A segurança do paciente no Hospital Digital (Por Paulo Magnus, presidente da MV)
Você iria se sentir seguro se pagasse uma conta no banco e não recebesse comprovante? Você depositaria dinheiro no caixa eletrônico sem que houvesse qualquer recibo ou garantia que permitisse o rastreamento da operação? Então, como pode ficar em paz quando se submete a qualquer processo em um hospital, como uma simples injeção, sem saber se aquela substância que está na agulha é, de fato, a que o médico lhe receitou em um garrancho no pedaço de papel ou, caso seja, se você não é alérgico a ela?
Eu mesmo não sei como isso é possível, mas o fato é que, no modelo atual, o controle para evitar troca de medicamentos, intercorrências e interações medicamentosas é, na maior parte das vezes, meramente humano. Isso me leva a uma conclusão um tanto óbvia e, ao mesmo tempo, assustadora: somos mais criteriosos com nosso dinheiro do que com nossa vida.
Como resultado, se fossem contabilizadas em um grupo, falhas médicas estariam entre o primeiro e o quinto lugar das maiores causas de mortes no Brasil: quase 435 mil óbitos por ano, segundo estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) com informações computadas em 2015. Os dados levam em consideração tanto setor público quanto privado e dependem da forma como os dados são analisados, levando em conta que não há um indicador oficial sobre morte por erros médicos no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, a dengue, considerada um problema de Saúde pública, matou pouco menos de 900 pessoas em 2015, volume infinitamente menor do que o observado no estudo do IESS. Essa é uma primeira informação. Voltaremos a ela depois.
Outra se refere a um conceito amplamente debatido hoje em Saúde: o Hospital Digital. São muitas informações trocadas em torno desse movimento, algumas delas imprecisas e outras, simplesmente, equivocadas, mesmo. A abordagem, normalmente, gira em torno dos 8 estágios sugeridos pela Healthcare Information and Management Systems Society (Sociedade de Informação em Saúde e Sistemas de Gestão – HIMSS) e de todos as ferramentas tecnológicas que a suportam. Não há nada de errado com isso: trata-se, apenas, de um entendimento incompleto.
O Hospital Digital não vem para trazer mais ferramentas tecnológicas para a entidade, ou exigir do corpo clínico e administrativo mais tarefas que “atrapalhem” sua rotina. Ele chega para reverter o problema que apontei nos três primeiros parágrafos do texto. Vem para garantir mais segurança para o paciente, por meio da informação de processos. É preciso ficar claro que a garantia de atendimento de qualidade é o objetivo principal do conceito, e não um dos benefícios obtidos pela digitalização de processos.
Um bom exemplo é o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), uma importante etapa do Hospital Digital. Com a capacidade de reunir, em um único local, todas as informações clínicas e assistenciais sobre o atendimento, simplifica o armazenamento de dados e facilita a rotina dos profissionais de saúde. A tecnologia disponibiliza as informações em tempo real, podendo ser acessado de qualquer lugar, garantindo a uma rede de hospitais a qualidade do atendimento ao paciente em qualquer unidade. Além de dar acesso mais rápido às informações, elas surgem de forma mais estruturada e integrada, o que permite ao gestor fazer uso de uma inteligência clínica proativa em vários cenários, como, por exemplo, na sugestão de protocolos clínicos e de novas condutas. A informação chega de forma precisa a quem faz o atendimento do paciente, evitando troca de medicamentos e qualquer outro problema relacionado. O sistema, também, emite alertas no caso de prescrição de drogas às quais a pessoa seja alérgica, segundo seu histórico médico, ou que gerem, quando combinadas, interação medicamentosa. E esses são apenas alguns exemplos.
Além disso, dentro do Hospital Digital os processos ganham inteligência e ficam interligados. Por exemplo, o sistema pode estar lendo o dado de sistema de laboratório de outro fornecedor e alertar sobre a existência de uma resistência no Centro de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) ou alertar sobre uma possível adoção de protocolo clínico. Isso permite o cruzamento seguro e rápido de informações, gerando alertas para a equipe assistencial e garantindo que os profissionais sigam os passos dos processos determinados pela instituição.
Além disso, tudo é registrado no sistema. Nenhuma informação se perde.
Esse é o ponto de virada proposto pelo Hospital Digital: digitalização de todos os procedimentos e processos, integração de informações e parametrização baseada em protocolos, melhores práticas e medicina por evidência com foco em segurança ao paciente. Esse conjunto de melhorias reforça o objetivo pelo qual todas as entidades de saúde nasceram: ser um ambiente de onde as pessoas saem curadas, e não um local no qual a falta de controle gera mortes que poderiam ser evitadas.
No fim das contas, o ambiente hospitalar digitalizado vem para resolver uma demanda já latente: a de prover a infraestrutura necessária, hoje, para construir uma sociedade futura voltada ao cuidado e bem-estar das pessoas. Porque a “sociedade do cuidar”, que tanto almejamos, anda de mãos dadas com o Hospital Digital.
* Paulo Magnus – Com o compromisso de tornar a gestão da Saúde mais eficiente e humanizada, fundou a MV há mais de 30 anos. Por meio do desenvolvimento de tecnologias da informação e da inserção de soluções de gestão na rotina de profissionais e gestores de Saúde, o executivo vem contribuindo para promover mais qualidade nos serviços prestados em hospitais, clínicas, centros de diagnóstico por imagem, unidades de saúde pública e operadoras de planos de saúde não só do Brasil, mas também de países da América Latina e África.
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