Gestão | 20 de abril de 2020

Lições da Pandemia de COVID-19 – Novo Coronavírus

Lições da Pandemia de COVID-19 Novo Coronavírus

Cotidianamente os hospitais lidam com emergências. A pandemia gerada pelo coronavírus, contudo, demanda medidas extraordinárias em curto espaço de tempo. Os gestores precisam tomar decisões rápidas sobre materiais, equipamentos, espaços físicos e profissionais, sem qualquer plano de contingência específico para tal condição. Em um ambiente em que há, tradicionalmente, um número de leitos de UTI abaixo das necessidades habituais de demanda, uma pandemia que exige a utilização desses leitos pode criar, subitamente, situações-limite. Foi prudente o posicionamento do Ministério da Saúde quando destacou que precisava evitar o “colapso” dos serviços de saúde, numa alusão direta à limitada capacidade disponível, ao mesmo tempo em que começou a implementar a construção de hospitais de “campanha” em tempo recorde. Ocorre que isso constitui uma das medidas, entre outras também críticas – materiais, medicamentos, equipamentos e profissionais – todos de difícil implementação em curtíssimo espaço de tempo. Consequentemente, a demora em resolver essas questões essenciais eleva o grau de tensão no ambiente da assistência à saúde e na sociedade como um todo.


A Organização Mundial da Saúde (OMS) se mostrou incapaz de apresentar para o mundo um plano emergencial capaz de orientar as decisões dos países membros. O que fez foi comunicar, em tom alarmista, a evolução do surto. Isso deixou os países membros aturdidos e sozinhos diante de um fenômeno desconhecido. Isso resultou em que cada país passou a enfrentar a situação ao seu modo, tendo bem-sucedidos, como a Alemanha, e outros menos bem-sucedidos, como a Itália.


Enquanto o surto da COVID-19 se encontrava na cidade de Wuhan (China), não se cogitava que chegaria extensivamente aos mais diversos países. Na sequência, o que se observou foi o aparecimento de um cenário emergencial avassalador pressionando os sistemas de saúde e assustando as pessoas.

Se no Brasil os serviços de saúde já atuavam no limite de sua capacidade assistencial, apresentando superlotação aqui e ali, com o surgimento do surto COVID-19 essas limitações se tornaram explícitas. Os governadores passaram a seguir a orientação do Ministério da Saúde que, como a OMS, assumiu um discurso de ameaça à população – …ainda não chegamos no pior momento…; as próximas semanas serão muito difíceis…; … as coisas vão piorar…; as pessoas terão que ficar em isolamento social por 3-4 meses…”). Naturalmente que em situações de crise falhas e erros acontecem, mas ao mesmo tempo é necessário que as lideranças reavaliem suas decisões de acordo com os resultados observados e faça, sem exageros, as devidas correções.

Como a maioria dos gestores (e tantos outros grupos profissionais) desconhece a forma mais apropriada de abordar situações caóticas e de alto estresse, os excessos ocorrerão. A discussão solidária entre os diversos grupos de interesses, contudo, iluminará a melhor conduta para o momento. Consequentemente, torna-se necessário um esforço adicional para aprender e agir rapidamente. Não dá para esperar que surja um conjunto completo de fatos antes de decidir o que fazer. A atitude de mútua cooperação auxiliará no ajuste de medidas que eventualmente não tenham sido as melhores.

Entre atitudes alarmistas e negacionistas diante do surto COVID-19, já se pode vislumbrar que alguns hábitos, incorporados de forma emergencial, permanecerão beneficamente após o surto COVID-19:

Lavagem das mãos: uma medida básica preconizada pela OMS e por todas Comissões de Controle de Infecções Relacionadas ao Atendimento de Saúde, estendeu-se para a sociedade como um todo. Igualmente, porém em menor proporção, a utilização de máscara facial nos ambientes em geral.

Telemedicina: a elevada resistência a esse veículo de atendimento de saúde – teleconsulta, prescrição de receita, atestado médico e solicitação de exames complementares, compartilhamento de imagens, vídeo conferência entre médicos, monitoramento do paciente em casa e gestão de medicamentos – dissipou-se rapidamente com o isolamento social e se tornou-se uma das maneiras de cuidado mais requisitadas de atendimento médico.

Trabalho à distância: atividades efetuadas a partir do domicílio e reuniões virtuais tornaram-se rotina. Essa prática coloca o questionamento sobre que atividades, de fato, precisarão ser realizadas em um único ambiente convencional de trabalho.

Acesso digital: adquirirá o status de utilidade, como a eletricidade e a água[1].

A propósito do fato que as pandemias, como as guerras, aceleram mudanças, uma reportagem da Revista Exame[2] destaca que o surto do novo coronavírus forçou o isolamento social e antecipou hábitos que levariam anos para ganhar escala, … e que o futuro chegou mais cedo de um jeito trágico.

Atender toda a população através dos modelos tradicionais de cuidado exige uma quantidade infinita de recursos. A medicina digital –  promessa da Quarta Revolução Industrial – surge como base para que as ferramentas da inteligência artificial e outros recursos informacionais transformem os cuidados de saúde e proporcionem a incomparável oportunidade de acesso a todos em suas próprias casas.

No filme “Invasão ao Serviço Secreto”, o suposto Presidente dos EUA diz a seguinte frase: São os nossos momentos de luta que nos definem. O que importa é como lidamos com eles. Essa afirmação faz sentido nesse momento crucial da humanidade.

 

[1] Klasko, S. 5 lessons we must take from the coronavirus crisis, 13/abr/2020, p. 41-55.
[2] Yahid, E et allii. A vida à distância. Rev. Exame, Edição 1206, ano 54, n. 6, 01/abr/2020.

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