Estratégias do HCPA durante a pandemia são destaque em revista internacional
Artigo publicado na NEJM Catalyst detalha as iniciativas implementadas para possibilitar que a Enfermaria Covid atendesse pacientes críticosA conceituada revista de gestão em saúde NEJM Catalyst (New England Journal of Medicine – Catalyst Innovations in Care Delivery) publicou artigo produzido pela equipe do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), relatando as estratégias adotadas pela instituição para mitigar a disponibilidade limitada de leitos de UTI durante a pandemia.
O HCPA aumentou o número de leitos críticos, chegando a dedicar 135 exclusivamente para a doença. Ainda assim, segundo o Hospital, as admissões ultrapassaram a capacidade operacional e os pacientes críticos tiveram que ser tratados fora da UTI. A equipe da enfermaria, em sintonia com outras lideranças do hospital, desenvolveu um modelo flexível capaz de expandir e reduzir, de acordo com a necessidade, a capacidade de atendimento. Foram implementadas melhorias no monitoramento dos pacientes, na comunicação entre setores, treinamento e consultoria em suporte ventilatório não invasivo e integração assistencial.
Confira algumas estratégias adotadas:
Gerenciamento de leitos
Diariamente, um representante do comitê interno de gerenciamento de leitos e do serviço social discute pessoalmente com as equipes médicas da Covid-19 a possibilidade de dar alta aos pacientes do hospital, transferir pacientes para hospitais de cuidados pós-agudos e monitorar a necessidade de Cuidados na UTI.
Covid-19 Ward Huddle
O artigo detalha uma das estratégicas adotadas para garantir a continuidade do atendimento aos pacientes internados 24 horas por dia, 7 dias por semana. Para possibilitar uma melhor integração das equipes da noite e do dia, foi instituída uma escala de 24 horas com momentos para a atualização das informações, com uma rotina denominada “Covid-19 Ward Huddle”. Realizada 30 minutos antes do início do turno noturno, às 18h, o objetivo é indicar para a equipe da noite quais pacientes apresentavam maior risco de piora clínica, alertando fisioterapeutas, médicos e enfermeiros. Na parte da manhã, mais um briefing matinal é feito (às 8h), atualizando detalhes do turno para a nova equipe. Entre estes momentos, há ocasiões para a equipe discutir com grupos de monitoramento quais pacientes precisam de ventilação mecânica (equipe de ventilação) e quais têm possibilidade de receber alta ou serem transferidos (equipe de serviço social e gerenciamento de leitos).
Equipe especializada de apoio em ventilação
Entre as melhorias específicas, foi instituída uma equipe especializada de apoio em ventilação, responsável por transmitir conhecimentos para as equipes médicas. “Instituímos a co-gestão médica com uma equipe de pneumologistas especializados em suporte ventilatório não invasivo. No início da pandemia, esse grupo de pneumologistas foi realocado para ajudar as equipes das enfermarias com seus conhecimentos”, dizem os autores em trecho do artigo. A equipe auxiliou na avaliação dos pacientes que necessitavam desse tipo de terapia, orientando sobre indicação, definição de parâmetros, ajuste e retirada.
Aumento da equipe de fisioterapeutas
Para atender à demanda, fisioterapeutas de outras áreas foram realocados para as enfermarias da Covid-19. Além disso, a instituição hospitalar teve que contratar mais fisioterapeutas. No início, as equipes de fisioterapeutas da Covid-19 trabalhavam em turnos de 6 horas, cobrindo o período das 8h às 23h. Posteriormente, o turno foi ampliado para cobrir o período das 8h à 01h.
Entre ações gerais e específicas, o artigo detalha ainda as barreiras enfrentadas – e como foram solucionadas – e resultados clínicos como taxa de mortalidade, considerada baixa se comparada a indicadores obtidos em comparação a outros centros de assistência em saúde.
O Chefe do Serviço de Medicina Interna, professor José Miguel Dora, ressalta que o resultado é um trabalho de muitos, feito para outros tantos. A atuação integrada interdisciplinar, a mobilização de equipamentos de outras áreas, além da contratação de mais profissionais foram fatores decisivos no processo.
Além de José Miguel Dora, o artigo How a Brazilian Hospital Developed a Covid-19 Ward System to Mitigate Limited ICU Availability é assinado por Mariana Rangel-Ribeiro Falcetta e Dimitris Varvaki Rados.
Leia o artigo completo (em Inglês).