Qualidade Assistencial | 11 de setembro de 2014

Organizações de Saúde e a Governança Clínica como Fundamento da Assistência à Saúde Qualificada

Organizações de Saúde e a Governança Clínica como Fundamento da Assistência à Saúde Qualificada

A governança clínica é uma evolução, apropriada e necessária, da gestão do corpo clínico para melhorar a qualidade assistencial com a colaboração dos médicos. Apropriada, porque se tornou visível a ocorrência dos problemas de segurança na prestação dos serviços de saúde. Necessária, porque a assistência à saúde ainda apresenta características associadas a um estilo antigo, baseado em um sistema artesanal e particular, que destoa do que melhor funciona no século XXI: trabalho em equipe, aplicação dos princípios da segurança e melhoria contínua, bem como a padronização de processos assistenciais rotineiros.

Os médicos habitualmente combatem a padronização de processos assistenciais rotineiros porque acreditam – pela existência de particularidades individuais – que cada paciente é único e seu. Esse entendimento, contudo, tem-se mostrado ineficaz na contenção de falhas e incidentes assistenciais, não por incompetência, mas pelo grau de complexidade da moderna e tecnológica prática assistencial. Diante disso, alguns gestores decidiram enfrentar este desafio e estão obtendo resultados admiráveis com a aplicação de diretrizes clínicas e procedimentos operacionais: diminuição de falhas e incidentes, aumento das taxas de sobrevida dos pacientes e redução de custos assistenciais. Eles encontraram a medida exata de alinhar, exitosamente, liderança, processos principais e sistemas de mensuração com claras linhas de responsabilidade, assim como o estabelecimento de uma mentalidade de segurança e qualidade, desde a recepção até os locais específicos de atendimento, passando pelas áreas administrativas e de apoio. Essa nova abordagem pressupõe um ambiente de trabalho estruturado para maximizar as práticas assistenciais e, por consequência, aumentar a confiabilidade nas atividades realizadas. Há um compartilhamento de responsabilidades entre todos, suavizando a carga individual sobre os médicos, o que os torna mais produtivos e satisfeitos. Vale ressaltar que, diferentemente do que muitos pensam, a qualidade assistencial e a segurança do paciente são compromissos de todos os que trabalham nas organizações de saúde, e não exclusividade dos médicos e enfermeiras.

Os médicos reclamam – e com razão – que a maioria das organizações de saúde, em particular os hospitais, funciona precariamente. Essa condição sobrecarrega-os e deixa-os preocupados e estressados. A governança institucional surge como o componente apropriado que cria e mantém uma infraestrutura e um ambiente agradável que fortalecem as ações assistenciais e as relações interpessoais. Isso facilita o desenvolvimento da governança clínica, une o corpo institucional e faz com que os médicos se sintam protegidos em suas ações de cuidado.

Não se constitui mais em algo inédito a identificação pública de incidentes assistenciais de alto impacto que atordoam os gestores e atemorizam os profissionais, em particular os médicos. O fato é que, para o bem e para o mal, o reconhecimento de fenômenos causadores de grande sofrimento aos pacientes e seus familiares têm contribuído para o questionamento de formas ultrapassadas e inadequadas de prestação da assistência à saúde. Consequentemente, a gestão assistencial tem-se desenvolvido e passou a coletar e analisar dados e fatos, a fim de que conhecê-los melhor e tomar medidas corretivas. No momento a governança posiciona-se como uma cola que pode unir a prestação qualificada e segura, expondo resultados e oportunizando a discussão entre todos os profissionais, a fim de aprimora-los. Adicionalmente, os gestores, com o propósito de levar suas organizações ao patamar da excelência, exercitam a comparação de resultados com outras organizações, o que estabelece uma condição de aprendizado permanente.

As organizações que estão destacando-se pela qualidade dos serviços e segurança do paciente, cultivam sistematicamente algumas ou todas as iniciativas abaixo relacionadas.

1)        Execução de quatro práticas associadas: mensuração, responsabilidade individual e compromisso com a prestação de contas, cultura da segurança e melhoria, e maximização e padronização de processos rotineiros (assistenciais e administrativos).

2)        Mensuração dos resultados, em especial os que interessam aos pacientes.

3)        Atribuição de responsabilidade individual pelos resultados clínicos e financeiros.

4)        Alinhamento dos processos de medição relacionados com as linhas de cuidado e a comunicação entre os diversos grupos interessados.

5)        Criação de uma cultura de “tolerância zero” para a complacência com condutas inadequadas, mas também uma cultura aberta e justa, comprometida com a excelência e aprendizagem conjunta.

6)        Adoção de tecnologia da informação que permite o acompanhamento das ações e mensurações assistenciais e administrativas.

7)        Contínua avaliação da satisfação dos clientes internos e externos.

8)        Comparação dos resultados assistenciais e gerenciais com organizações de saúde certificadas, ou com outras indústrias reconhecidamente qualificadas.

9)        Execução periódica de auditorias internas e externas.

10) Busca de uma certificação através de uma agência externa independente.

As organizações de saúde empenhadas em aumentar a qualidade dos serviços e a segurança do paciente em suas operações, devem considerar que a jornada em direção à alta confiabilidade é longa e gradual, e que a acreditação representa, nacional e internacionalmente, a metodologia que pode auxiliar nesse sentido.

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