Exemplos de gestão e liderança no debate sobre inovações em saúde
Painel de discussão com lideranças em gestão finalizou o Tendências e Inovações em SaúdeUm painel de discussão finalizou o Seminários de Gestão: Tendências e Inovações em Saúde, evento da Fehosul e do Sindihospa realizado no dia 30 de novembro no Plaza São Rafael. Coordenado pelo médico baiano Marcelo Britto (Presidente da Febase e Vice-Presidente da CNS), a atividade Tendências e Inovações da Gestão em Saúde teve como palestrantes Alceu Alves da Silva (Diretor Geral do Sistema de Saúde Mãe de Deus/RS), Fernando Andreatta Torelly (Diretor-Executivo do Hospital Sírio-Libanês/SP) e Mohamed Parrini (Superintendente Executivo do Hospital Moinhos de Vento/RS).
Fernando Torelly
O primeiro painelista começou sua exposição afirmando que a geração que está hoje no comando dos principais hospitais do Brasil, vive um momento importante. “Temos operadoras reclamando com alta sinistralidade, hospitais com baixa margem econômica, empresas reclamando do repasses dos custos dos seus planos de saúde, médicos reclamando de baixos honorários, e os pacientes reclamando da dificuldade de acesso a consultas e ao atendimento de emergência; e que esperam muitas horas mesmo nos melhores hospitais. O ‘lado bom´é que podemos mudar”, salientou Torelly.
Torelly também mencionou que nos últimos anos ocorreu no país um momento econômico de crescimento com ganhos sociais efetivos, aumento de beneficiários de planos de saúde e abertura do mercado para o capital estrangeiro (no ramo hospitalar).
A entrada de capital estrangeiro, segundo Torelly, deverá influenciar a necessidade de modificação da estrutura de gestão do segmento. O que se traduzirá em melhores práticas de gestão; formação de redes e grupos hospitalares (com ganhos de escala); mudanças nas zonas de competição e colaboração entre Hospitais; incentivo à melhoria da qualidade na prestação de serviços ao cidadão.
“Uma inovação que considero importante é a mudança da matriz competitiva do segmento hospitalar”. Segundo Torelly, parcerias entre hospitais ajudam a criar novas soluções para problemas que se repetem em diferentes instituições. “Precisamos trabalhar com um sentido de rede, um relacionamento forte, montar grupos para negociar melhor com fornecedores”.
Algumas áreas precisam ser incentivadas como focos de inovação: o modelo de Cuidado da Saúde Corporativa; Experiência do Paciente; Modelos de Governança; e na Parceria Público/Privada, defendeu o executivo.
Um dos exemplos trazidos por Torelly, baseado na prática do hospital Sírio-Libanês, é a mudança na forma de se entender a conquista de resultados com foco na experiência do paciente. “Ninguém recebe gratificação por [alcance] de resultado financeiro. As metas são somente a satisfação do paciente e as acreditações [certificações de qualidade]. Não se premia o êxito financeiro. A premiação é coletiva, não individual. Quem atende mal prejudica todos do hospital”.
Torelly demonstrou alguns programas desenvolvidos para o engajar funcionários, como o ELO, que utiliza o slogan “encantar também é forma de cuidar ”. O modelo prioriza o índice de satisfação do paciente e a manutenção dos níveis de excelência nas acreditações internacionais Joint Commission e Canadense.
O crescimento do Hospital Sírio-Libanês, esperado para 2016, é de incríveis 17,7% em relação ao ano anterior “Aumentamos nosso resultado ao longo dos anos, mantendo nosso índice de recomendação [Net Promoter Score, NPS*] acima da meta”, apresentou.
* NPS é uma métrica que ajuda a mensurar o grau de satisfação e fidelidade dos consumidores.
Ao encerrar sua intervenção, Torelly disse que “os conceitos que trabalhamos hoje é o de um avião intercontinental. Tem a classe executiva e a econômica, mas é o mesmo avião. Temos que cuidar de todos, e hoje não é assim no sistema de saúde brasileiro”.
Mohamed Parrini
O Superintendente Executivo do Hospital Moinhos de Vento iniciou sua participação refletindo sobre como uma instituição deve pensar na hora de inovar. “Se estamos na dúvida do que estamos fazendo, é preciso olhar a missão da entidade. A nossa é Cuidar de Vidas afirmando nosso compromisso com a qualidade médico assistencial e a segurança do paciente”.
“O papel do Moinhos é irradiar conhecimento das práticas médicas para outras instituições. Tem tradição e é obsessivo com a qualidade e processos eficientes”.
Parrini apresentou um resumo dos Ciclos Estratégicos do Moinhos ao longo dos últimos anos, com conceitos apresentados a partir de referências do mundo executivo. Mapas Estratégicos, publicação de Norton e Kaplan; assim com Execução Premium, dos mesmos autores; foram importantes para a definição e consolidação do planejamento estratégico entre os anos 2006 e 2009. Após, a instituição entrou em uma fase mais “criativa e participativa”, onde disseminou os seus valores (interna e externamente) e abriu amplo espaço para “cocriação.” Parrini citou A Empresa Cocriativa, de Venkat Ramaswamy (um dos criadores do termo “cocriação” com C.K. Prahalad) e Francis Gouillart. Nesta fase, foram desenvolvidas atividades com colaboradores, fornecedores, operadoras, corpo clínico, pacientes e familiares, entre outros. O ciclo atual (2013-2016) está baseado em manter a estratégia de gestão, como inclusão dos fornecedores nos grupos de co-criação e atualização do posicionamento estratégico e do desdobramento da estratégia. A referência apresentada por Parrini, foi Alinhamento, de Kaplan e Norton, que utiliza o sistema de gestão do Balanced Scorecard.
