Gestão e Enfermagem | 5 de maio de 2014

Enfermagem: desafios do modelo de atenção á saúde

Enfermagem- desafios do modelo de atenção a saúde

As exigências para o desenvolvimento de processos de trabalho em saúde que sejam coletivos e solidários são recentes e desafiadoras por envolverem questões ético-legais, uma novidade que permeia o trabalho em saúde. Estes processos requerem uma visão voltada para a construção de projetos nos quais os profissionais, docentes, gestores e usuários possam de fato ser co-responsáveis pela produção de um saber-fazer. Por isso, entendemos que o campo da saúde não é privativo de nenhum núcleo profissional na medida em que cuidar de pessoas se constitui em espaços de escuta, de acolhimento, de diálogo, de relação ética entre os profissionais implicados na produção do cuidado. Assim, o trabalho em saúde é, por natureza, um contrato e um projeto coletivo.

São necessárias mudanças nos modelos de atenção a saúde, que exigem transformação e reorganização de processos de trabalho, objetivando uma articulação entre os cenários da educação e do trabalho para definição de princípios e valores éticos acerca da saúde, da segurança e da qualidade dos serviços prestados. Mudanças que possam dar respostas aos desafios demográficos devido ao aumento da população idosa, o desafio epidemiológico devido à predominância de doenças crônico-degenerativas e o desafio do modelo de atenção voltado para as condições agudas tendo em vista a prevalência de doenças crônicas. É urgente que se ampliem as discussões para que seja possível responder de modo eficaz à transição demográfica e epidemiológica atual, superar a fragmentação do sistema.

É necessário reconstruir modelos adotando o paradigma da promoção da saúde e da qualidade de vida, capazes de romper o próprio modelo da formação profissional e do conhecimento, no qual o incentivo à pesquisa é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento dos países, devendo representar uma contribuição para solução de problemas humanos e ambientais. Neste contexto, o projeto político profissional da enfermagem aponta para a importância da educação permanente como instrumento de mudanças na atenção básica. Criar uma cultura de educação e promoção da saúde na formação dos profissionais de enfermagem é vital para que as mudanças ocorram na prática. É importante que a enfermagem se dê conta que representa o maior contingente de profissionais da saúde envolvidos direta e continuamente no cuidado aos pacientes, e suas ações são determinantes para que as mudanças ocorram.

Ressalta-se a necessidade de maior participação dos profissionais de enfermagem na construção de políticas públicas que venham ao encontro dos anseios da população. Atuando em todos os campos de prática do cuidado, lhes é assegurado o conhecimento real das expectativas dos pacientes, o que faz da enfermagem uma grande aliada e defensora dos direitos de todos os cidadãos brasileiros.

A enfermagem tem muito a contribuir, principalmente no processo de cuidar, gerenciar serviços, programas e ações, bem como na docência, pesquisa e extensão. Lembrando que as políticas adotadas se constituem ferramentas gerenciais que determinam as práticas desenvolvidas nas instituições e que podem ser utilizadas como instrumentos de diálogo ou de dominação. Nesse contexto se tem observado que as ações de caráter interdisciplinar têm evoluído para a construção desse novo modelo de atenção à saúde, já que seu objetivo é a integração dialógica entre diferentes saberes e profissões, promovendo um aprendizado significativo para os profissionais e, ao mesmo tempo, a possibilidade de garantir uma abordagem integral ao indivíduo/família/comunidade. Isso significa que, embora algumas ações e atribuições sejam específicas de uma categoria profissional, há um conjunto de ações que podem ser executadas e compartilhadas por diversas categorias porque fazem parte de um campo comum de saberes o qual não é domínio de nenhuma categoria profissional. É nesse espaço, onde as ações são compartilhadas, que podem ser produzidos novos saberes a partir do diálogo interdisciplinar.

O compromisso da enfermagem na construção deste modelo de atenção a saúde vai além da competência técnica do exercício profissional, marca a nossa relação com o outro e a compreensão clara sobre a quem estamos servindo. Esta pergunta não deixa calar os direitos dos usuários do sistema de saúde, justifica as nossas metas de trabalho, nos organiza para as nossas reivindicações, orienta os nossos cuidados e fortalece o nosso compromisso com aquele que é cuidado por nós. O que conduz o desenvolvimento da enfermagem para além dos desafios tecnológicos, contemplando os princípios éticos e humanísticos que devem balizar a vida humana.

Estamos numa era de busca de mudança de atitude, de investimento nas pessoas e valorização do que se sente, se gosta e se quer. Sabemos que essas mudanças não ocorrem de forma tão fácil. Mudar atitudes e comportamentos dos profissionais passa por uma complexidade de relações de âmbito social, comportamental e de poder. O importante é começar.

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