Segurança do Paciente | 3 de junho de 2013

Segurança do Paciente: Conceito que Está Mudando as Organizações de Saúde

Segurança do Paciente- Conceito que Está Mudando as Organizações de Saúde

Todos que operam na assistência aos pacientes (profissionais da “ponta”) sabem que lidam com situações perigosas. A ideia de risco é onipresente, em maior ou menor grau, porém dentro de um contexto tradicional fundamentado na pessoa. Associado a isso, tem-se que as organizações de saúde são fortemente hierarquizadas e autoritárias, que para alguns seria justificado pela natureza do serviço prestado – atendimento de pessoas em condições de vulnerabilidade física e psicológica. Porém a análise mais atentaexplica essa característica através de outros argumentos, como o respeito e admiração pela profissão médica, com o subsequente cultivo de uma relação privilegiada com a sociedade, e o destaque para o modelo “face a face” da relação médico-paciente comoforma mais humana e confiável do atendimento de saúde.

Os que atuam nas áreas administrativas e de apoio (profissionais da “base”) rotineiramente não se encontram premidos por situações de ameaça à segurança dos clientes/pacientes em suas atividades, o que lhes confere uma condição de trabalho menos tensa e preocupante em comparação com os profissionais da “ponta”. As organizações de saúde, portanto, quanto ao potencial de risco inerente à atividade exercida, abrigam pelo menos dois tipos de profissionais: os que estão próximos do risco assistencial e os operam afastados deste.

A ciência da segurança do paciente proporciona um novo enfoque para os profissionaisque trabalham na “ponta” e na “base” das organizações de saúde. Ela oferece uma nova maneira de compreender os riscos, de estabelecer relacionamentos entre os diversosserviços, unidades e setores, de relacionar-se com os pacientes, familiares e a mídia, especialmente quando eventos chocantes, como os incidentes assistenciais graves, atingem os pacientes.

Em 2003 a Organização Mundial da Saúde, ao interpretar a ocorrência de incidentes assistenciais graves como um problema de saúde pública, lançou uma campanha mundial pela segurança do paciente. Definiu da forma mais simples possível o termo“segurança do paciente”: “a prevenção de erros e efeitos adversos nos pacientes em decorrência do atendimento de saúde”. O Brasil, país-membro daquela instituição internacional, no dia 1º de abril do corrente ano, instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente o qual deverá promover o monitoramento e prevenção de danos na assistência à saúde, ao mesmo tempo que definiu seis protocolos:

1) Cirurgia segura;

2) Prática da higiene das mãos em serviços de saúde;

3) Prevenção de úlceras por pressão;

4) Prevenção de quedas em pacientes hospitalizados;

5) Identificação do paciente;

6) Segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos.

O programa nacional obriga a implantação de núcleos de segurança do paciente nos serviços de saúde públicos e privados, e torna compulsória a notificação de eventos adversos (incidentes que resultaram em dano aos pacientes). Cabe destacar, no entanto, que nenhum programa de segurança do paciente sustenta-se apenas com algumas medidas específicas. É preciso uma enorme disposição e convencimento dos dirigentes das organizações de saúde para criarem e aplicarem uma política global de segurança do paciente articulada com o planejamento estratégico institucional.

A segurança do paciente traz a ideia da aplicação do pensamento sistêmico, que não é novo na medicina, mas que não se aplicava sistematicamente nas interações entre os trêsâmbitos das organizações de saúde – assistencial, de apoio e administrativo – assim como nas relações entre os profissionais, nas relações entre os serviços, pacientes e familiares. Esse novo paradigma passou a reescrever como as organizações devem estruturar-se, como os serviços e os profissionais devem atuar, e como os pacientes e familiares devem assumir uma atitude ativa diante do atendimento recebido.

A ciência da segurança do paciente rejeita o conceito do atendimento de saúde como domínio exclusive do médico sobre a relação médico-paciente, não porque se tornou menos importante, mas pela visão mais global e exigente que o complexo cenário do atendimento de saúde pleiteia. Abrange o atendimento centrado no paciente e o modelo biomédico, aprecia o trabalho de equipes interdisciplinares, a participação dos pacientese seus familiares, assim como dos profissionais de “base” (que se acreditava que não tinham nada a ver com isso).

A segurança no atendimento de saúde é, na atualidade, mais que uma palavra de ordem. Trata-se de um conceito revolucionário que sublinha os diversos tipos de fragilidadesnas organizações de saúde, e descobre maneiras de torná-las mais seguras para todos. É, por princípio, uma atividade essencialmente colaborativa e multidisciplinar. Precisa delíderes em todas as áreas e de colaboradores que ajam, indistintamente, como agentes capazes de elevar a confiabilidade dos serviços prestados.

A complexa interação entre múltiplos serviços e profissionais de diferentes formações e visões compõe um ambiente propício para inúmeras “armadilhas” facilitadoras deincidentes assistenciais indesejáveis. Consequentemente, as organizações de saúde cada vez mais necessitarão de profissionais qualificados que simplifiquem e melhorem processos, identifiquem gargalos e empreendam medidas que interceptem eventos catastróficos.

As organizações que possuem um ambiente justo e confiável tornam os seus membros mais sábios. Esse tipo de sabedoria prática cresce sucessivamente com a experiência eos tornam mais hábeis no reconhecimento precoce de algo que está defeituoso ou que a qualquer momento poderá tornar-se uma grande ameaça assistencial e/ou institucional. É, portanto, a força da capacidade ininterrupta de aprender que impulsiona as organizações para frente e fortalece o compromisso de respeito e dignidade com os seus clientes/pacientes.

  • Armando Piletti

    O assunto Segurança do Paciente é indispensável e desafiante. Gostaria de conhecer a possibilidade de palestra no Hospital Tacchini.
    Grato

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