão de sustentabilidade e questão ambiental, com é o caso do projeto Certidão da Vida. Nós, dentro do grupo HTB, com o qual nós fazemos parte, existe uma política bastante robusta no que diz respeito às questões de sustentabilidade ambiental. No que diz respeito às obras, a gente tem procurado já por diversos projetos, quando possível, participar de certificações LEED, certificações de sustentabilidade. Claro que isso depende muito do cliente. Mas nós temos internamente uma estrutura bastante robusta para dar suporte a tudo isso. Para o cliente que coloca como meta a certificação LEED, existe uma série de questões a serem estudadas e implementadas para diminuir o consumo de energia, pontos a serem considerados como reuso de água, questões de circulações, enfim, tem todo um arcabouço que já vem da concepção do projeto e que depois tem que ser implementado na parte de construção”, explicou Silber (terceiro da direita para a esquerda na foto abaixo).

pedro silber tedesco construtora

Saúde Mental pós impactos das enchentes, HIMS 7 e Enfermagem Planetária

Admilson Reis (Diretor de Riscos, Qualidade e Responsabilidade Social), destacou que a pautal socioambiental é um dos vetores da atuação do Hospital.  “A busca do HOSPITAL MOINHOS DE VENTO é, de fato, protagonizar essa discussão sobre a responsabilidade socioambiental de um hospital. Vai muito além da nossa atividade principal, mas totalmente alinhada com ela, que é o cuidado com as pessoas. Inclusive nós vamos estar na terça-feira lá em Belém [na COP30] apresentando o nosso caso de resiliência climática, como o HOSPITAL MOINHOS passou pela calamidade do ano passado, mantendo as suas operações ativas com uma gestão humanizada, porém extremamente bem estruturada para o enfrentamento de uma crise e para o além.”

admilson reis hospital moinhos

“Nós também estamos desenvolvendo um projeto em parceria com o Ministério da Saúde porque a gente observa que após calamidades, um dos principais fatores de impacto na saúde do ser humano é a saúde mental. Este projeto englobará 10 mil pessoas impactadas pelas enchentes do ano passado, proporcionando para essas pessoas acompanhamento, tratamento e entender quais são suas demandas, que vão muito além das perdas materiais que elas tiveram, mas todo o desdobramento dessa calamidade na saúde mental dessas pessoas. E por que da relevância desse projeto? Porque aspectos de saúde mental impactam inclusive em questões socioeconômicas. Você tem absenteísmo, perda de produtividade. O objetivo também é desenvolver protocolos entregando para o Ministério da Saúde, por meio do PRADI-SUS, um modelo de como gerir crises como essa”, detalhou o Diretor de Riscos, Qualidade e Responsabilidade Social do HOSPITAL MOINHOS.


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Reis também falou sobre um novo projeto: a busca pelo estágio 7 da certificação HIMSS – hospital 100% digital. Ela sinaliza o ápice da maturidade digital hospitalar, um patamar que, por sua exigência, é alcançado por um número restrito de instituições globalmente. “Estamos buscando junto com a nossa equipe de tecnologia da informação, a certificação HIMMS-7. Basicamente queremos reduzir a utilização de papel na nossa operação [paperless]. É uma outra forma de exemplificar, sair do discurso e mostrar na prática o que a gente tem feito.”

equipe hospital moinhos

Por fim, Reis falou que as parcerias internacionais com duas das melhores instituições de saúde e educação do mundo, a Mayo Clinic e a Johns Hopkins, ambas dos Estados Unidos, também envolvem a integração com a pauta meio ambiente. “Acredito que é impossível dissociar qualquer discussão de alto nível hoje no planeta que esteja desvinculada da questão ambiental. Nós temos um projeto muito bonito, que é o da Enfermagem Planetária, onde você envolve toda a assistência e no detalhe da sua prática, a atenção ao aspecto ambiental. É uma pauta comum no mundo inteiro. Então sim, está associado às nossas tratativas, aspectos também relacionados ao meio ambiente junto como nossos parceiros internacionais”, finalizou.

Clima, escassez de recursos e a gestão em saúde

Ao longo da programação, especialistas de diversas áreas debateram a relação direta entre clima e saúde, destacando como o aumento de eventos extremos e a degradação ambiental afetam o bem-estar das populações e desafiam os sistemas de saúde em todo o mundo. Outros painéis abordaram temas como os desafios e estratégias das indústrias farmacêuticas para reduzir impactos ambientais e promover inovação sustentável, além das perspectivas estratégicas para hospitais e sistemas de saúde no Brasil diante da crise climática.

SUMMIT AMBIENTAL HOSPITAL MOINHOS 25

Representantes do poder público também apresentaram ações governamentais voltadas à mitigação das emissões de gases de efeito estufa e à resposta a eventos climáticos extremos, reforçando a importância de políticas integradas entre os setores de saúde, meio ambiente e gestão pública. Os painelistas foram unânimes ao apontar que a resiliência climática depende de planejamento, treinamento e gestão intersetorial, com políticas públicas e institucionais capazes de preencher lacunas e preparar o sistema de saúde para os próximos eventos extremos.

MOINHOS DE VENTO HOSPITAL

Investimentos em planos de contingência devem ser realizados, tanto por hospitais como pelo setor público e elos da cadeia. Eventos inesperados causam desorganização e levam os hospitais a terem que se reinventar, enfrentando falta de funcionários e a necessidade de realocar profissionais de outras especialidades.

luiz nasi

A escassez de recursos básicos, como água, afeta diretamente os procedimentos hospitalares. Foi citado o exemplo da diálise pelo Superintendente Médico do Hospital Moinhos, Luiz Nasi (foto acima). “Quando tivemos escassez de água no período das enchentes de 2024, a rotina precisou ser modificada para reduzir o tempo de tratamento. Claro, sem abdicarmos dos resultados assistenciais.  Economizamos água concomitantemente com a manutenção da segurança para os pacientes. A água usada na diálise é uma água limpa, ela tem algumas alterações, mas é uma água segura. Ela foi redirecionada para as caixas d’água para trabalhar na sanidade, e eventualmente para uso em limpeza.”

De forma geral, os especialistas destacaram que o cenário atual exige que o sistema de saúde não apenas reaja a crises, mas que se reorganize proativamente, investindo em dados, proteção da equipe, soluções inovadoras para escassez de recursos e parcerias estratégicas, mantendo sempre um espírito de colaboração e resiliência.

Conheça o projeto Certidão da Vida

Veja fotos do evento

SUMMIT AMBIENTAL 25-MOINHOS

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Fotos: Leonardo Lenskij / Hospital Moinhos de Vento. 

 

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