Os desafios da Sociedade Brasileira de Radiocirurgia
Novo presidente quer levar o tratamento para o SUSO dr. Leonardo Frighetto (foto) assumiu, em março, a presidência da Sociedade Brasileira de Radiocirurgia (SBRC), e tem como objetivo desmistificar e tornar mais conhecida a especialidade. Referência internacional na área, o gaúcho de 42 anos formou-se em Passo Fundo e possui pós-graduação em Radiocirurgia Estereotáxica e Neurocirurgia Funcional pela UCLA, Universidade da Califórnia – Los Angeles (EUA). Friguetto possui ainda Certificado pelo ECFMG (Educational Commission for Foreign Medical Graduates, EUA); é membro da International Stereotactic Radiosurgery Society (ISRS) e Coordenador do grupo de Radiocirurgia Estereotáxica, do Centro de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento.
Radiocirurgia
Mais do que uma área da neurocirurgia, a radiocirurgia necessita de três profissionais especializados em um trabalho conjunto: neurocirurgião, radioterapeuta e físico médico. Com três décadas de existência, é um tratamento ainda pouco conhecido e difundido no Brasil. No Estado, o serviço só é oferecido no Hospital Moinhos de Vento e, desde 2005, atendeu uma média de 62,5 pessoas por ano, ou 5,2 por mês.
Em entrevista para o portal Setor Saúde, o Dr. Frighetto ressalta que tem como foco a disseminação da especialidade, tanto na área privada, que embora já seja oferecida ainda não é suficientemente adotada, quanto na esfera pública, que carece dessa modalidade.
Setor Saúde – Assumir a presidência era algo almejado?
Frighetto – Passei dois anos em Los Angeles (EUA) fazendo especialização. Em 2010, realizamos o Congresso Brasileiro de Radiologia, onde fui o presidente. Fizemos outro no fim do ano passado e, na assembleia final, me escolheram. Não me candidatei a nada. Foi pela minha trajetória que fui eleito, algo que vem de 2005. A Sociedade de Radiocirurgia é recente, sou um dos sócios fundadores.
Setor Saúde- Qual é o grande desafio agora como presidente da sociedade brasileira de radio-cirurgia?
Frighetto – A radio-cirurgia necessita várias coisas, a começar pela divulgação da especialidade. Pelo nome, parece um tratamento recente, mas na verdade tem ha mais de 30 anos. A nova tecnologia tem muita aplicabilidade, trata tumores sérios. É muito importante contra câncer, que está difundido na população, que ainda tem pouco acesso. O Hospital Moinhos de Vento foi pioneiro na área, o quinto a adotar no Brasil, mas os pacientes vêm mais de convênio particular. Hoje, algumas clínicas também têm radiocirurgia, o mercado está se abrindo. Mesmo os convênios ainda têm dificuldade em colocar esse tratamento em suas tabelas, da mesma forma que o IPE. Existe, mas não é privilegiado.
Setor Saúde – O que espera dos próximos dois anos?
Frighetto – Nossa meta está voltada para dois pontos principais: seguir o avanço científico, permanecendo com nossos centros comparados ao melhores do mundo. Mas o principal objetivo é de difundir a radio-cirurgia no País. Não é só tratamento para o cérebro, mas também para pulmão, fígado, próstata, pâncreas e coluna vertebral. Vai para todo o corpo. Queremos divulgar a disponibilidade da radio-cirurgia não só criando novos centros. As fontes pagadoras, os convênios, os planos de saúde precisam colocar a radio-cirurgia nas suas tabelas. Os usuários do IPE precisam ter acesso. A questão da saúde pública é igualmente importante. Não queremos somente os pacientes privados, mas também ver como funciona na esfera pública, queremos presença no SUS. É muita coisa, acho que vou deixar um pouco para o próximo presidente (risos).
Setor Saúde- Quantas pessoas já foram tratadas no Rio Grande do Sul? E qual a complexidade do tratamento?
Frighetto – Desde 2005, já atendemos mais de 500 pessoas. No dia do tratamento, o paciente fica o dia todo no hospital. Passa por exame de imagem (tomografia e ressonância magnética), os médicos fazem o planejamento, que dura umas três horas. O tratamento em si dura somente 20 a 30 minutos para cada lesão. A preparação é o mais importante. No final, o indivíduo já pode ir jantar em casa.
Setor Saúde – Qual é o grande diferencial da radiocirurgia?
A radiocirurgia dá impressão de ser cara, mas na maioria dos casos é ambulatorial. Só fazemos anestesia local, o paciente tem alta no mesmo dia, e trata um tumor cerebral. Se compararmos com a cirurgia tradicional, que requer internação na UTI, há possibilidade de complicação, acaba por ser mais viável. A maioria dos gestores nos EUA preferem a radiocirurgia, que é menos invasiva.
Setor Saúde – A radiocirurgia ainda não é comum no Brasil?
Frighetto – O Brasil vive duas realidades. Temos os grandes centros, como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia, que são equiparáveis aos melhores do mundo. Por outro lado, temos uma carência enorme nos outros locais, e isso é em todo o País. A melhor tecnologia já existe aqui.
Setor Saúde – É frequente a vinda de pessoas de fora do Estado para realizar o tratamento?
Frighetto – No Moinhos, temos vários pacientes de fora. Nos últimos anos o atendimento está mais regionalizado, mas atender pessoas de Santa Catarina é rotina. Alguns já vieram do Paraná, Minas Gerais, Espirito Santo e até da Bahia.