Será que o modelo de remuneração vai mudar? (parte 1)
Embora os já antigos vaticínios de que o “Fee For Service” vai desaparecer do cenário como modelo de remuneração na saúde suplementar, acrescido das críticas crescentes quanto aos seus princípios erráticos, é ele que continua a subir no palco dos grandes debates, sempre vivo, tão presente como uma figura mítica.
As razões para tantas críticas estão vinculadas na sua essência, no seu conceito maior, onde os critérios de pagamento privilegiam o mau desempenho dos serviços de saúde, isto é, a eficiência assistencial, tampouco a qualidade da assistência não são fatores considerados para fins de remuneração dos serviços.
Com tamanha distorção, porque o “fee for service“ continua a ser o modelo de remuneração utilizado?
Seria porque não temos mostrado competência para propor um novo modelo disruptivo? Seria porque apesar das críticas, nem prestadores e nem operadoras estão dispostas a abrirem mão daquilo que já dominam? Talvez possa ser pela falta de capacidade de articulação entre os interesses dos “players“ ou pela total falta de confiança?
Só para lembrar, o “fee for service” ainda é o modelo de remuneração mais utilizado no mundo.
Quando colocamos este debate no atual cenário da saúde suplementar brasileira os depoimentos estão firmes no sentido de reconhecer que todos estão descontentes, mas as iniciativas de mudar são tímidas e as resistências são ecoadas dentro das próprias instituições que dizem querer mudar. Mais uma vez estamos diante de muitos diagnósticos e pouca terapêutica.
Mas será que o Sistema de Remuneração, desta vez, vai mudar?
A verdade é que no cenário atual, desta vez, parece que vamos ter novidades e, em algum momento, provavelmente no curto e médio prazo, os prestadores de serviços deverão ter os estudos e as informações necessárias para entrar em um processo de negociação através de novos modelos de remuneração. Sem querer defender este ou aquele, estamos caminhando para modelos onde o desempenho assistencial, a eficiência institucional e a entrega de valor para os pacientes será valorizado. É preciso perceber que para isto precisamos de um novo modelo assistencial onde o ponto central esteja focado na ênfase do cuidado com os pacientes. Além deste novo modelo, dominar outras metodologias de apuração de resultados assistenciais, ter a apuração real dos custos e da margem de contribuição por diagnósticos e por procedimentos será definitivo.
Necessário também será o aprendizado de como envolver e motivar os médicos nestes novos modelos.
A falta de conhecimento destas informações expõe as instituições aos riscos naturais que estão escondidos em um novo modelo, ainda que este possa ser melhor que o atual.
Portanto, resistam às pressões de simplesmente empacotar procedimentos baseados em valores propostos que não guardam relação com os custo reais e coloquem a mão na massa, porque se até aqui não tivemos mudanças significativas é preciso lembrar que a cada ano que passa ficamos mais perto das inovações que virão.
Nas próximas crônicas vou continuar neste assunto, escrevendo sobre os modelos possíveis e trazendo experiências em andamento, mas já adianto que estamos caminhando para modelos que projetam o uso ostensivo de preços previsíveis.
Até lá, sem antes lembrar que quem trabalha com o SUS já passou por esta experiência na década de 80.
Fiquem atentos.
O modelo de remuneração tipo “fee for service” – o mais simples, direto e predominante em todas as áreas de negócio no mundo – continuará para determinadas condições, mas progressivamente outras formas de pagamento dos cuidados de saúde serão incorporadas, até porque há uma variedade de formas de cuidados de saúde. A morosidade, entretanto, decorre do grau de complexidade do conhecimento envolvido para efetuar essas atualizações.