Ele revelou que o hospital tem diversos projetos para a gestão 2017/2021, na qual “seremos bastante audaciosos. Estamos agora desenhando o ciclo”.
Sobre o futuro, Parrini diz que “estamos focados na organização exponencial, olhando as rupturas que podem ocorrer no segmento. Queremos nos consolidar como instituição de saúde, e para isso devemos discutir o que está acontecendo. O táxi está acabando, os hotéis se preocupam com o Airbnb [aplicativo de aluguel de acomodações). E nosso setor, seguirá o mesmo? Como vai ficar? Hoje o paciente reinterna e o hospital ganha mais dinheiro, é estranho”.
“Temos que discutir a desospitalização, precisamos ser neuróticos com a segurança do paciente. Não sabemos o futuro, mas temos que tentar descobrir, sempre cuidando os detalhes. Não acho que é somente falta de dinheiro, temos que ser metódicos e obsessivos, no que fazemos”.
Alceu Alves da Silva
Alceu Alves da Silva, do Sistema de Saúde Mãe de Deus, realizou a última intervenção prevista do painel. De início, ele chamou a atenção para o aumento de idosos. “Somos um Estado que envelhece muito rápido. Para cada 100 jovens (até 15 anos) temos 69 idosos. A saúde muda conforme a mudança demográfica e epidemiológica”. Sempre bem humorado, Alceu destacou que “ temos expectativa de vida de 81 anos, e até 2050, homens devem viver mais de 100 anos e as mulheres não morrerão mais”, brincou.
Alceu prevê um cenário que vai forçar ainda mais a inovação na saúde. “De forma interna temos que cuidar da segurança do paciente, a variabilidade da prática médica. Muitas mudanças nos custos têm interesse comercial. O aumento dos gastos é uma pressão constante, temos que reduzir e fazer receita para lucrar. Isso não é ruim, é necessário para manter as instituições perenes, com condição de trabalho ético e qualificado para o paciente”.
“Não descuidem dos processos internos, com o corpo clínico, nos estudos de capacidade de investimento. Temos que melhorar muito e também acompanhar as inovações pelo mundo”, recomendou Alceu, que também é professor da Fasaúde/IAHCS.
O “desafio tecnológico é outro cenário que nos empurra para a inovação. A reforma sanitária é um assunto árido. Faz mais de 25 anos que houve a reforma sanitária e ainda se discute as mesmas coisas, como se o mundo não tivesse mudado”, alfinetou Alceu.
“A população brasileira não aguenta mais, o acesso à saúde é terrível, o governo sabe que precisa ampliar o atendimento, mas isso vai aumentar gastos, em época de crise fiscal. A questão requer mais participação do setor privado no cumprimento da missão de instituições públicas”.
Referindo-se ao mercado da saúde suplementar, seus dilemas e desafios, Alceu diz entender que ” hospitais e operadoras vivem com uma visão míope. A operadora não vê resultados, ela entra na gestão do hospital. Existem regras acordadas, mas se não é como a operadora exige, fica cobrando. Temos um custo enorme nisso, perdemos dinheiro ao não mudar a visão”, criticou o dirigente do Mãe de Deus.
“Porto Alegre tem cobertura de 50% de sua população com plano de saúde. Acima da média nacional que é de 25%, e da região metropolitana de Porto Alegre, com 33%”, demonstrou Alceu, reforçando a importância do mercado gaúcho e a necessidade de se reinventar para melhorar a relação com as operadoras.
“Não há dúvida de que o sistema de remuneração vai mudar. Se não tivermos propostas concretas, um dia terá uma Portaria da ANS dizendo como deve ser, e vamos ficar tristes. Temos que trazer toda a tecnologia que falamos nesse seminário, para a relação com o cliente. O cliente não vai mais no local marcar consulta, ver exame, é tudo no celular, e temos que estar atentos para saber como falar com esse paciente”.
Questões como a busca por um novo perfil médico, ampliação da atuação dos hospitais privados e disseminação de suas práticas/conhecimento no setor público, produtividade com aumento do uso da tecnologia, ética e sustentabilidade também foram assuntos abordados. “Na crise, todos estes assuntos se tornam prioridade, exigindo esforço e capacidade analítica de cada instituição”.
“A discussão de processos só tem sentido se todos estiverem cumprindo seus papeis. Mas a essência do que a gente faz precisa estar centrada no atendimento qualificado dos pacientes”, foi a última lição deixada por Alceu.
Marcelo Britto coordenou os debates na parte final das apresentações, destacando “o conteúdo de alto nível abordado por Torelly, Parrini e Alceu, assim como os demais conferencistas do dia. A Fehosul e o Sindihospa estão de parabéns”, finalizou.