Sem categoria | 27 de julho de 2016

Análises Clínicas: Pensar o Futuro, por Irineu Grinberg

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Vale a pena refletir e pensarmos juntos.

Como podemos enxergar o futuro dos pequenos e médios laboratórios de análises clínicas em relação a tudo que vem ocorrendo?

Para que sejam criadas algumas linhas de raciocínio é importante citar algumas ocorrências remotas e recentes, fundamentais a todas as linhas de raciocínio:

1 Tabelas públicas, leia-se SUS congeladas há de 22 anos

2 Políticas agressivas ou verticalizadas por parte de várias operadoras

3 Tributos crescentes e cada vez mais extorsivos

4 Onerações das folhas de pagamento

5 Exigências regulatórias da ANVISA e das VISAS (vigilâncias sanitárias) municipais e estaduais visando ao incremento da qualidade. Tudo muito bom e necessário, entretanto, incompatíveis com a rentabilidade atual dos estabelecimentos laboratoriais. 

6 Procedimentos ou analitos (qualquer constituinte do sangue ou da urina passiveis de serem dosados ou pesquisados) totalmente deficitários onde não existe nenhuma alternativa que não passe pelo envio dos materiais aos laboratórios de apoio, na sua maioria concorrentes diretos dos pequenos e médios laboratórios. 

7 Pressões também justificáveis dos nossos pacientes clientes por eficiência, rapidez e avançadas tecnologias. Afinal de contas, quem necessita de laboratório está doente, acredita que está ou vivenciando um momento psicoemocional difícil. Portanto merecem toda a atenção em segurança, acolhimento e assistência. 

8 Rápida obsolescência dos equipamentos, algumas vezes, apenas por pressão dos nossos fornecedores. Nesta mesma linha, quem pode mais, obtém maiores vantagens, veja-se todas as experiências antigas e atuais de compras unificadas. 

9 O incremento de novas e avançadas tecnologias, e neste capítulo é válido relembrar o muito recente episódio da Theranos, que apesar de não ter dado certo, durante algum tempo revolucionou o mercado laboratorial nos Estados Unidos.

Foram citados apenas nove itens que isoladamente podem tirar o sono de qualquer proprietário ou administrador de laboratórios de análises clínicas. Evidentemente existem outros temas pontuais, de cada empresa, tais como aluguéis, linhas de financiamento, passivos trabalhistas e outros.

Diante ao exposto, apenas uma décima situação nos é favorável:

Os procedimentos laboratoriais são os responsáveis por 70% dos diagnósticos clínicos e por 90% dos critérios terapêuticos ou de cura ou alta hospitalar. Isto também é do mais amplo conhecimento de todos, portanto o suficiente para garantir a perenidade do Laboratório como instituição.

Portanto, não existem dúvidas de que os exames laboratoriais perdurarão, que a aplicabilidade será para sempre, cada vez mais necessária e que medicina de qualidade andará sempre ao lado do Laboratório de boa resolutividade.

Outro dado fundamental é que os pequenos e médios laboratórios executam metade da demanda dos testes laboratoriais no país e se considerado o que for remetido aos estabelecimentos de apoio, este percentual será modificado para 70%.

Os laboratórios de análises clínicas constituem um campo inesgotável de trabalho, cada vez mais necessário e crescente.

Entretanto, o modelo atual de trabalho, em função do acima citado onde foram descritas apenas algumas das variáveis nefastas, necessita ser repensado.

Com urgência. Sem perda de tempo.

Soluções existem. Estão em nossas mãos. Devemos pensar juntos em inovações técnicas, gerenciais e de mercado que possam amenizar a crise, restabelecendo lucratividade, a credibilidade e procurando baratear os gastos em saúde, uma das maiores queixas dos administradores públicos e privados.

No 43° Congresso Brasileiro de Análises Clínicas realizado em junho último em São Paulo ocorreu a segunda edição do Fórum de Proprietários de Laboratórios que teve por pautas principais, em parceria da SBAC com o Departamento de Laboratórios da Confederação Nacional da Saúde a ação judicial, a nível nacional, de desequilíbrio econômico contra a tabela SUS, a implantação de novas e modernas metodologias compatíveis com laboratórios de pequenos e médios portes, revisão da RDC 302 da ANVISA e realização de exames laboratoriais em farmácias.

Dos 780 proprietários de laboratórios inscritos no Congresso, apenas 80 estiveram presentes, um indicador inequívoco de desinteresse pelo futuro.

É absolutamente certo de que a solução não passa pelo individualismo.

Irineu Grinberg

Farmacêutico formado pela UFRGS, com especializações em Microbiologia Alimentar e em Análises Clínicas. Presidiu por 14 anos a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC). Membro do Departamento de Laboratórios da CNS. Diretor do Laboratório Lafont.

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