Estatísticas e Análises | 29 de dezembro de 2022

30 mil brasileiras são diagnosticadas com cânceres ginecológicos a cada ano

Oncologistas esclarecem sobre sintomas, prevenção e tratamentos
30 mil brasileiras são diagnosticadas com cânceres ginecológicos a cada ano

Ao longo do mês, a campanha Janeiro Verde vem para alertar sobre a prevenção e conscientização do câncer do colo do útero, o terceiro tipo de câncer que mais afeta as mulheres, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). E a data no calendário deve ser também uma oportunidade para ampliar a conscientização sobre outros tipos de tumores ginecológicos, entre eles os de corpo do útero (endométrio) e ovário. Juntos, os cânceres que afetam o sistema reprodutor feminino correspondem a mais de 30 mil novos diagnósticos todos os anos e ainda esbarram na falta de conhecimento sobre prevenção e formas de detecção precoce, essenciais para frear as taxas de letalidade pela doença. 

O Inca aponta que para 2023 são esperados 17.010 novos casos de câncer de colo de útero, mais comum em mulheres consideradas jovens, na faixa dos 35 a 44 anos. Já os tumores ovarianos e de corpo uterino se tornam mais prevalentes naquelas acima de 50 anos e são responsáveis por mais de 6.500 novos diagnósticos a cada ano, respectivamente.

No Rio de Janeiro, a situação também preocupa. Ainda segundo a Instituição, 3.330 mulheres serão diagnosticadas com tumores ginecológicos no próximo ano. A maior parte deles será de colo do útero (1540 novos casos), seguido por endométrio (1.080) e ovário (710). “O Papilomavírus Humano (HPV) tem relação direta com o desenvolvimento do câncer do colo do útero. Portanto, a vacina contra o HPV é fundamental para a queda da incidência dessa neoplasia no Brasil”, afirma a oncologista Andreia Melo, da Oncoclínicas Rio de Janeiro.


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Vacina contra HPV

A oncologista Angélica Nogueira, do Grupo Oncoclínicas, também alerta para a importância da vacina contra HPV, um fator que não pode ser deixado de lado. “Mais de 90% dos casos do câncer do colo do útero estão ligados ao HPV. Infelizmente, apenas um terço das meninas são vacinadas no Brasil e isso pode impactar diretamente no problema. Isso poderia reduzir em até 95% as chances de desenvolvimento da neoplasia”.

Desde 2014, a vacina contra o HPV é oferecida gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde no Brasil e está disponível atualmente para todas as crianças e adolescentes de 9 a 14 anos. “A imunização pode ajudar não só a prevenir o câncer do colo do útero, como também o de vulva, vagina e ânus nas mulheres e de pênis nos homens”, afirma Angélica. Além disso, vale lembrar que a vacina também é indicada para pacientes com câncer, HIV e transplantados (até os 45 anos nas mulheres e 26 anos nos homens).

No Rio, os índices de imunização também estão abaixo do ideal. No estado, a taxa de vacinação para as meninas entre 9 e 14 anos ficou em 54,76% para a primeira dose e 33,27% para o esquema vacinal completo no primeiro semestre de 2022. No caso dos meninos, os percentuais ficaram em 22,45% e 14,02%, respectivamente.

“O câncer do colo do útero ainda é, infelizmente, considerado um problema mundial de saúde. Nos países em que há uma alta taxa de infecção pelo HPV, a neoplasia possui uma maior repercussão. Apesar de na grande maioria dos casos as mulheres terem a infecção resolvida por volta de seus 30 anos, ainda existe a probabilidade de o vírus evoluir para o câncer do colo do útero”, comenta Angélica.

