Acreditação, Qualidade Assistencial, Segurança do Paciente | 14 de fevereiro de 2018

Segurança Assistencial Hospitalar no País (Parte 2 de 2)

Segurança Assistencial Hospitalar no País (Parte 2 de 2)

Gestores e profissionais de saúde ainda não compreenderam os evidentes benefícios decorrentes da qualificação gerencial por normas (cumprimento de requisitos que são propostos por modelos de gestão, como a ISO 9001, ONA, ISO 31000, Joint Commission, NIAHO, Acreditação Canadense e ACHS). A maioria continua assumindo uma atitude de desvalorização em relação aos modelos certificáveis de gestão e os interpretam como uma “moda” efêmera, ou algo que foi inventado com o propósito de sacar os escassos recursos das organizações de saúde. Estas duas formas de pensamento mantêm as organizações em um estágio de desenvolvimento organizacional precário, colocando em risco tanto os clientes/pacientes que as procuram, quanto os profissionais e elas próprias.

Como regra, as organizações de saúde que ingressam em um sistema de cumprimento de requisitos de segurança e qualidade melhoram progressivamente. Essa disposição evolui à medida que se consolida o hábito do cumprir padrões internacionalmente reconhecidos como evidências de qualificação e segurança. Os autores do Anuário de Segurança Assistencial Hospitalar destacam que a estruturação gerencial por normas de gestão da qualidade amplamente aplicadas, e muitas vezes de uso obrigatório em hospitais de todo mundo, determina melhores resultados de segurança assistencial, melhores resultados econômicos além de tornar a relação com os clientes mais transparente [1].

Ainda que não chegue a ser um consenso, existe um reconhecimento internacional progressivo de que a qualificação gerencial por normas se constitui em uma das formas mais sólidas de melhorar resultados assistenciais e econômicos dos hospitais e, por conseguinte, de elevar a segurança e a qualidade assistenciais.

Os autores do relatório destacam que o sucesso das diretrizes elencadas dependerá do envolvimento de todas as partes: estado, líderes, agências reguladoras governamentais, parcerias público-privadas, organizações de saúde (provedoras e prestadoras), pesquisadores, associações profissionais e de clientes, educadores, a força de trabalho, os pacientes e as famílias [i]. Propõem um conjunto de 11 recomendações para aumentar o grau de segurança nas organizações brasileiras, as quais são listadas a seguir.

1) Estabelecer acordos entre todas as partes envolvidas da sociedade tendo como foco o paciente, como prioridade a sua segurança, e como base de decisão a melhor ciência disponível avaliada à luz do custo/efetividade.

2) Instituir mecanismos de transparência que permitam o envolvimento dos diversos clientes (pacientes, operadoras, compradores de planos de saúde) e uma escolha consciente baseada em: qualidade, custo, desempenho assistencial com foco na segurança, nos tratamentos disponíveis baseados em evidências científicas com custo/efetividade, e na satisfação dos clientes/pacientes com os serviços disponibilizados.

3) Estabelecer relações entre as partes tendo por base um conjunto de indicadores e requisitos de segurança de alta relevância a serem aplicados nos hospitais.

4) Implantar uma cultura da segurança não punitiva frente ao incidente, envolvendo todos os segmentos da sociedade.

5) Qualificar a rede hospitalar, garantindo a melhor ciência e tecnologia para melhorar a segurança do paciente, incluindo a gestão baseada em normas certificáveis com foco na entrega da melhor medicina com eficiência.

6) Mudar o modelo de pagamento dos serviços assistenciais alinhando estímulos econômicos aos interesses dos pacientes: qualificação da rede, resultados e segurança assistencial baseada em indicadores (pagamento por resultado e qualidade).

7) Aprofundar os mecanismos apontados pela legislação, avançar dentro das recomendações da ciência, reforçar a articulação dos esforços dos diversos agentes do estado e verificar a correta aplicação do requisito legal na rede de prestadores.

8) Intervir no modelo de rede hospitalar brasileira, reduzindo o número de hospitais, evitando o custo desta ociosidade e a baixa qualidade pela falta de escala assistencial.

9) Aumentar a produtividade do leito hospitalar pela modificação de processos do hospital, das operadoras e do sistema público garantindo uma assistência ao paciente contínua e para tal deve haver integração de processos e informações.

10) Mudar a cultura e o comportamento do paciente e sua família frente à doença, ao cuidado, à segurança assistencial e aos eventos adversos.

11) Capacitar os trabalhadores em métodos para segurança do paciente dentro da melhor ciência que vem sendo usada com sucesso em diversos sistemas de saúde mundiais.

A realidade nacional da maioria dos hospitais e demais serviços de saúde encontra-se muito aquém das condições essenciais que possibilitem a aplicação das recomendações acima mencionadas. Contudo, é necessário reunir forças e ânimo para começar a fazer algo que conduza ao aumento da segurança em benefício dos clientes/pacientes, dos profissionais e das organizações de saúde.

Leia a parte 1 deste artigo aqui. 

 

[1] Couto, RC et alli. Anuário da segurança assistencial hospitalar no Brasil. Belo Horizonte: IESS, 2017. https://www.yumpu.com/pt/document/view/59596129/anuario-atualizado-0612pdf. Acessado em 03/fev/2018.

[i] Ibidem.

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