Acreditação | 31 de julho de 2013

Deficiência estrutural: um dos principais impedimentos para a acreditação

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Quando os gestores das organizações de saúde se interessam pela acreditação, usualmente não imaginam que tropeçarão em requisitos essenciais associados aos aspectos estruturais. Entende-se por “estrutura” as questões relacionadas a recursos físicos, humanos, materiais, tecnológicos, financeiros, organizacionais e de segurança. Ou seja, o básico para o funcionamento adequado de um serviço de saúde. Embora sejam coisas aparentemente óbvias, a maioria das organizações de saúde – públicas e privadas – exibe debilidades, insuficiências e faltas inacreditáveis nesses itens. Isso decorre, não raro, de um misto de escasso conhecimento gerencial, deficiência de recursos e uma peculiar premência da demanda assistencial. Via de regra, destaca-se a disposição em atender os pacientes, mesmo que as condições sejam precárias ou repletas de riscos potenciais. Exalta-se a competência dos profissionais de saúde, em especial dos médicos e enfermeiras, em resolver situações, habitualmente complexas, baseadas no esforço e dedicação. Essa conduta, no entanto, constitui-se em uma armadilha, pois minimiza ou ignora requisitos fundamentais que naturalmente vão limitar a atuação dos profissionais e produzir resultados indesejáveis. A acreditação, ao alertar os gestores sobre itens que precisam ser atendidos, cumpre o papel de explicitar deficiências e proporcionar argumentos consistentes para decisões que muito provavelmente estejam sendo adiadas.

Quando se avalia um dos componentes mais visíveis e palpáveis das organizações de saúde – os ambientes -, constata-se com embaraço que existe uma precariedade espantosa nas instalações dos serviços de saúde, seja pela deterioração, exiguidade dos espaços, ausência de medidas básicas de segurança (ex.: paredes rachadas, mofo, tetos com goteiras, pisos irregulares e soltos, portas de banheiros que se abrem para dentro dos mesmos e não para fora, corredores sem sinalização, escadas sem corrimão, ausência de portas corta-fogo), dificuldade ou falta de acessibilidade para pessoas comuns ou com necessidades especiais. Tudo isso torna os ambientes dos serviços de saúde, em maior ou menor proporção, tipicamente inóspitos. Essas condições atemorizam os pacientes, seus familiares e visitantes, geram um clima de descontentamento entre os profissionais e aumentam demasiadamente o estresse para todos. Indiscutivelmente, a capacidade de prestar assistência qualificada e segura passa pelas instalações, mobiliário e equipamentos apropriados e ajustados às necessidades da clientela atendida.

Há nos serviços de saúde uma excessiva tolerância com as condições insuficientes, imaginando-se, talvez, que elas possam ser supridas pela atenção e empenho dos profissionais. Contudo, quando as deficiências e ausências excedem determinados limites, como é o caso em alguns serviços de saúde, onde, por exemplo, as unidades de internação parecem alojamentos improvisados, e as áreas de exames são pouco ventiladas, exíguas e precárias, além de barulhentas, tem-se uma atmosfera de intimidação que restringe o apoio emocional e eleva exponencialmente o estresse dos pacientes, seus familiares, visitantes e dos profissionais de saúde.

A assistência à saúde encontra-se intimamente associada ao ambiente no qual ela é prestada. Qualitativamente espera-se que os ambientes sejam capazes de proporcionar tranquilidade. Prédios bem cuidados e limpos não se constituem em luxo, mas em uma necessidade fundamental que inspira confiança, diminui o estresse e reduz tantos outros problemas, como inclusive a infecção relacionada ao atendimento de saúde.

Prédios com 20 ou mais anos de existência usualmente representam um enorme desafio para os gestores, uma vez que, não raro, serão vultosos os investimentos necessários para a modernização dos mesmos. Costuma-se afirmar que quanto mais antigas as instalações, maior será a probabilidade de não cumprirem os requisitos da acreditação. As deficiências estruturais atordoam e diminuem o grau de segurança para todos. Não é necessário ostentação, como se observa em alguns lugares, mas é preciso que os ambientes sejam minimamente confortáveis e contribuam para manter, ou mesmo erguer, a dignidade dos que desfrutam dos mesmos.

Os ambientes das organizações de saúde revelam, de forma tangível, a forma e o conteúdo dos serviços que elas oferecem. Torna-se, portanto, imprescindível enfrentar as deficiências “visíveis” para melhorar a qualidade, aumentar a segurança e receber o reconhecimento externo através de uma certificação.

  • marcia martinez de azevedo bastian

    Pertinente a colocação.
    Sou arquiteta especialista em edifícios de saúde.
    Tenho interesse em aprofundar meus conhecimentos nos processos de acreditação com ênfase na estrutura, conforme colocado no comentário.
    Como proceder?
    Agradeço .

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