Arquitetura Hospitalar | 18 de fevereiro de 2014

Hospitais sustentáveis e amigos do meio ambiente

Hospitais sustentáveis e amigos do meio ambiente

Caros amigos, profissionais arquitetos e da área da saúde.

Assunto recorrente e prevalente nas discussões técnicas sobre o planejamento e construção de edificações para serviços de saúde desde o inicio deste século, as abordagens sobre sustentabilidade ganham o peso de assunto de interesse público, cada vez mais popularizado. Enfim, assunto do homem comum e do jornal diário.

Importante que isto aconteça, pois somente assim o tema passa a fazer parte das demandas políticas e sociais da população.

Desde Hipócrates, que viveu entre 460 – 377 a.C., considerado o Pai da Medicina, as referências à importância da sustentabilidade já estavam fundamentadas na expressão clássica de que o médico e suas ações deveriam “não causar danos” ao paciente ou ao meio ambiente.

No “Tratado sobre Ar, Águas e Lugares” atribuído ao grego Hipócrates, e autor do conjunto de textos denominado Corpus hippocraticum, são discutidas as causas ambientais para as doenças e não apenas as justificativas da origem divina. O clima de uma região, a qualidade da água, os ventos dominantes e as estações do ano podem ajudar o médico a entender as causas das doenças e poder avaliar a saúde geral dos habitantes de uma determinada região.

“…Quem deseje estudar corretamente a ciência da medicina deverá proceder da seguinte forma. Primeiro deverá considerar que efeitos podem causar cada estação do ano, visto que as estações não são todas iguais, sendo que diferem amplamente tanto em si mesmas como em suas mudanças. O seguinte ponto se refere aos ventos cálidos e frios, especificamente aos universais, mas também aqueles que são peculiares em cada região. Também deverá considerar-se as propriedades das águas, visto que elas diferem no sabor e peso, também as propriedades de cada uma diferem grandemente de qualquer outra. Portanto, quando chegar num povoado que lhe é desconhecido, o médico deverá examinar a posição dele com respeito aos ventos e às saídas do sol, pois um aspecto norte, um aspecto sul, um do oriente e outro do ocidente tem cada um seu próprio caráter individual”.

Mas a que se propõe a sustentabilidade?

Em 1972 a Organização das Nações Unidas (ONU) durante a Conferência do Meio Ambiente Humano na Cidade de Stockholmo, Suécia, acrescentou o meio ambiente à lista dos problemas globais que, posteriormente, resultaria na criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).  O Relatório Oficial,  intitulado Os Limites do Crescimento,  alertava que  os  recursos  naturais  estavam  sendo  dilapidados muito  rapidamente  e  que  não  haveria recursos remanescentes para permitir o processo do desenvolvimento acelerado que o mundo estava imprimindo. Alertava ainda que, o elevado crescimento da população mundial estava se transformando num dos principais fatores de risco à sobrevivência da própria espécie humana no futuro.

Passados 15 anos, em 1987 a Comissão  da  Organização  das  Nações  Unidas  para  o  Meio  Ambiente, sob a coordenação da então Primeira-Ministra da Noruega Gro Harlam Brundtland, e que, por isto mesmo, ficou conhecida como Comissão Brundtland, publica outro importante documento oficial  com  o    título  de  Nosso  Futuro  Comum,  trazendo  o  novo  termo Desenvolvimento Sustentável como o que  “satisfaz  as  necessidades  do  presente  sem  comprometer  a  capacidade  das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades”.

A ineficiência energética e o desperdício são imagens comumente vinculadas ao ambiente hospitalar. Seja por descontrole da gestão administrativa e operacional, seja pelas características funcionais que  obrigatoriamente demandam  sistemas  de  reserva  disponíveis  a  qualquer momento, sobretudo nos locais onde se processa a assistência médico-hospitalar.

Há relevante desperdício de energia elétrica na quase totalidade dos hospitais brasileiros. Gastos que podem significar a metade do que realmente utilizam, mas que a falta de orientação técnica e o comodismo das gestões permitem que os equipamentos de alto consumo (autoclaves, climatização, lavanderias, cozinhas…) ainda disputem com as horas de alto consumo do restante da cidade.

Estudiosos e profissionais com atuação na gestão da engenharia hospitalar concordam que é possível trabalhar as deficiências através de ações de baixo custo e medidas simples,  porém  com  impacto  ambiental  expressivo.  Algumas dessas ações poderão  ser  alteradas  através  de  modificações  de  procedimentos inerentes  à  conduta  do  capital  humano,  os  usuários  em  todas  as  escalas  de atividades profissionais.

Outro componente facilitador desta percepção de sustentabilidade está na aquisição dos equipamentos e materiais para a operacionalidade da função hospitalar. Considerar como prioridade a aquisição daqueles que tenham a identificação de reciclabilidade, economicidade energética e possibilidade de reutilização.

Os movimentos de pesquisa e aplicação das novas tecnologias energéticas tem tido crescente importância. O sistema energético atual, baseado em uma rede de grandes produtoras de energia elétrica tem mostrado a sua facilidade de esgotar-se ou ser dependente de alterações climáticas. E o calor recente deste verão brasileiro tem apontado angústias e desencontros de expectativas.

O Brasil viveu no início deste século, entre 1999 e 2001, um dos períodos mais críticos da sua história energética com o risco do apagão, gerando a movimentação nacional dos setores públicos e privados em busca da economia do uso da energia elétrica ou até mesmo da sustentação do sistema. História que se repete em angústia e informações públicas dos órgãos responsáveis na área governamental sem, no entanto, conseguir estabelecer confiabilidade sobre a sua eficiência.

A Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar (ABDEH) promoverá em agosto de 2014 um importante encontro onde esse tema terá relevância e destaque a partir do tema central sobre Excelência em Ambientes de Saúde, assim como pelo perfil técnico-científico dos conferencistas e palestrantes convidados. O VI Congresso para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar acontecerá em Florianópolis, Santa Catarina, durante os dias 27 a 29 de agosto (www.abdeh2014.com).

Outra importante instituição que trata das questões da sustentabilidade em ambientes de saúde é a Rede Global de Hospitais Verdes Saudáveis (www.hospitaissaudaveis.org). Ela faz parte do projeto Saúde Sem Dano (SSD) e visa funcionar como uma comunidade virtual para os hospitais e os sistemas de saúde que se propuserem a implementar e desenvolver uma agenda com as melhores práticas, ao mesmo tempo, encontrar soluções para desafios comuns: “Uma agenda abrangente de saúde ambiental para hospitais e sistemas de saúde em todo o mundo”.

Esta é uma responsabilidade comum e intimamente vinculada à função social e ambiental que a arquitetura e a saúde devem incorporar como princípio a promover.

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