Qualidade de vida | 28 de fevereiro de 2013

O filme “Amor” e a longevidade com qualidade de vida

O filme Amor e a longevidade com qualidade de vida

Caros amigos, profissionais arquitetos e da área da saúde.

Alguns assuntos ocupam especial importância nas discussões sobre a viabilidade e adequação dos ambientes de saúde e respectivas necessidades decorrente do ajuste das pessoas a cada período da vida.

A população brasileira, que atingiu mais de 190 milhões de habitantes segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem 18 milhões de pessoas acima dos 60 anos de idade, o que já representa 12% da população brasileira. Há dez anos o número de idosos era de 14,5 milhões, ou apenas 8% da população total.

Em 2020 o Brasil terá 30 milhões de pessoas nestas condições e em 2050 o país apresentará uma estrutura etária muito semelhante à existente hoje na França, segundo projeções do Censo 2010. Já somos um país em que a taxa de fecundidade (número de filhos que uma mulher tem ao longo da vida fértil, que segundo o Ministério da Saúde é dos 15 aos 49 anos) é de apenas 1,67 filhos por mulher. Este referencial indica que estamos abaixo da taxa de reposição e equilíbrio da população que seria de 2,1 filhos.

Os desafios que essas mudanças impõem são inúmeros, inclusive no planejamento dos equipamentos de saúde onde os hospitais tem papel assistencial relevante. Decorrente destas observações, um tema que ganhou especial interesse refere-se aos espaços e atenção aos cuidados residenciais para idosos e pessoas com mobilidade reduzida.

Função de alerta que o filme “Amor” apresenta em sua temática principal. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013, ele concorria em outras três categorias: Melhor Atriz (Emanuelle Riva), Melhor Diretor para o austríaco/alemão Michael Heneke e Melhor Roteiro. O filme já havia recebido prêmios importantes como Globo de Ouro, BAFTA, Palma de Ouro em Cannes, entre outros.

Ao lado de Emanuelle Riva está o ator Jean-Louis Trintignant, que participou de importantes produções como “Um homem e uma mulher” de Claude Lelouch e “Z” de Costa-Gravas, ambos em 1966, além de outros papéis importantes na história do cinema francês. Eles retratam, em “Amor”, a um casal de músicos na faixa dos oitenta anos, que decide passar a última etapa de vida juntos em sua residência, na intimidade que lhes pertence e permitindo-se os cuidados que lhes pareciam adequados. Estes dois importantes atores, sob a narração de sutilezas do roteiro e da direção de Haneke oferecem uma reflexão sobre decisões e questões de atenção à saúde para idosos. Sobretudo para quem necessita dos serviços de home care ou assistência domiciliar.

Paradoxos e dimensões humanas naturalmente característicos para reflexões dos tempos, dos ambientes de saúde e dos cuidados assistenciais.

Ao compreender o Sistema de Saúde do Brasil como um intricado mosaico de estratégias, responsabilidades e procedimentos assistenciais, a questão dos Cuidados em Assistência Domiciliar à Saúde (ADS), amplia esta complexa função da estratégia de desospitalização no Brasil.

Em 2007 a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou o Relatório Global da OMS sobre Prevenção de Quedas na Velhice, que foi traduzido e publicado pelo Ministério da Saúde do Brasil em 2010 (veja aqui). Neste mesmo ano, lançou na Série Pactos pela Saúde o documento Atenção à Saúde da Pessoa Idosa e Envelhecimento, igualmente acessível através do site oficial. Estes documentos servem como auxílio nos cuidados às necessidades desta parcela da população.

A ADS promove, portanto, uma relevante discussão sobre os ajustes destes espaços residenciais à nova função que se incorpora como ambiente para assistência à saúde. Ajustes e adequações que podem provocar incompatibilidades funcionais, estabelecer a necessidade de profissionais que considerem as questões ergonômicas e da arquitetura como facilitadores à realização da função assistencial e da promoção à qualidade de vida dos seus usuários.

A altura dos degraus e alternativas de rampas, os materiais de revestimento dos pisos, a instalação de corrimão e guarda-corpo, adequações nas dimensões da largura e altura das portas, componentes de acessibilidade e de mobilidade que as residências e os ambientes deverão promover à inclusão desta importante parcela da população. Habilitar e qualificar profissionais de arquitetura, design e engenharia devidamente capacitados a realizar estas funções é também um papel a ser cumprido nestas novas demandas funcionais.

Fábio Bitencourt
Arquiteto D Sc
Fevereiro de 2013.

  • Jose Cleber do Nascimento Costa

    Fábio, nosso Presidente da ABDEH, sempre atento aos assuntos contemporâneos que influenciam os trabalhos dos profissionais de saúde brasileiros.

  • Mileine Vargas

    Sou da empresa IrisSenior, presta o serviço de monitoramento para idosos. É um sistema de alarme de emergência através de viva-voz. É um sistema para quem quer garantir sua independência e continuar morando sozinho.

  • Magaly B B Xavier

    Parabéns pela matéria, extremamente pertinente e que apenas precisa ser fiscalizada, pois nos arquitetos temos essa noção de necessidade agora, quem aplica ou executor deve respeitar o projeto,pois acessibilidade é cidadania e responsabilidade social.

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