Mundo, Tecnologia e Inovação | 7 de novembro de 2014

Reação espontânea do corpo pode indicar caminho para a cura da AIDS

Integração do vírus ao DNA humano pode inativar o HIV, que fica incapaz de se multiplicar
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Cientistas franceses descobriram um mecanismo genético que levou dois homens infectados pelo HIV a experimentar uma “cura espontânea”. A descoberta, divulgada em primeira mão pela revista Clinical Microbiology and Infection, pode levar a novos tratamentos para a doença.

O trabalho foi realizado por cientistas do Instituto de Saúde e Pesquisa Médica Francês (Inserm). O HIV se propaga ao invadir as células imunológicas humanas CD4, que são reprogramadas para se tornar fábricas de vírus. Um raro grupo de pessoas – menos de 1% das infectadas – são naturalmente capazes de controlar a replicação viral e manter o vírus em níveis indetectáveis clinicamente. Conhecidos como “controladores de elite”, esse mecanismo pelo qual os pacientes mantêm o vírus sob controle permanece desconhecido.

Os pacientes analisados estavam infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). No entanto, ambos nunca desenvolveram os sintomas da AIDS, cujo vírus permanece nas células do sistema imunológico. Os pesquisadores franceses sequenciaram os genomas virais dos dois indivíduos, um homem de 57 anos com HIV positivo desde 1985, e um de 23 anos, diagnosticado em 2011.

Segundo os cientistas, o vírus foi inativado porque o código genético dos dois pacientes tinha sido alterado. A mudança estaria ligada ao aumento da atividade de uma enzima denominada APOBEC. “O trabalho abre caminhos terapêuticos para a cura, utilizando ou estimulando esta enzima, e também para a identificação de indivíduos entre os pacientes recém-infectados que têm uma chance de cura espontânea”, diz o comunicado oficial emitido pela equipe de especialistas.

Mesmo infectados, os testes padrões não detectaram o vírus no sangue. Nos dois casos, o vírus era incapaz de se replicar em células do sistema imune devido a mutações no código genético. Como conclusão, os pesquisadores sugeriram evolução espontânea entre os seres humanos e o vírus, um processo chamado de endogeneização. “A cura do HIV pode ocorrer através de endogeneização do HIV em seres humanos”, resumiu a equipe.

Um processo semelhante foi observada em um grupo de coalas infectados por um vírus semelhante à AIDS em seus genes. Os animais conseguiram neutralizar o desenvolvimento do vírus e estavam passando essa resistência aos seus descendentes. 

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