Mundo, Tecnologia e Inovação | 22 de setembro de 2015

Proteína com colágeno utilizada para regenerar coração de infartados

Cientistas acreditam que poderão utilizar estes 'curativos' no futuro
Proteína com colágeno utilizada para regenerar coração de infartados1

Um grupo de cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Stanford (EUA), conseguiu regenerar tecidos cardíacos danificados em animais que haviam sofrido infarto. Até hoje, nenhum procedimento médico havia sido capaz de restaurar cicatrizes em tecidos cardíacos de mamíferos.

Além do risco de morte, um ataque cardíaco pode causar danos permanentes para o órgão, em forma de cicatriz, o que afeta a sua capacidade de bombear sangue. Cientistas de todo o mundo buscam solução para este problema, através de métodos usando hidrogel, células-tronco, entre outros. O feito foi alcançado pela equipe de Stanford através da introdução de uma espécie de curativo de colágeno “colado” no órgão, a partir de bioengenharia.

Os pesquisadores desenvolveram um “remendo” com proteína, que restaura corações de animais quase à função normal. O trabalho da equipe liderada pela professora Pilar Ruiz-Lozano, foi guiado por pesquisas anteriores, que indicavam que a camada externa do coração (epicárdio) pode ser responsável pela produção dos compostos que regeneram o músculo cardíaco em peixes.

Ao estudar as células do epicárdio, a equipe foi capaz de fazer com que células musculares do coração já existentes (cardiomiócitos) se multiplicassem. Os pesquisadores procuraram, então, determinar se um único composto pode conduzir o processo.

Utilizando espectrometria de massa (técnica analítica física para detectar e identificar moléculas por meio da medição da sua massa  e da caracterização de sua estrutura química), a equipe descobriu mais de 300 proteínas como possivelmente eficazes. Uma vez que identificaram a Folistatina Tipo 1 como a proteína ideal para o experimento,foi desenvolvido o remendo terapêutico feita a partir de colágeno.

O produto foi concebido para ter a mesma elasticidade do tecido do coração fetal e, gradualmente, liberar a proteína ao longo do tempo. Ao testar em corações de ratos e porcos corações que sofreram de ataques cardíacos, verificou-se a regeneração do tecido.

Em suínos que tinham sofrido um ataque cardíaco, o sangue bombeado para fora do ventrículo esquerdo foi reduzido de 50% do normal para 30%. Mas ao aplicar cirurgicamente o adesivo sobre a superfície do coração, em uma semana houve melhora de 40%, e permaneceu estável. O adesivo também reduziu consideravelmente a cicatrização do tecido do coração.

Em um ataque de coração, as células do músculo cardíaco, cardiomiócitos, morrem devido à falta de fluxo de sangue. Substituir essas células é vital para que o órgão se recupere totalmente, entretanto, o coração dos mamíferos adultos não se regenera de forma eficaz, fazendo com que fique uma cicatriz no tecido. Se for possível, como espera Pilar Ruiz-Lozano, ao restaurar completamente o tecido cardíaco dessas pessoas, elas poderão voltar a ter a qualidade de vida de antes do infarto.

Muitos indivíduos que desenvolvem insuficiência cardíaca acabam sendo afetados por arritmia, o que pode levá-los à morte. Cerca de 200 mil pessoas morrem de arritmia no Brasil, a cada ano. E mesmo os que não são acometidos por esse mal sofrem em outros aspectos, como perda de fôlego e resistência física.

A equipe da Escola de Medicina da Universidade de Stanford espera iniciar os ensaios clínicos em humanos em 2017.

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