1 entre 4 cirurgias de câncer de próstata não foram realizadas no SUS no primeiro ano de Covid-19
Na campanha Novembro Azul, a entidade reforça a necessidade da retomada do cuidado contra o câncer mais incidente nos homensA Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), em alusão ao Novembro Azul, mês de conscientização sobre o câncer de próstata, alerta para o impacto da pandemia, especialmente em 2020, na redução dos diagnósticos de novos casos e nas cirurgias para retirada de tumor, um represamento que pode resultar, nos próximos anos, em mais casos agressivos e aumento de mortalidade pela doença.
A preocupação da SBCO é explicada pelos números do levantamento feito pela entidade junto ao banco de dados TABNET/DataSUS, do Ministério da Saúde. Em 2019, foram realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) o total de 80.755 prostatectomias em Oncologia. Comparado a 2019, houve redução de 25% em 2020 (59.438) e 17% em 2021 (65.873). Paralelamente, o número de dosagens de antígeno prostático benigno (PSA) e de biópsias de próstata também caiu: foram 5,7 milhões de dosagens de PSA em 2019, com redução de 28% em 2020. Já o número de biópsias caiu de 41.813 em 2019 para 33.255 em 2020 (redução de 21%).
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“Com um simples exame de sangue, que é o PSA, toque retal e biópsia é possível descobrir a doença precocemente, aumentando as chances de sucesso no tratamento. Os casos de câncer de próstata seguem ocorrendo, mas estamos perdendo a oportunidade de descobrir e tratar cedo. Precisamos nos mobilizar para a conscientização dos homens sobre a importância de manterem seus cuidados em dia”, ressalta o cirurgião oncológico Héber Salvador, presidente da SBCO.
Com 65,8 mil novos casos estimados para 2022, o câncer de próstata é o tumor maligno mais comum entre os brasileiros. Comparativamente, somados, os casos em homens de câncer de pulmão, colorretal, estômago e cavidade oral totalizam 62.820 novos casos estimados para 2022. Excluindo os tumores malignos de pele não-melanoma, 29,2% dos casos de câncer em homens começam na próstata.
No mundo, segundo o levantamento Globocan 2020, o câncer de próstata resulta em 1,4 milhão de novos casos anuais e 375 mil mortes anuais. A doença representa 7,3% dos casos e 3,8% das mortes por câncer. Descoberto no início de seu desenvolvimento, o câncer de próstata tem quase 100% de chance de cura após o tratamento. Com doença metastática, por sua vez, segundo o levantamento SEERs, do National Cancer Institute, dos Estados Unidos, apenas 30,5% dos pacientes estão vivos cinco anos após o tratamento.
Apesar dos avanços terapêuticos, cerca de 25% dos pacientes com câncer de próstata ainda morrem devido à doença. No Brasil, por mais que o câncer de próstata seja, biologicamente, uma doença com perfil indolente (de crescimento lento), cerca de 20% dos casos são diagnosticados em estadios avançados. A desigualdade de acesso aos serviços de saúde é um dos fatores que levou ao aumento da mortalidade por câncer de próstata no país nas últimas três décadas.
Novembro Azul
No novembro azul, mês de conscientização mundial sobre o câncer de próstata, o objetivo é alertar para os hábitos de vida que ajudam a prevenir a doença, assim como falar sobre a importância do exame de sangue que avalia a proteína produzida pelo tecido prostático (PSA) e o exame de toque retal, que propiciam descobrir a doença em fase mais inicial, reduzindo assim a mortalidade pela doença. A confirmação diagnóstica se dá por biópsia.
A recomendação é que os homens a partir de 50 anos procurem um profissional especializado, para avaliação individualizada. Aqueles da raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata devem começar aos 45 anos. O rastreamento deverá ser realizado após ampla discussão de riscos e potenciais benefícios, em decisão compartilhada com o paciente. Após os 75 anos, poderá ser realizado apenas para aqueles com expectativa de vida acima de 10 anos.
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Fatores de risco
O câncer de próstata é multifatorial, mas o envelhecimento, alimentação desequilibrada, alterações na glândula prostática e histórico familiar são alguns dos fatores que requerem uma maior atenção.
Idade: o envelhecimento é o principal fator de risco. Raramente a doença acomete homens com menos de 40 anos. A maioria dos homens que desenvolvem o câncer de próstata tem mais de 50 anos e dois terços têm mais de 65 anos.
Histórico familiar: A maioria dos casos não tem qualquer relação com história familiar de câncer. Estima-se que a herança genética responda por cerca de 5% dos casos de câncer de próstata. Quando a doença está relacionada com alterações genéticas herdadas, as principais mutações são nos genes BRCA1, BRCA2 e HOXB13. Ter a mutação hereditária não significa que a pessoa tem câncer e sim que ela herdou um risco aumentado de vir a desenvolver a doença. Nem todas as pessoas que herdam mutações nesses genes desenvolverão câncer.
Alimentação: Dieta rica em gordura, particularmente de origem animal, com alto teor de cálcio, pode aumentar o risco.
Inflamação na próstata: pesquisas sugerem que essa condição pode ter influência no desenvolvimento do câncer de próstata. As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) também estão sendo investigadas como possíveis fatores de risco.
Sintomas
Na fase inicial, o câncer de próstata tem evolução silenciosa e não costuma apresentar sintomas ou, quando apresenta, pode ser confundido com crescimento benigno da próstata, pois é uma doença que tem sintomas semelhantes. Ao perceber alguns dos sintomas abaixo, e que eles persistem por mais de duas semanas, é importante buscar a avaliação de um médico.
Dor ou ardência ao urinar.
Dificuldade para urinar ou para conter a urina.
Fluxo de urina fraco ou interrompido.
Necessidade frequente ou urgente de urinar.
Dificuldade de esvaziar completamente a bexiga.
Sangue na urina ou no sêmen.
Dor contínua na região lombar, pelve, quadris ou coxas.
Dificuldade em ter ereção.
SBCO
Fundada em 31 de maio de 1988, a SBCO é uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, que agrega cirurgiões oncológicos e outros profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar ao paciente com câncer. Sua missão é também promover educação médica continuada, com intercâmbio de conhecimentos, que promovam a prevenção, detecção precoce e o melhor tratamento possível aos pacientes, fortalecendo e representando a cirurgia oncológica brasileira. É presidida pelo cirurgião oncológico Héber Salvador (2021-2023).