Sem categoria | 13 de novembro de 2017

Buscar remuneração mais adequada

Buscar remuneração mais adequada

Vamos imaginar uma situação apenas hipotética, entretanto tão cheia de realismo que acontece a todo momento no segmento laboratorial: nosso colega é proprietário de um pequeno Laboratório de Análises Clínicas, entretanto de boa qualidade e em franco crescimento.

Seu equipamento de hematologia era um T890 remanufaturado. Tinha a plena consciência de que estava na hora de trocá-lo e negociou um aparelho novo, de um distribuidor de uma das marcas mais reconhecidas no mercado. Um equipamento muito mais eficiente, com mais parâmetros e maior velocidade.

Resolvido o seu problema em hematologia, logo constatou que nem precisava adquirir aquele equipamento, pois um de menor capacidade já supriria as necessidades. Porém, certamente influenciado pelos argumentos do vendedor, optou pelo aparelho maior.

Resignado, tratou de melhorar a otimização do equipamento e foi pra rua tentar captar hemogramas. Conseguiu o encaminhamento de muitos hemogramas diários, solicitados por empresas de Medicina do Trabalho. Estas, entretanto não pagariam mais do que R$ 3,80 pelo exame e nada pela contagem de plaquetas, já que a máquina fornecia “de graça” esse parâmetro. Concordou com os valores, já que o cálculo apresentado pela distribuidora apontava para um custo razoavelmente inferior. Desta forma, o laboratório aumentou seu movimento diário em mais 50 hemogramas e uns poucos procedimentos a mais que acompanhavam algumas requisições, quase todos enviados para apoio.

Com isto, seu movimento cresceu, mas o setor de recepção passou a estar sempre lotado, já não tendo mais capacidade para receber os clientes.  Os clientes privados ou de convênios diferenciados, aqueles que não gostam de ver um laboratório demasiadamente lotado, diminuíram drasticamente. Então, contratou um profissional para cuidar do setor de hematologia, consumindo mensalmente em salários, leis sociais e demais encargos cerca de 1.300 hemogramas.

Este quadro é muito frequente e acontece, aconteceu ou acontecerá em quase todos os laboratórios. Basta apenas um pequeno descuido, de previsão e verificação de probabilidades.

Reflete de maneira inequívoca a situação dos tempos atuais, em que o numero de laboratórios excede às reais necessidades de exames e, com isto, numa procura quase desesperadora por manter o laboratório aberto e funcionando normalmente, os preços dos exames são jogados ao declive acentuado de uma ladeira, e não param de cair.

Existem cidades de 20 mil habitantes com 4 laboratórios.

Reflete também a qualidade dos serviços prestados, pois, sem bases sólidas, o trabalho tende a ser negligenciado, e, não poucas vezes, apresentam um número extrapolado de não conformidades.

Estas situações tendem ao agravamento, e se alguma solução não for pensada e colocada em prática efetiva, uma quantidade de pequenos e médios laboratórios deixará de existir, fechando as portas sem poder honrar seus compromissos com fornecedores, trabalhistas e tributários.

Não existem mais formas de coexistência de qualidade com valores de “Black Friday”. Exames laboratoriais não são enquadráveis em promoções, liquidações ou produtos descartáveis. Qualidade tem custo, e este é um jargão que deve ser respeitado e repetido a todo o momento.

Não há nenhuma forma de se afastar do “ticket médio”, ou seja, se considerarmos o hemograma e a remuneração de R$ 4,11 pelo Sistema Único de Saúde (SUS),  que ocorre há 23 anos. E como os custos gerais crescem sempre, todos ou quase todos indexados a algum tipo de índice, está mais do que evidente que um hemograma não poderá ter o seu valor mediano estimado ao preço de SUS, menos ainda abaixo dele.

O isolacionismo, associado à timidez dos colegas da área laboratorial, faz com que essas lógicas voltem-se contra eles, conduzindo-os a desconhecer o que se passa no mundo exterior, suportando prejuízos irrecuperáveis e pondo em risco toda a sustentabilidade do negócio. Os Laboratórios médios e pequenos, para tornarem-se saudáveis, poderiam se reunir em mini centrais analíticas regionais para que volte a viabilidade. Poderiam também adotar outros sistemas criativos, tais como troca de exames por setores. Com essas medidas, o custo cairia e os valores dos exames, já que a concorrência é trocada por parceria, enquadrariam-se imediatamente a valores mais justos.

E assim se ajustariam ao “ticket médio” ideal.

Ficaria, nesta forma de união, muito mais fácil também o planejamento de estratégias de compras, escolha dos laboratórios de apoio, impondo os valores e cortando do convívio aqueles que desejam ser, ao mesmo tempo, apoio e concorrência.

Soluções ainda existem, apesar  do pouco tempo.

 

IRINEU GRINBERG
Ex presidente da SBAC
Diretor de Lab-Farm Consult  Ltda
irineugrinberg@gmail.com

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