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Como identificar tumores ginecológicos

Considerado grave e silencioso, em 75% dos casos o câncer ginecológico é descoberto em estágio avançado. Contudo, alguns sintomas podem indicar que algo está errado com o corpo, por isso, fique de olho se houver:

      Sangramento vaginal anormal


      Febre que persiste por mais de 7 dias


      Inchaço abdominal


      Gases


      Dor pélvica ou pressão abaixo do umbigo


      Dor de estômago


      Alterações intestinais


      Mamas sensíveis, com secreção, nódulos, inchaço ou vermelhidão


      Fadiga


      Vulva e vagina com feridas, alteração da cor ou bolhas


      Perda de peso sem motivo (10kg ou mais) 

Quanto ao rastreamento dos cânceres ginecológicos, Angélica Nogueira comenta que o Papanicolau é uma maneira de identificar as lesões pré-malignas antecipadamente. “Ele pode ajudar a diagnosticar precocemente o câncer do colo do útero e evitar que o tumor seja encontrado em estágios mais avançados, prejudicando o tratamento e deixando-o mais complexo”.

 A oncologista Carla Andrade, do Hospital Marcos Moraes, diz que um erro comum é achar que o HPV só se manifesta através de verrugas genitais e que, na ausência delas, não é preciso se preocupar.

 “Nem sempre o HPV vai apresentar verrugas, mas o vírus estará presente. Para detectar lesões pré-malignas ou malignas, é fundamental que se faça sempre o exame Papanicolau”, reforça.

Já nos casos de câncer de ovário e endométrio, ainda não existem bons exames de rastreamento precoce. Em casos como esse, o médico pode solicitar exames clínicos ginecológicos, laboratoriais e também de imagem que ajudam a identificar a presença de ascite ou acúmulo de líquidos, além da extensão da doença em mulheres com suspeita de disseminação intra-abdominal. Contudo, se houver suspeita de câncer de ovário, por exemplo, é necessária uma avaliação cirúrgica.

 Além disso, o raio-x ou tomografia computadorizada do tórax pode auxiliar na análise de derrame pleural, metástases pulmonares ou ainda quaisquer outras alterações.

 Fatores de risco

       Câncer do colo do útero: HPV, ter tido cinco ou mais partos, HIV, tabagismo e constante troca de parceiros


      Câncer de ovário: menarca precoce (antes dos 12 anos) ou menopausa após os 52 anos, mulheres que nunca tiveram filhos ou que possuam histórico da doença na família.


      Câncer de endométrio: menarca precoce (antes dos 12 anos) ou menopausa após os 52 anos, mulheres que nunca tiveram filhos, idade acima dos 50 anos, obesidade, diabetes, ou que realizaram terapia de reposição hormonal de maneira inadequada após a menopausa. 

Prevenção

 De acordo com a Dra. Angélica Nogueira, no caso do câncer do colo do útero, a prevenção deve ser realizada através do Papanicolau (a partir dos 25 anos), sendo repetido uma vez por ano por três vezes e, se não houverem alterações, uma vez a cada três anos após esse período, vacinação contra o HPV e uso de preservativos durante a relação sexual.

“No caso dos cânceres de útero e endométrio, por não existirem exames específicos de rastreamento, é fundamental praticar regularmente exercícios físicos, manter uma dieta equilibrada e, caso seja indicado pelo especialista, o uso da pílula anticoncepcional”, comenta a especialista.

Tratamento

O tratamento adequado irá depender do estadiamento das neoplasias e também se existem metástases. “Podem ser recomendadas radioterapia, cirurgia, quimioterapia, braquiterapia, ou ainda a combinação de dois ou mais tratamentos”.

Andreia Melo chama atenção ainda para as constantes pesquisas na área, que vem desenvolvendo novos tratamentos, melhorando a qualidade de vida do paciente e aumentando as chances de cura. “Existem novas pesquisas que merecem destaque relacionadas ao câncer do colo do útero. Muito recentemente temos desenvolvido estudos sobre imunoterapia em diversos contextos, desde a doença mais avançada até o que chamamos de doença localmente avançada”, afirma.

“Não podemos esquecer que quando falamos de prevenção e tratamento, é muito importante buscar por fontes de informação seguras. Na internet, por exemplo, existem diversos boatos que podem impactar de maneira negativa na saúde da população. Por isso, sempre tire as principais dúvidas com um especialista e confirme quaisquer informações recebidas pelas redes sociais antes de compartilhar ou iniciar tratamentos milagrosos. Isso pode trazer consequências graves para os pacientes oncológicos e até mesmo dificultar e agravar o quadro de saúde”, finaliza  Angélica Nogueira.

 



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